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Com a economia em xeque, o Brasil deve se preparar para recuo de commodities?

Seja qual for o vencedor das eleições presidenciais neste ano, um desafio já desponta no horizonte brasileiro: o recuo da demanda e do preço das commodities, que respondem por uma fatia considerável da economia brasileira.

© AP Photo / Andre Penner

Segundo relatório do Banco Mundial, as commodities energéticas deverão recuar, em média, 12,4% em 2023 e 11,9% em 2024.
Já o preço das “commodities não energéticas” deverá cair, em média, 8,8% no próximo ano e 3,2% em 2024.
Pesam ainda as atuais condições da economia da China, principal parceiro comercial do Brasil, que impôs regras rígidas na tentativa de erradicar o coronavírus (apelidadas de Covid Zero) e o afastamento, ainda que temporário, de Pequim do mercado externo.
A Sputnik Brasil conversou com economistas a fim de entender como o ciclo de recuo das commodities pode afetar o Brasil — e se o país pode ter que se preparar para o efeito rebote que isso pode eventualmente criar.

Incertezas

Para Maria Beatriz Albuquerque David, professora de economia na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), a situação neste momento é incerta.
Ela explica que as commodities raramente têm um ciclo longo em que os preços permanecem altos — fenômeno que já aconteceu alguns anos atrás. No momento, um dos fatores que estão fazendo os preços subirem muito é a volta do crescimento de algumas economias, que estavam paradas por causa da pandemia e agora estão retomando as atividades.

“Há a questão do conflito na Ucrânia, que impacta violentamente no preço dos energéticos, sobretudo os derivados do petróleo. Mas a retração e a paralisia, hoje, da economia chinesa com a política de Covid Zero vai ter um impacto na demanda mundial. Qualquer recessão ou queda na economia chinesa tem um impacto enorme no mundo inteiro”, aponta.

 

Caminhão de soja no Mato Grosso do Sul, em 18 de março de 2009. - Sputnik Brasil, 1920, 19.05.2022
Caminhão de soja no Mato Grosso do Sul, em 18 de março de 2009
Já para a coordenadora da graduação de economia do Insper, Juliana Inhasz, o Brasil precisa ter ciência de que essa nova fase de commodities com preços mais altos vai acabar. Por ser um produtor de commodities, o Brasil consegue, nos momentos em que os preços estão mais altos, se beneficiar. Então, explica ela, o país consegue colocar mais produtos no mercado e alavanca a economia.

“Nesse aspecto, é importante saber do recuo porque esse ciclo pode se desfazer e pode fazer com que a gente tenha redução de receita e, naturalmente, uma certa redução do crescimento econômico, a partir do momento em que essa queda de preços possa desestimular a produção”, indica.

Afinal, como o Brasil pode se preparar hoje?

Uma eventual preparação para a queda no valor das commodities é muito difícil porque o Brasil é extremamente dependente dos seus preços — especificamente das agrícolas e das minerais, explica Maria Beatriz Albuquerque David.
Ela acrescenta que os preços de algumas commodities também prejudicam diretamente o Brasil. Um exemplo é o caso do aumento do trigo, no qual o país não é autossuficiente e depende da oferta mundial.
Até meados de 2023 esse preço deve cair, mas não tão violentamente como se esperava, justamente se prolongadas as tensões internacionais, prossegue.

“Nós também já temos um impacto inflacionário muito grande, em parte ligado aos fatores externos e em parte a fatores ligados à nossa própria economia, principalmente o nosso desequilíbrio fiscal. Então, no curto prazo, é muito difícil reverter essa situação. Nós podemos aumentar a oferta de algumas commodities, o que impactaria negativamente no preço internacional, mas não são as que estão mais pressionadas hoje”, diz a professora da UERJ.

A economista afirma que a tendência é que produtores aumentem as áreas plantadas de trigo no Brasil nos próximos meses.
Já a produção de fertilizantes talvez seja uma das áreas que o Brasil tenha como reverter nos próximos quatro ou cinco anos. “Mas é difícil reverter porque desmontamos muito da nossa capacidade produtiva que existia há dez, 15 anos nessa área”, adicionou.
Juliana Inhasz concorda com a colega: aumentar a oferta de commodities pode fazer com que o preço caia ou até antecipar essa queda de preços.

