Tecnologia
Bancos, tremei: Apple dá primeiro passo para estruturar financeira dentro de casa
Big tech anunciou nesta semana a oferta de crediário digital, usando recursos do próprio caixa; o que esperar?
A Apple anunciou essa semana que vai começar a oferecer o crediário digital (Buy Now, Pay Later) como meio de pagamento para os consumidores. O que chamou a atenção do mercado é que a fabricante dos iPhones e iPads vai oferecer esse serviço de forma direta, sem envolver bancos como intermediários para as transações. O fato ganha importância especial diante da quantidade de dados que a big tech tem sobre clientes — conhecidos amplamente por serem um público premium — e a capacidade de mudanças aceleradas como um fator cultural, fatores que podem, em conjunto, trazer uma nova onda de transformações dentro do setor financeiro. Nesse novo ambiente, não são as fintechs as principais rivais dos bancos, mas as grandes corporações do Vale do Silício.
Não que as startups financeiras deixem de ser atingidas. Mas, antes delas, os bancos é que precisam se preocupar. Enfim, alguém realmente com capital. Com o anúncio de que a Apple vai entrar no mercado de BNPL, a Affirm, empresa especializada justamente em oferecer esse meio de pagamento para varejistas, viu o preço das ações cair 5,5% nesta quarta-feira. Outra companhia do setor, a europeia Klarna, também anda em baixa nos últimos dias — em um movimento de fuga do setor, de modo geral.
O movimento atual da Apple pode parecer recente, mas reflete uma estratégia já conduzida há alguns anos dentro da empresa. A companhia começou a se aventurar pelo mundo financeiro em 2014, com a criação do Apple Pay, opção de carteira digital que permite o cadastro de cartões de crédito de diferentes bandeiras e o pagamento utilizando o celular. Abrindo o leque para mostrar o potencial da companhia em serviços: a receita gerada a partir de apps pagos como Apple TV+, Apple Music e Apple Fitness teve um salto de 24% em receita no último trimestre de 2021, alcançando 19,5 bilhões de dólares. Hoje, são 785 milhões de assinantes. Em uma perspectiva financeira mais nichada, a companhia também disponibiliza o Apple Card, apenas nos Estados Unidos. O serviço foi lançado em 2019 e conta com o apoio do Goldman Sachs.
Dessa vez, o banco também fez certa contribuição para que o serviço fosse lançado, mas a principal contribuição foi a de permitir o acesso à rede Mastercard para torná-lo viável — uma vez que a empresa da maçã ainda não tem a licença para processar pagamentos de forma direta. Segundo o Financial Times, o arranjo atual vai permitir que a companhia de tecnologia possa ganhar interchange fees de cada transação, ter mais controle sobre o comportamento de consumidores e pode expandir a oferta internacional de produtos financeiros.
Não que a internacionalização seja uma tarefa necessariamente fácil. Um dos principais desafios citados por Jairo Saddi, advogado e pós-doutor por Oxford e um dos maiores especialistas em sistema financeiro no Brasil, é justamente a regulação, como o executivo afirmou em entrevista . Há anos, ele fala que o setor financeiro vai estremecer de verdade quando as giant techs entrarem na mesma corrida. Ainda é impossível estimar com exatidão quais serão as mudanças necessárias para que companhias com muito mais poder de fogo possam ter, também, uma atuação financeira global.
O que se sabe, ao menos por enquanto, é que o momento para testar serviços financeiros dentro da big tech vem a calhar. Com projeções de vendas menores para os produtos ano a ano — somadas às dificuldades de suprimentos que já vêm da pandemia e foram agravadas com os novos lockdowns na China — parece propício começar a testar de forma mais intensa a operação financeira, mirando o longo prazo da companhia.
Esse movimento, por outro lado, reflete a competição mais acirrada que os bancos tradicionais vão enfrentar. “Essas empresas têm caixa para ameaçar qualquer banco e um foco ilimitado de atuação. Elas já começam a abrir o leque do que podem trazer ao consumidor, à medida que o mercado original delas se esgota. Por que elas não podem fazer serviços financeiros?”, diz Saddi.
