Economia
Com guerra comercial, exportação brasileira é a maior em cinco anos
Até outubro, as exportações já somaram US$ 199,1 bilhões.
A guerra comercial travada entre Estados Unidos e China, cujo desfecho ainda é imprevisível, tem turbinado as exportações brasileiras. A projeção é que as vendas dos produtos nacionais ao exterior encerrem 2018 com o melhor resultado em cinco anos.
Até outubro, as exportações já somaram US$ 199,1 bilhões. Nesse ritmo, a expectativa de analistas é que fechem o ano acima dos R$ 230 bilhões – maior patamar desde 2013. O recorde nas vendas anuais foi em 2011, de US$ 256 bilhões, segundo o Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic).
O aumento das exportações incrementa o número de empregos nos setores envolvidos e, em parte, compensa a lenta recuperação do mercado interno. Além disso, traz mais dólares ao País, melhorando o saldo nas contas externas.
“Há alguns meses, se projetava que as exportações ficariam perto de US$ 218 bilhões. São as commodities, favorecidas pela guerra comercial, que têm ajudado”, diz José Augusto de Castro, da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB).
O governo Trump impôs tarifas e cotas de importação a diversos parceiros, para reduzir o déficit comercial – quando o país compra mais do que vende. Aos chineses, com quem esse déficit é maior, foram impostas taxas sobre importados, para forçar os asiáticos a fazerem concessões. Essa política, retaliada pela China, levou os dois países à guerra comercial.
A briga alterou o fluxo de comércio. As vendas brasileiras de soja para a China foram beneficiadas quando o país asiático impôs tarifas de 25% sobre o grão americano. Os EUA exportavam 40 milhões de toneladas aos chineses; o Brasil, cerca de 50 milhões. Até agosto, as exportações de soja brasileira subiram 20% ante 2017. Além da soja, o Brasil se beneficiou da alta do preço do petróleo.
Os bens manufaturados brasileiros, porém, não têm tido o mesmo desempenho. Enquanto a participação dos bens primários nas exportações subiu quase três pontos porcentuais nos nove primeiros meses do ano, a fatia dos manufaturados nas vendas caiu um ponto.
Entre especialistas, há dúvidas de quanto tempo esse período favorável às exportações vai durar. “A janela é estreita”, diz Lia Valls, da FGV. “Em 2019, com a previsão de alta das tarifas impostas pelos EUA, haverá uma resposta agressiva chinesa, o que levaria a mais protecionismo.”
Michael McDougall, vice-presidente da consultoria americana ED&F Man Capital Markets, tem porém uma visão diferente. “A negociação entre eles (EUA e China) vai demorar. Assim, o Brasil tem oportunidade de exportar mais para a China e deve aproveitar isso ampliando, por exemplo, o plantio de soja, pois levará anos para os chineses diversificarem o fornecimento da oleaginosa”, disse.
‘Vendendo soja ainda embaixo da terra’
Com o cenário favorável à exportação do grão brasileiro, produtores de soja estão ampliando a venda antecipada da safra que ainda está sendo plantada nas principais regiões produtoras do País. Pelo menos a metade da produção futura dos 3 mil hectares que o produtor Silvio Malutta acaba de plantar nas áreas de cultivo da Fazenda Fratelli, em Itapeva (SP), já está vendida. “Estou vendendo a soja que está embaixo da terra, pois, em muitos talhões, as sementes ainda nem brotaram”, diz. Experiente, o produtor já sabe que deve colher em torno de 80 sacas por hectare. “A gente antecipa a venda para recuperar o dinheiro investido no plantio. Para uma parte vendida há três meses, com o dólar mais alto, consegui travar o preço em R$ 81 a saca aqui na fazenda. De lá para cá, o cenário piorou um pouco”, disse.