“Ele é benéfico à medida que gera aumento da utilização da capacidade instalada, então a gente consegue fazer com que a economia cresça, a produção cresça”, relata.

O ideal, indica ela, é repensar os investimentos na produção de commodities, porque, apesar da queda do preço, o comércio de matérias-primas segue rendendo benefícios.
“É importante que se olhe essas projeções e que se entenda quais são as commodities que devem ser utilizadas, porque são as que vão dar retorno apesar da queda de preços, e quais vão dar prejuízos”, avalia.
Tratores operam em campo de soja no Mato Grosso, em 27 de março de 2022.  - Sputnik Brasil, 1920, 19.05.2022
Tratores operam em campo de soja no Mato Grosso, em 27 de março de 2022

Quais reformas são necessárias?

Ambas as economistas acreditam que reformas estruturais teriam impacto de médio e longo prazo. No curto prazo, não há nenhuma reforma estrutural que possa resolver essa questão.

“O Brasil não fez grandes investimentos e está muito atrasado na questão tecnológica e muito defasado em relação ao resto do mundo. Além do mais, não está integrado nas cadeias produtivas mundiais. Hoje estão faltando chips, semicondutores. O Brasil não tem nenhuma vantagem comparativa aí e levaria tempo para entrar nessa área”, aponta Maria Beatriz Albuquerque David.

Há uma luz no fim do túnel, segundo a professora da UERJ: o investimento na melhoria da logística de transporte, que pode ter reflexos a curto prazo, e o investimento em outras formas de transporte que não sejam o rodoviário, que é caro devido ao desperdício de recursos.

“Mas para isso é preciso ter uma atração de investimentos estrangeiros e uma decisão do governo de investir, porque a capacidade hoje é baixíssima pelo desequilíbrio fiscal e pelo comprometimento do orçamento — especialmente ao tentar manter uma base política azeitada”, critica.

Trator em campo de soja no Mato Grosso do Sul, em 17 de março de 2009. - Sputnik Brasil, 1920, 19.05.2022
Trator em campo de soja no Mato Grosso do Sul, em 17 de março de 2009
A professora do Insper, por sua vez, aponta que as reformas estruturais ajudariam nesse contexto caso a economia estivesse mais ajustada, com expectativas de crescimento maiores.
Em um cenário econômico com reformas sendo feitas, confiança do consumidor e do investidor, perspectivas de crescimento, ela argumenta, os produtores enxergam que existe gente que vai consumir, que vai ter demanda, há uma aposta dentro da economia. Ou seja: continuam produzindo, porque apesar do preço cair, vão ter demanda pelo produto.
“No entanto, é importante pontuar que hoje é difícil fazer reformas no momento econômico e eleitoral. É impossível que sejam aprovadas reformas mais consistentes até o final do ano, por conta das questões políticas e institucionais”, diz Juliana Inhasz.
A economista aponta para uma solução intermediária, mas eficaz para o curto prazo: investimento em tecnologia.
“O interessante seria investir em máquinas, equipamentos e tecnologia no geral. Uma tecnologia que possibilitasse uma redução do custo de produção para que haja vantagens para quem produz. Com a tecnologia a favor, o produtor vai ter preços mais amigáveis e um aumento na margem de lucro”, conclui.

Mundo

Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas

Por

Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”

 

Vista aérea de Tóquio
Getty Images

 

Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.

A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.

A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.

Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.

Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.

A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.

Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.

No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.

O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.

“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.

“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.

Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.

Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.

Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano

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Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra

 

Polícia desmantela protesto pró-Palestina no Parlamento Australiano
Reuters

 

Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.

Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.

Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.

CNN

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Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

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País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando

 

Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

 

Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.

A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.

Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.

Como funcionam as eleições?

O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.

Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.

Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.

O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.

Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.

O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.

A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.

O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.

Rei Charles recebe Rishi Sunak no Palácio de Buckingham / Reprodução/ Palácio Buckingham

Quem é Keir Starmer?

O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.

Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.

Líder trabalhista Keir Starmer em Blackpool / 3/5/2024 REUTERS/Phil Noble

Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.

O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.

Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.

Quando saíram os resultados?

Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.

Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.

Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.

Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.

De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.

CNN

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