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Conflito de longo prazo na Ucrânia pode dividir OTAN, diz especialista

Autoridades ocidentais confirmam que seu planejamento para o conflito na Ucrânia é de longo prazo. A Sputnik explica quem sai ganhando com o prolongamento da crise no Leste Europeu.

© AFP 2022 / Gints Ivuskans

Nesta terça-feira (19), o ministro da Defesa da Rússia, Sergei Shoigu, declarou que os países ocidentais têm interesse em prolongar o conflito na Ucrânia “ao máximo” e exercem pressão para que as autoridades de Kiev evitem a assinatura de um acordo de paz.
“Os EUA e os países ocidentais sob o seu controle estão fazendo todo o possível para prolongar ao máximo a operação militar especial. Os volumes cada vez maiores de entregas de armas estrangeiras demonstram claramente as suas intenções de incitar o regime de Kiev a lutar ‘até o último ucraniano'”, disse o ministro russo.
As declarações de Shoigu vêm após uma mudança na retórica ocidental em relação ao conflito ucraniano. Se no início da operação militar especial russa os EUA e seus aliados pediam a retirada das tropas de Moscou, agora o foco é no fornecimento de armas e treinamento para que as Forças Armadas ucranianas continuem lutando.
Desde o início de abril, autoridades reconhecem que o planejamento ocidental na Ucrânia é de longo prazo. O comandante do Estado-Maior Conjunto dos EUA, Mark Milley, disse acreditar que “este conflito será medido em anos. Não sei se em décadas, mas em anos com certeza”.
Na mesma toada, o secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), Jens Stoltenberg, alertou que “devemos ser realistas e perceber que isso vai durar muito tempo”.
Jens Stoltenberg, secretário-geral da OTAN discursa durante encontro com ministros da Suécia e Finlândia - Sputnik Brasil, 1920, 21.04.2022
Jens Stoltenberg, secretário-geral da OTAN discursa durante encontro com ministros da Suécia e Finlândia
Recentemente, os EUA confirmaram mais US$ 800 milhões (cerca de R$ 3,5 bilhões) em ajuda militar a Kiev, incluindo o fornecimento de armamentos pesados. Além disso, o presidente norte-americano Joe Biden aumentou o uso das reservas estratégicas de petróleo dos EUA em um milhão de barris por dia para os próximos seis meses.
No entanto, o professor de geopolítica da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Antonio Gelis Filho, lembra que não está claro se “o Ocidente realmente tem interesse em prolongar o conflito, ou se a situação simplesmente saiu de controle”.
“Algumas lideranças do Partido Democrata [dos EUA] imaginam poder criar uma situação semelhante à do Afeganistão na Ucrânia, tornando a situação não administrável para a Rússia. Hillary Clinton foi explícita em relação a isso”, disse Gelis Filho.
Segundo ele, o prolongamento do conflito forneceria “enorme estímulo à indústria armamentista americana e geraria doações para as campanhas democratas em 2022 e em 2024”.
A situação também seria interessante para atender ao interesse de Washington de “impedir a aproximação entre Rússia e Europa Ocidental, especialmente Alemanha e França”.
O conflito na Ucrânia contribui, até o momento, para o fortalecimento da unidade da aliança militar ocidental. No entanto, uma guerra de longo prazo poderia gerar mais custos econômicos e políticos para os europeus do que para os norte-americanos, gerando atritos entre os aliados da OTAN.
“O candidato da direita radical francesa Éric Zemmour, por exemplo, afirmou […] que ‘os interesses geopolíticos da França não são os mesmos da Polônia’. Como candidato da franja política que era, pôde falar em voz alta o que muitos já deviam falar em voz baixa”, considerou Gelis Filho.
Segundo ele, no entanto, Washington não teria “interesse em mudar a razão de ser da organização, descrita pelo general britânico Hastings Ismay como sendo a de ‘manter os russos fora, os alemães embaixo e os americanos dentro'”.
As demais regiões do globo também sairiam prejudicadas pela quebra na oferta de fertilizantes e trigo de Rússia e Ucrânia, que geram forte pressão sobre a segurança alimentar mundial.
“E pensar, como fez Hillary [Clinton], que a população da Ucrânia estaria disposta a passar dez, vinte anos nas condições em que vivia a população do Afeganistão, parece-me uma fantasia”, considerou Gelis Filho.