Malutta não vê só vantagens para a soja brasileira na disputa comercial entre EUA e China. “Num primeiro momento, eu acreditei que essa briga seria interessante para nós, mas agora tenho dúvidas. Os americanos têm condições de vender para a Europa e nós podemos perder parceiros. A China é um grande mercado, mas é ruim ficarmos na dependência de um comprador só”, disse. Ele avalia que os preços da soja chegaram a subir em função da disputa, mas não se sustentaram porque, com menos venda da soja americana, os estoques aumentaram. Na quarta-feira passada, 14, a soja levada ao porto de Santos, livre do frete, estava a R$ 75 a saca.
O produtor Maurício Fernandes Dias, da Fazenda Capituva, em Taquarivaí, já vendeu quase 70% da soja que acabou de plantar. “Aproveitei a subida do dólar, que chegou a R$ 4,30. Nesse momento, as vendas futuras não estão com preço muito bom”, disse. Dias avalia que o impacto da guerra comercial ficou abaixo da expectativa. “Era esperado um preço melhor para a soja este ano. Fechamos a saca a R$ 78 em média, ante a média de R$ 73 no ano passado, porque o dólar subiu em relação ao real.” Ele lembra que os custos de produção também aumentaram.
O produtor é um dos que apostaram num cenário favorável para a soja brasileira motivado também pela expectativa de aumento no consumo mundial do grão. Na região de Itapeva, Dias ampliou a área de soja de 3,8 mil hectares, na safra passada, para 5 mil hectares agora.
A região de Itapeva é a que mais produz soja no Estado de São Paulo. São 196 mil hectares, com produção de 11 milhões de sacas. São Paulo está em oitavo lugar entre os Estados na produção nacional de soja, liderada pelo Mato Grosso. Lá, com 90% da nova safra semeados, os produtores já venderam 35% da produção futura, um volume 3% mais alto que na safra passada, segundo o Instituto Mato-grossense de Economia Aplicada (Imea).
Conforme o Imea, as vendas futuras foram aceleradas entre setembro e outubro, com o dólar mais alto. Isso aconteceu mesmo com o tabelamento do frete rodoviário pelo governo federal, após a greve dos caminhoneiros, em maio, que aumentou o custo para os produtores.
Para Nelson Schreiner Junior, presidente da Nutriceler, empresa que fabrica fertilizantes, a variação recente do preço da soja em função da guerra comercial não foi drástica. “O mercado de commodities é muito vulnerável. É normal que, diante de qualquer fato especulativo, o produtor venda nos momentos de alta”, afirma. “Mas o ganho em produtividade e a redução de custo também são pontos importantes no aumento da rentabilidade.” Junior, que também é produtor, conta que aprendeu com o pai, agricultor experiente, a estratégia de vender parte da produção no mercado futuro e parte só após a colheita. “Ele sempre acertou nos dois tipos de venda”, disse.
Acordo EUA/China
As fazendas da família de Lynn Rohrscheib, em Fairmoun, no Estado de Illinois, tiveram uma boa safra de soja em 2018, mas toda a produção foi parar dentro do espaço de armazenagem da propriedade. “A maioria de nós está tentando estocar o máximo possível. No caso da minha operação, estamos praticamente com toda nossa safra de 2018 de soja estocada, esperando um aumento dos preços para vender”, afirmou. Como presidente da Associação dos Produtores de Soja de Illinois, um dos principais Estados de produção de grãos no país, Lynn afirma que há quem esteja em situação pior: “Tem sido um desafio para os que não têm tanto espaço de armazenamento dentro da fazenda”.
Os produtores de soja americanos foram diretamente afetados pela queda de braço entre Washington e Pequim, na guerra comercial encampada pelo presidente Donald Trump. Com esperança de uma saída política, eles estocam a soja confiantes de que o governo americano entrará em um acordo rápido com os chineses que os faça vender a produção estocada.
A China é a maior importadora de soja do mundo, sendo a principal compradora da região de Illinois. Nos Estados Unidos, como um todo, 30% da safra era destinada ao país asiático. Neste ano, contudo, Pequim impôs uma tarifa de 25% em uma lista de produtos americanos – entre eles, a soja, fazendo o preço das sacas cair desde abril. A medida é uma reação às tarifas impostas pelo governo Trump a produtos chineses.
