Mundo
Colômbia vai às urnas no domingo com liderança inédita da esquerda
O senador Gustavo Petro é favorito para chegar ao segundo turno nas eleições na Colômbia neste domingo, 29. Mas seu oponente ainda é uma incógnita
A Colômbia vive neste fim de semana uma eleição presidencial que caminha para ser diferente de todas as anteriores. O país de 51 milhões de habitantes vai às urnas para o primeiro turno neste domingo, 29, com a liderança nas pesquisas do senador de esquerda Gustavo Petro e uma segunda vaga ainda em disputa.
Aos 62 anos e ex-prefeito da capital Bogotá, Petro vem liderando as sondagens desde o começo da campanha. O candidato tem entre pouco mais de 35% e 40% das intenções de voto, a depender da pesquisa. Apesar de sua rejeição em alguns setores do eleitorado, Petro é visto como quase confirmado no segundo turno.
A incógnita está em qual será seu oponente. O segundo colocado é hoje Federico “Fico” Gutiérrez, candidato de direita e ex-prefeito de Medellín, que tem entre 20% e 25% dos votos.
Ele é seguido de perto pelo magnata da construção civil Rodolfo Hernández, que hoje alcança 19% das intenções de voto. Outros candidatos de direita e centro-direita correm por fora.
Ainda há entre 10% e 15% de indecisos. Além disso, a expectativa é que somente cerca de 50% ou 60% dos eleitores votem, o que também dificulta parte das projeções.
Elogiado por sua gestão em Medellín, visto como nome de renovação aos 47 anos e candidato favorito de parte do empresariado, Gutierrez tem o desafio de popularizar sua imagem entre os mais pobres. Também tem sofrido para desvincular sua candidatura do grupo político do atual presidente, Iván Duque, altamente impopular após protestos que sacudiram a Colômbia nos últimos anos, embora não seja do mesmo partido de Duque.
Já Hernández, aos 77 anos, foi o candidato que mais cresceu nas últimas semanas. O empresário foi prefeito da cidade de Bucaramanga e tem posições de direita radical, já tendo dito publicamente que admirava o ditador alemão Adolf Hitler e dado um soco em um vereador. Sem estar vinculado a um partido, ele afirma que seu objetivo é fortalecer o combate à corrupção, à violência e à imigração na Colômbia, e tem feito sucesso na internet – virando um fenômeno no TikTok – como candidato antissistema.
Como em outras eleições latino-americanas recentes, o pleito na Colômbia será marcado por ampla desconfiança dos eleitores com os políticos tradicionais. A confiança dos colombianos na democracia também é uma das piores na região. Os três favoritos para ir ao segundo turno são políticos que não estiveram amplamente no governo nacional nos últimos anos e se vendem como algum tipo de renovação.
Colômbia pós-Uribe?
As eleições deste ano se tornam mais imprevisíveis por serem as primeiras em duas décadas que não contarão com um candidato oficial do grupo do ex-presidente de direita Álvaro Uribe. Uribe governou a Colômbia de 2002 a 2010 e fez dois sucessores: Juan Manuel Santos (com quem romperia depois por um acordo de paz com os guerrilheiros das Farc), e o atual presidente, Iván Duque.
Duque não pode se reeleger pelas leis eleitorais. Além disso, o grupo de Uribe e Duque perdeu popularidade em meio a protestos da chamada “primavera colombiana” em 2019 e, mais recentemente, em 2021. A última onda de protestos veio após uma reforma tributária proposta pelo governo, que aumentaria impostos para a classe média. Duque também foi criticado também pela violência policial nos protestos, com mais de 60 mortos em todo o país, a maioria civis.
Passadas as eleições deste domingo, o segundo turno, em 19 de junho, tende a ser acirrado. Tanto Hernández quanto Fico Gutiérrez se aproximam de Petro nas pesquisas, e tendem a aglutinar votos dos que rejeitam a esquerda.
Petro, por sua vez, tenta surfar a onda de rejeição à direita tradicional na Colômbia e o momento favorável à esquerda na América Latina, com pautas como redução da dependência de carvão e combustíveis fósseis, maior tributação aos mais ricos e ampliação do Estado. O grupo de Petro foi o grande vitorioso das eleições legislativas da Colômbia realizadas neste ano. A aliança Pacto Histórico, liderada por ele, empatou com os conservadores e liberais em força no Senado e na Câmara, um resultado sem precedentes na história recente.
Se eleito, Petro seria o primeiro presidente de esquerda da história da Colômbia.
As propostas do senador – que no passado foi guerrilheiro e hoje moderou parte do discurso – vão em linha com nomes da nova esquerda local, como o presidente do Chile, Gabriel Boric. Petro visitou Boric na posse do novo chileno neste ano, e o mandatário do Chile disse que espera poder colaborar com Petro se o colombiano for eleito.
O ex-presidente brasileiro Lula também citou Petro em sua entrevista à revista Time e elogiou o colombiano, mas disse discordar de sua proposta de caminhar para eliminar o uso de petróleo, afirmando que isso ainda não é possível no Brasil.
Enquanto isso, segue o risco de que a tensão aumente na Colômbia, marcado por violência política histórica. Petro tem sofrido ameaças de morte, ao mesmo tempo em que causou polêmica nas últimas semanas a fala de um empresário que ameaçou demitir seus funcionários caso votassem no senador. Da votação neste domingo até a decisão final dos colombianos em junho, o cenário político no país seguirá conturbado.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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