Consequências para a Rússia

De acordo com o professor da Universidade Federal Fluminense (UFF) Thomas Ferdinand Heye, um conflito de longa duração fortaleceria a imagem da Rússia como “vilão da arena internacional” e aumentaria o “número de baixas e sofrimento”.
“Neste sentido, o principal desafio da Rússia é se valer de sua superioridade tática e operacional militar para encerrar o conflito o mais rápido possível e com o menor número de vítimas, principalmente civis”, disse Heye.
Gelis Filho, no entanto, lembra que o impacto econômico do conflito tende a pesar cada vez mais sobre os russos, que precisarão de vitórias no campo de batalha para aumentar a tolerância das tropas e da sociedade à situação de conflito.
“Isso será mais grave se a Rússia mantiver a ilusão de que as relações com o Ocidente podem ser normalizadas, deixando-se paralisar”, disse Gelis Filho. “Em minha opinião, a possibilidade de tal normalização é muito pequena.”
Para ele, a crise econômica poderá ser uma oportunidade, caso a Rússia desenvolva sua indústria nacional, invista em alternativas financeiras e convide empresas não ocidentais para se instalar em seu território.
Nesta quinta-feira (21), o presidente da Rússia, Vladimir Putin, declarou que a “blitzkrieg” econômica do Ocidente contra a Rússia teria falhado, uma vez que o sistema financeiro russo opera com estabilidade.
Presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante um evento em 20 de abril de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 21.04.2022
Presidente da Rússia, Vladimir Putin, durante um evento em 20 de abril de 2022
Ao reconhecer que as consequências das sanções econômicas ocidentais podem se agravar no médio e longo prazo, Putin disse que “o Ocidente não entende que o povo russo se une perante circunstâncias difíceis”.

Consequências internacionais

O prolongamento do conflito ucraniano exigirá resposta das principais organizações internacionais, como a Organização das Nações Unidas (ONU) e Organização Mundial do Comércio (OMC), sob pena de comprovar sua alegada ineficiência.
“Uma guerra prolongada […] ressaltaria o descompasso entre a realidade do poder do planeta e a incapacidade das atuais instituições globais […] de evitar e conter os conflitos e suas consequências econômicas e humanas”, disse Gelis Filho.
Por outro lado, Ferdinand aposta que o conflito ucraniano vai “levantar as organizações internacionais de sua letargia”, levando-as a se reformarem e tornarem-se de fato multipolares.
“Acredito que uma guerra de longo prazo despertará a comunidade internacional de sua letargia em relação à necessidade de reformas no sistema ONU e da ordem mundial em geral”, considerou Ferdinand. “Não se trata de uma Guerra Fria 2.1. Trata-se do nascimento de um sistema internacional multipolar.”

Front interno de Biden

O prolongamento do conflito ucraniano terá consequências diretas para a posição do presidente dos EUA, Joe Biden, perante o eleitorado norte-americano.
Recente pesquisa realizada pelo canal NBC mostra que sete em cada dez norte-americanos tem baixa confiança na capacidade de seu presidente de conduzir bem o país durante o período de guerra.
O presidente dos EUA, Joe Biden, participa de uma cerimônia de assinatura após fazer comentários sobre fundos para ajudar a Ucrânia, no South Court Auditorium do Eisenhower Executive Office Building, em Washington, DC, em 16 de março de 2022 - Sputnik Brasil, 1920, 21.04.2022
O presidente dos EUA, Joe Biden, participa de uma cerimônia de assinatura após fazer comentários sobre fundos para ajudar a Ucrânia, no South Court Auditorium do Eisenhower Executive Office Building, em Washington, DC, em 16 de março de 2022
Gelis Filho lembra que “a população norte-americana já dá muitos sinais de estar esgotada com o estado de guerra permanente em que vivem os Estados Unidos”.
Com popularidade em 40%, o futuro político de Joe Biden parece depender cada vez mais do sucesso do Ocidente na guerra na Ucrânia.
De acordo com o jornal norte-americano The Washington Post, senadores republicanos interessados em evitar que o conflito ucraniano traga dividendos políticos ao presidente Biden começam a dificultar a rápida aprovação de medidas de apoio a Kiev.
“Quanto mais tempo durar o conflito, quanto mais sucessos a Rússia acumular, mais a pressão dos republicanos sobre Biden aumentará. E se Biden se revelar um passivo eleitoral muito grande — algo perfeitamente possível — será atacado por democratas também”, concluiu Gelis Filho.

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Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas

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Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”

 

Vista aérea de Tóquio
Getty Images

 

Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.

A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.

A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.

Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.

Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.

A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.

Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.

No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.

O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.

“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.

“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.

Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.

Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.

Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

versão original

 

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Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano

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Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra

 

Polícia desmantela protesto pró-Palestina no Parlamento Australiano
Reuters

 

Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.

Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.

Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.

CNN

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Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

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País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando

 

Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

 

Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.

A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.

Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.

Como funcionam as eleições?

O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.

Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.

Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.

O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.

Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.

O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.

A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.

O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.

Rei Charles recebe Rishi Sunak no Palácio de Buckingham / Reprodução/ Palácio Buckingham

Quem é Keir Starmer?

O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.

Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.

Líder trabalhista Keir Starmer em Blackpool / 3/5/2024 REUTERS/Phil Noble

Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.

O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.

Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.

Quando saíram os resultados?

Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.

Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.

Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.

Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.

De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.

CNN

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