Trump terá um encontro com o presidente da China, Xi Jinping, na Argentina, no fim do mês, antes da cúpula do G-20. A expectativa de produtores americanos é de que os dois cheguem a um consenso para amenizar a situação.
Na sexta-feira, 16, o líder dos EUA disse que o governo chinês não está disposto a fazer um acordo. No dia anterior, o secretário de Comércio americano, Wilbur Ross, havia afirmado que a ideia é discutir apenas a estrutura de um acordo, que só seria finalizado no futuro. Segundo ele, os EUA ainda planejam aumentar tarifas de importação da China e seria “impossível” chegar a um acordo final em janeiro.
“Quando começarmos a ver o preço subir, ainda que pouco, vamos começar a vender. Queremos o espaço de armazenagem vazio até o verão de 2019 (junho)”, diz Lynn. O Departamento de Agricultura dos EUA anunciou em agosto assistência na casa de US$ 3,6 bilhões a produtores de soja afetados pela guerra comercial, parte de um compromisso de US$ 12 bilhões. A intenção, segundo o governo americano, é “ganhar tempo” enquanto Trump negocia “acordos comerciais duradouros”.
Garantias
Mas a luta dos produtores é justamente contra o tempo. O maior medo, hoje, é que o mercado perdido nunca seja recuperado, com a substituição por outros países, como o Brasil. Para Tarso Veloso analista baseado em Chicago da ARC Mercosul, consultoria de commodities com escritórios no Brasil, ainda que os governos cheguem a um acordo não há garantia de que os EUA retomem o espaço no mercado chinês. “No longo prazo outros países passam a fomentar a produção de soja e os americanos vão perdendo esse comércio. Hoje se está estimulando a produção de soja no Brasil, na Argentina e o produtor americano reduz o seu plantio, porque não tem para quem vender”, afirma Veloso. Para ele, os brasileiros foram os maiores ganhadores dessa guerra comercial.
Lynn diz que a sua geração de produtores nunca passou por situação semelhante a essa, mas tem memória de histórias contadas por seu pai sobre “o momento com os russos” – em referência ao embargo de grãos imposto em 1980 por Jimmy Carter à União Soviética e a queda nos preços da produção.
A situação não é só um problema econômico nos EUA, mas político e social. Lynn afirma que os ajustes já começaram e a maioria dos produtores passou a mudar seu perfil de consumo e de serviços, que impulsionam as comunidades locais. “Nós todos estamos buscando maneiras de cortar nossos custos porque não estamos ganhando dinheiro. Não vamos comprar novos equipamentos, estamos tentando resolver as questões por nós mesmos, na fazenda e em casa, e pequenos negócios da comunidade rural ficam prejudicados”, afirmou.
Reportagem do Washington Post com dados de pesquisa do Instituto Brookings aponta que quase 1,6 milhão de pessoas trabalha em indústrias expostas a efeitos da guerra comercial de tarifas com a China – sendo três quartos desse número em produção ligada a alimentos, fazenda ou pesca. Nas áreas rurais dos Estados Unidos segundo o estudo, 1 a cada 33 empregos está exposto ao impacto das tarifas. Nas grandes cidades, o número cai para 1 em cada 200.
A expectativa dos produtores sobre uma solução política reside no fato de que as áreas rurais dão importante suporte ao partido republicano – e a Trump -, mas têm sido castigadas por sua política de comércio exterior. “Aguardamos alguma resolução sobre essas tarifas ou outro tipo de uso para a soja que nos ajude nesses tempos difíceis, com aumento na mistura do biodiesel ou aumentar a produção animal. Um produtor não pode continuar produzindo sem conseguir ganhar dinheiro com sua produção”, afirma Lynn.
