Mundo
Coronavírus mata oito vezes mais na Itália do que na Coreia do Sul
A quantidade de idosos em cada país está entre os fatores que explicam a diferença na letalidade do coronavírus
Dois dos países com mais casos de coronavírus depois da China apresentam taxas de mortalidade discrepantes. A letalidade da doença na Itália é mais de 8 vezes a observada na Coreia do Sul. Enquanto no país europeu já morreram 6,21% das pessoas confirmadas com a covid-19, no asiático a porcentagem de óbitos foi de 0,7%, segundo dados divulgados pelos departamentos de saúde dos dois países.
Fatores como a quantidade de idosos no país – a Itália tem uma população mais envelhecida do que a Coreia – e a estrutura dos sistemas de identificação de novos casos e assistência aos doentes ajudam a explicar a diferença entre os dois países. A disparidade indica que a taxa real de mortalidade pelo novo coronavírus pode ser menor do que a que vem sendo observada até o momento, de 3,5%. Desde os primeiros relatos, em dezembro, a covid-19 contaminou 117.356 pessoas em 107 países, com 4.252 mortes.
Na Coreia, o governo fez testagem em massa da população, identificando e somando casos assintomáticos. Após o país identificar o crescimento de casos relacionados a um culto religioso, pelo menos 200 mil pessoas foram testadas. “A vantagem de um teste em massa é que ele identifica tanto os casos graves quanto os brandos e até os assintomáticos. Isso aumenta muito o número de identificações. Mas se é feito somente o teste em quem busca o atendimento médico, o dado pode ficar enviesado, porque provavelmente só vai identificar os casos médios e graves, justamente onde a chance de evoluir a óbito é maior”, explica Marcelo Gomes, pesquisador em saúde pública do Programa de Computação Científica da Fiocruz. Estima-se que isso é que tenha ocorrido na Itália.
A Coreia começou a ter registros pouco depois do início da epidemia na China. O primeiro relato de um caso foi feito em 20 de janeiro. O pico de casos novos em 24 horas ocorreu em 29 de fevereiro – com 909 registros – e nesta terça-feira, 10, foi de apenas 131. Assim como ocorre com a China, os novos casos vêm caindo e a epidemia começa a se estabilizar. Até terça, eram 7.513 casos confirmados e 54 mortes.
Na Itália, o surto teve início no carnaval e o número de casos subiu rapidamente – e continua em alta. Até terça eram 10.149 casos com 631 mortes. “O perfil etário da população é importante porque a letalidade é significativamente mais alta na população idosa”, explica Gomes.
“Uma hipótese é que só tenhamos o diagnóstico das pessoas que vão procurar o hospital e que já estão mal, o que diminui o denominador de quantos casos de fato existem. A taxa de mortalidade fica alta, porque o número de casos é só dos mais severos”, afirma a pesquisadora brasileira Rafaela da Rosa Ribeiro, que está colaborando com o grupo de Elisa Vicenzi, especialista em vírus do Ospedale San Raffaele, hospital universitário de Milão.
Segundo relatório da Organização Mundial da Saúde (OMS), entre chineses infectados acima de 80 anos, a mortalidade pela doença chegou a 21,9%. Na Itália, 22% da população tem mais de 65 anos – o país tem a população mais velha da União Europeia. Na Coreia a faixa etária responde por 14%.
A estimativa é que quando a situação se estabilizar no mundo, talvez a taxa de mortalidade fique mais parecida com a apresentada na Coreia – próxima de 1%. “Em novos surtos, é normal começar detectando os casos mais graves, então no início a taxa de letalidade é mais alta. Mas os dados indicam que a covid-19 vai acabar se mostrando uma gripe forte, com mortalidade maior que a da H1N1, que foi de 0,5%”, diz Gomes.
Como na Itália o número de casos cresceu muito rapidamente, houve sobrecarga do sistema, o que também pode estar afetando a taxa de letalidade. Nos casos mais graves, o tempo de internação pode ser de quatro a seis semanas, de modo que não há vaga para todos que chegam doentes. Relatos da imprensa local apontam para a falta de respiradores.
Lições para o Brasil
“A impressão que se tem é de que a vigilância da Coreia talvez estivesse mais bem preparada. E se tem um bom atendimento para as pessoas infectadas, a mortalidade é menor. Na Itália, como já nos primeiros casos identificados houve mortes, isso sugere que a vigilância tem baixa sensibilidade”, diz o epidemiologista Eliseu Waldman, da Faculdade de Saúde Pública da USP. Para ele, o sistema de saúde italiano entrou em colapso, e parte dessa alta mortalidade pode se dever às condições adversas no atendimento.
Os pesquisadores opinam ainda que os dois quadros trazem algumas pistas sobre o que precisa ser feito. Uma vigilância atenta, que monitore o vírus desde o início, pode ajudar a impedir a transmissão, mas é recomendável adotar medidas que diminuam aglomerações. “Mesmo que não se consiga completamente bloquear a transmissão ou impedir a invasão no Brasil, é fundamental que se consiga diminuir a velocidade de transmissão. Isso tem impacto na habilidade do sistema de saúde de tratar de forma adequada os pacientes e evitar os óbitos”, complementa Gomes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
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Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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