“Não há uma alternativa viável a ser implementada imediatamente. O que normalmente acontece é uma gradual substituição de uma produção por outra, mas, neste caso, foi de repente. O que o produtor americano quer é que o governo faça acordo”, afirma o analista da ARC Mercosul.
Soja não responde bem ao armazenamento
A soja não é como o milho. Ela não responde bem ao armazenamento. Se não forem mantidos hipersecos, os grãos umedecem rapidamente e apodrecem, perdendo valor.
“O grão cheira a animal morto na estrada e fica com a consistência de um purê de batata, liso e pastoso”, disse Wayne Humpreys, fazendeiro de Iowa.
Mas Humphreys vem armazenando sua colheita em silos: “Isto dá a você algum controle.”
No caso de alguns agricultores não há outra escolha senão guardar sua colheita. Milhões de bushels (unidade de medida que equivale a cerca de 27 kg de soja) não têm comprador. Os terminais em Portland, porta de saída importante para a China a noroeste do Pacífico, raramente abrem concorrência. Os suprimentos estão obstruindo terminais e elevadores, mesmo com o clima frio e úmido em Dakota do Norte, que deixou muitos hectares de cultivo não colhidos. Os estoques de soja do país mais do que dobraram, somando 955 milhões de bushels no final da colheita deste ano, segundo o Departamento de Agricultura.
Robb Ewoldt, que tem sua plantação desde 1996 em Iowa, vem armazenando sua soja pela primeira vez em 15 anos. Sua safra normalmente segue pelo rio Mississippi em barcos para ser exportada para a China e outros países através do Golfo do México. Este ano a produção foi armazenada em silos.
Illinois, o maior Estado produtor de soja dos EUA é quem mais sofre com a escassez de armazéns, disse Tim Brusnahan, analista da empresa de consultoria e corretagem Brock Associates.
Carne também se beneficia
A guerra comercial entre Estados Unidos e China não beneficiou apenas as exportações de soja. Na carne bovina, o dado mais recente, da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), mostra que a China passou a representar, em outubro, 44,1% das exportações brasileiras – ante 37,1% em igual mês do ano passado. Para a China e Hong Kong foram embarcadas, no mês passado, 585.263 toneladas, ante 448.721 toneladas em igual período de 2017.
No acumulado do ano, até setembro, o avanço é bastante expressivo: embarques 56% maiores de carne bovina para a China, com faturamento adicional de 68%, conforme a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec). Na soja só em outubro, foram 5,04 milhões de toneladas exportadas, 132% mais que no mesmo mês de 2017, com receita de US$ 1,98 bilhão, uma alta em valores de 141%.
“Os exportadores de soja brasileira já levaram uma fortuna com a guerra comercial”, disse o vice-presidente da consultoria americana ED&F Man Capital Markets, Michael McDougall, que participou na terça-feira do Summit Agronegócio 2018. Ele disse acreditar que a guerra comercial está longe do fim por causa do caráter agressivo do presidente americano, Donald Trump. “Em vez de investir em diplomacia, Trump investe em armas, aumentando o orçamento para militares”, observou.
Mas há alguns fatores de risco domésticos que podem estragar esse cenário. Um ponto de atenção é a definição da política externa do novo governo. O setor está atento a atitudes e declarações feitas pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), em relação à China – como a visita que o então presidenciável fez, no início do ano, a Taiwan, considerada uma ilha rebelde por Pequim. No início de novembro, Bolsonaro, já eleito, se encontrou com o embaixador da China no Brasil, Li Jinzhang, para acalmar os ânimos.
Procurada na quarta-feira, 14, a futura ministra da Agricultura, Tereza Cristina, evitou dar declarações sobre os efeitos da guerra comercial EUA-China nas exportações brasileiras. Em entrevista na semana anterior, porém, havia assinalado a importância do diálogo. “O diálogo é fundamental. O presidente tem de dizer claramente qual é a política internacional que ele quer adotar”, disse, na ocasião. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Economia
Carteira de dividendos: veja os papéis mais recomendados para julho
A Petrobras foi a empresa mais indicada pelas instituições financeiras consultadas pela CNN para compor a carteira de melhores pagadoras de dividendos em julho.
O levantamento considerou as avaliações de Santander, Empiricus, XP, Guide, Ativa e BTG Pactual.
Os papéis mais recomendados foram:
- 5 recomendações: Petrobras;
- 4 recomendações: Banco do Brasil, CPFL e Vale;
- 3 recomendações: BB Seguridade, Eletrobras e Itaú.
Após um impasse sobre o pagamento ou não de dividendos extraordinários, o conselho de administração da Petrobras aprovou em abril o repasse de 50% do valor total, referente ao exercício de 2023.
Com a distribuição, a equipe de analistas do Santander avalia manter o peso dos papéis da estatal em sua carteira. Já o BTG, optou por ampliar sua exposição à estatal.
“Embora a companhia esteja sinalizando maiores investimentos, a verdadeira questão para nós é se esse aumento em potencial poderia sacrificar a capacidade da empresa de distribuir dividendos substanciais, e acreditamos que não”, aponta a equipe do BTG em relatório.
Momento de incertezas
O Ibovespa encerrou o pregão de sexta-feira (28), o último de junho, em queda de 0,32% no dia. Apesar de ter acumulado alta de 1,47% no mês, o índice caiu 7,66% no primeiro semestre deste ano.
O que se avalia é que as incertezas se mantém e o mercado seguirá se pautando por elas.
“O cenário local segue girando em torno da dificuldade do governo em convencer o mercado quanto ao seu comprometimento fiscal”, aponta a Ativa Investimentos em relatório.
O governo trabalha com a meta de zerar o déficit neste ano e no próximo — após alterar a meta de 2025, o que não foi favorável para a imagem de responsabilidade fiscal.
Apesar de o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assegurar que o arcabouço será cumprido, o mercado vê o déficit primário em 0,7% do Produto Interno Bruto neste ano.
Lula se reuniu nesta quarta-feira (3) com ministros da área econômica do governo. Após o encontro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou que o presidente mantém seu compromisso com as contas públicas.
“A primeira coisa que o presidente determinou é ‘cumpra-se o arcabouço fiscal’. Não há discussão sobre esse respeito. Em 2024, 2025, 2026, o compromisso nosso é de cumprimento das leis complementares de finanças públicas”, comentou Haddad.
Segundo o chefe da equipe econômica, o governo realiza desde março um estudo entre os ministérios buscando despesas que podem ser cortadas. De acordo com Haddad, foram identificados R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias, cujo corte, segundo o ministro, já foi autorizado pelo presidente.
O economista-chefe da XP Inc., Caio Megale, apontou em entrevista ao WW de terça-feira (2) que além da questão fiscal, outro imbróglio do cenário doméstico também segue na mira do mercado: a questão monetária.
“Essa transição para o próximo presidente [do BC] é uma espada, de fato, na cabeça. A gente não sabe exatamente quem vai ser a próxima ou o próximo presidente, qual vai ser a visão de política monetária que essa pessoa vai ter na hora de conduzir a taxa de juros, de tomar as decisões”, pontuou Megale.
“Acho que dar uma clareza e maior transparência de como vai ser a gestão da política monetária depois da transição do Roberto Campos e medidas efetivas no sentido de controlar as despesas do lado fiscal, eu acho que é o que vai trazer uma tranquilidade [para o mercado].”
Economia
Venda de veículos eletrificados cresce 146% no primeiro semestre de 2024
Entre janeiro e junho, comercialização de automóveis registrou cerca de 79 mil vendas, de acordo com relatório da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE)
O comércio de automóveis movidos a eletricidade segue em crescimento no Brasil. No primeiro semestre de 2024, a venda de veículos leves eletrificados alcançou um total de 79.304 unidades em todo o país. Somente no último mês de junho, foram registrados 14.396 novos emplacamentos, o que representa a terceira melhor marca para um mês de toda a série histórica.
O número maior de vendas na metade inicial do ano indica um crescimento de 146% em relação ao primeiro semestre de 2023, e de 288% na comparação com o mesmo período de 2022. Além dos automóveis totalmente elétricos, também são incluídos na estatística os veículos parcialmente eletrificados – ou híbridos. Os dados foram levantados pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e divulgados nesta quarta-feira (3/7).
Com o avanço do número de vendas, a ABVE estima que o Brasil já atingiu a marca de 300 mil veículos comercializados desde o início da série histórica do levantamento, em 2012. Além disso, a previsão da associação para 2023 é que mais de 150 mil automóveis desta categoria sejam vendidos até o fim do ano em todo o território nacional, o que indica um crescimento de cerca de 60%.
No Brasil, ainda predominam os veículos elétricos plug-in, que se consolidaram no mercado nacional e representaram 69% de todas as vendas no primeiro semestre. Dentro desta categoria, estão incluídos os tipos BEV (totalmente elétricos) e PHEV (elétricos híbridos). Na sequência, os HEV convencionais (elétricos não plug-in a gasolina ou diesel) ficaram com 9,3% da parcela total de eletrificados vendidos.
Preocupação para o setor
Mesmo diante de um aumento das vendas, o setor de veículos elétricos está preocupado com o reajuste da tributação dos produtos. Desde a última segunda-feira (1º/7), passou a vigorar uma resolução que aumenta a alíquota para a importação de elétricos importados, de 10% para 18%. Em julho de 2025, sobe para 25%, até atingir 35% no ano seguinte.
“Temos ouvido notícias preocupantes sobre a antecipação da alíquota de 35% do Imposto de Importação de veículos elétricos, que estava prevista pelo Governo Federal somente para julho de 2026. Entendemos que, a se confirmar, essa antecipação configuraria uma lamentável quebra das regras estabelecidas há apenas seis meses pelo próprio governo”, avalia o presidente da ABVE, Ricardo Bastos.
Além disso, a associação teme a inclusão dos veículos elétricos no Imposto Seletivo, que é chamado popularmente de “imposto do pecado”. A lei foi estabelecida pela emenda constitucional da reforma tributária, aprovada no ano passado, com o objetivo de sobretaxar bens considerados danosos à saúde e ao meio ambiente.
Na avaliação da ABVE, a inclusão dos veículos eletrificados no IS “não faria sentido”, visto que esse tipo de automóvel emite menos gases de efeito estufa e reduz o nível de ruído nas cidades do país. “Eles são fatores decisivos para melhorar a qualidade de vida e diminuir as mortes associadas à poluição nas grandes cidades”. “Não nos parece cabível que esses veículos venham a ser taxados como se fossem produtos que fazem mal à saúde ou ao meio ambiente, o que absolutamente não é o caso”, conclui o presidente da associação.
Economia
Produção industrial cai 0,9% em maio, diz IBGE
No acumulado do ano, houve avanço de 2,5%
A produção industrial brasileira caiu 0,9% em maio em relação a abril. É o segundo recuo consecutivo, apontando retração de 1,7% no período. Com o resultado, o setor perdeu o ganho acumulado entre fevereiro e março deste ano (1,1%).
No acumulado nos últimos 12 meses, houve crescimento de 1,3%, o que acabou por reduzir a intensidade no ritmo de evolução se comparado ao resultado do mês anterior. Os dados foram anunciados nesta quarta-feira (3), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Os números fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta quarta-feira (3) pelo órgão, que mostrou ainda avanço de 2,5% no acumulado dos cinco primeiros meses de 2024, se comparado ao mesmo período do ano anterior.
Influências
Nessa comparação, entre as atividades, as principais influências positivas na totalidade da indústria foram anotadas por produtos alimentícios (5,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,1%), indústrias extrativas (2,3%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (4,8%).
O gerente da pesquisa, André Macedo, disse que, em maio de 2024, a indústria apresentou “predominância de resultados negativos de forma geral”, com recuo na margem e na comparação com maio de 2023.
Houve, ainda, interrupção da trajetória ascendente no índice de média móvel trimestral e perda de intensidade no ritmo de expansão no acumulado do ano e dos 12 meses anteriores.
Nesse mês, a indústria intensificou a queda que já tinha sido registrada no mês anterior, e entre os fatores que explicam esse resultado, estão as chuvas no Rio Grande do Sul, que tiveram um impacto local maior, mas também influenciaram o resultado negativo na indústria do país, informou o texto publicado pelo IBGE.
Conforme a pesquisa, 16 das 25 atividades investigadas tiveram recuo em maio de 2024. Veículos automotores, reboques e carrocerias (-11,7%) e produtos alimentícios (-4,0%) foram as duas maiores influências negativas para o resultado geral da indústria em maio.
O gerente afirmou, também, que esses dois setores foram prejudicados pelas enchentes do Rio Grande do Sul. No setor de veículos automotores, a paralisação das plantas industriais locais provocou impactos diretos e indiretos. Por causa do mau tempo, tanto as montadoras de veículos, quanto as fábricas de autopeças pararam com as produções e isso afetou também o abastecimento para a produção de bens finais no restante do país.
“Houve, por exemplo, a concessão de férias coletivas em uma planta industrial em São Paulo como forma de mitigar os efeitos das paralisações ocorridas em unidades produtoras de peças no Rio Grande do Sul”, completou.
Greve
Macedo acrescentou que a paralisação decorrente de greve em outra montadora e a base de comparação elevada também contribuíram para a queda de dois dígitos na atividade. Em abril, o setor de veículos registrou crescimento de 13,8%.
A atividade de produtos alimentícios, que responde por cerca de 15% da produção industrial do país, teve em maio o segundo mês seguido de queda. A perda acumulada no período é de 4,7%.
“A retração no processamento da cana-de-açúcar, por conta da condição climática menos favorável na segunda quinzena de maio, provocou uma queda pontual na produção do açúcar. Já entre os impactos negativos que podem ter a ver com as chuvas no Rio Grande do Sul estão as carnes de aves, de bovinos e de suínos e os derivados da soja, que são produtos que têm grande peso no setor”, explicou.
Outros setores que recuaram e influenciaram o resultado negativo do mês foram os de produtos químicos (-2,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-6,3%), produtos do fumo (-28,2%), metalurgia (-2,8%), máquinas e equipamentos (-3,5%), impressão e reprodução de gravações (-15,0%) e produtos diversos (-8,5%).
Os principais impactos positivos no resultado geral da indústria foram as indústrias extrativas (2,6%) e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,9%). De acordo com Macedo, esses segmentos têm grande peso e evitaram uma queda maior no resultado da indústria.
“O crescimento do setor extrativo veio após uma queda no mês anterior, ou seja, tem o efeito de uma base de comparação mais negativa. Também houve aumento na extração dos dois principais produtos, o petróleo e o minério de ferro”, afirmou.
As atividades de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (3,7%), produtos têxteis (2,9%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (1,5%), produtos de borracha e de material plástico (0,5%), outros equipamentos de transporte (0,2%), móveis (0,2%) e celulose, papel e produtos de papel (0,1%) também tiveram desempenho favorável.
“Ainda na comparação com abril, as quatro grandes categorias econômicas recuaram: bens de consumo duráveis (-5,7%), bens de capital (-2,7%), bens intermediários (-0,8%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,1%)”, pontuou o IBGE.
O recuo de 1,0% na comparação de maio de 2024 com maio do ano anterior teve influência dos resultados negativos de duas das quatro grandes categorias econômicas, 14 dos 25 ramos, 43 dos 80 grupos e 50,4% dos 789 produtos pesquisados, finalizou o IBGE.
Agência Brasil
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