Para colocar em uma perspectiva mais clara, no caso da Apple, o caixa está em US$ 73 bilhões (cerca de R$ 350 bilhões), de acordo com os dados mais recentes divulgados pela companhia. Em uma leitura simples: fôlego para testar, errar e lidar com a inadimplência existe. Especificamente em relação a esse último ponto, o Financial Times lembra que a companhia adquiriu no início desse ano a fintech Credit Kudos, que usa big data em função do crédito. Apesar das discussões sobre os parâmetros definidos por empresas como essa, não deixa de ser um pontapé inicial para testar o que pode funcionar ou não com o crédito.
Concorrência
Oferecer crédito e fazer o meio de campo entre pagamentos não é um objetivo exclusivo da Apple, aliás. O fato de a companhia ter ido direto para esse objetivo pode refletir tanto o aprendizado próprio ao longo dos anos quanto o de outras iniciativas fracassadas da concorrência ao longo do tempo.
Falando de forma mais clara, o Google testou um modelo de conta bancária entre 2019 e 2021. O projeto foi descontinuado porque, com a chegada de um novo chefe para a divisão, o foco passou a ser o de criar “um ecossistema de pagamentos”, em vez de tentar competir nesse aspecto com bancos tradicionais. A Amazon também divulgou, em 2018, que estava trabalhando em um modelo de serviço financeiro que focava principalmente na população jovem e desbancarizada – mas, até hoje, não houve lançamento do produto.
A Apple já deixou bem claro que não vai seguir pelo mesmo caminho. Em entrevista ao FT, a companhia afirmou que, por enquanto, não pretende tirar nenhuma licença específica para operar como um banco. Testar primeiro, depois evoluir.
No meio de toda a discussão sobre o que a companhia de tecnologia está fazendo, um último ponto que fica é: E os bancos? O que podem fazer para acirrar a competição ao longo dos próximos anos? Segundo Saddi, o trunfo de lidar com análise de crédito há muitos anos tem de ser considerado nessa jogada — mas não responde por 100% do sucesso no futuro. Falta, na opinião do especialista, mudar cultura e atitude para que elas possam adquirir um papel de protagonismo em meio ao ambiente atual. “Pode parecer ingênuo achar que um banco pode encantar o cliente, mas é claro que pode”, diz.
É a força que as big techs têm. As filas quilométricas para comprar o iPhone mais recente deixam isso claro até hoje — ainda que a expectativa de fabricação e venda dos aparelhos tenha diminuído consideravelmente ao longo dos últimos anos. Fato é que os fãs da marca continuam por aí e, agora, vão contar com mais uma forma de interagir com a Apple. Ainda restam dúvidas sobre quão bem-sucedida essa estratégia será e quanto tempo vai levar para a companhia ampliar o volume de serviços financeiros oferecidos, é claro. O que importa, ao menos por enquanto, é que a corrida pelo melhor serviço aos melhores clientes está ficando cada vez mais acirrada. É tempo de se mexer.
Tecnologia
“Brainrot”, você tem isso? Conheça esse efeito colateral da vida digital
Termo descreve a “deterioração mental” causada por consumir grandes quantidades de conteúdo de baixo valor, como memes e vídeos sem sentido
Se você leu meu texto sobre a slopficação da internet, talvez agora você fique um pouco mais assustado. Senta que lá vem a história…
Se você é millennial, como eu, e tinha uma certa esperança que a próxima geração seria melhor e daria conta de um monte de coisas que não conseguimos, bem… nascer e crescer imerso em redes sociais parece que não está fazendo muito bem, pelo menos na construção de gosto e o que se escolhe consumir online.
Entender minimamente a GenZ (Geração Z) e a Geração Alpha tem consumido boa parte do tempo das minhas pesquisas online. Sacar os movimentos e tentar entrar na cabeça dos jovens é interessante e surpreendente, já que os valores e gostos são completamente diferentes. E olha que pra muita coisa eu sou mais Z que Y.
Mas vamos para o que interessa. Você já ouviu ou viu, em algum lugar, termos como:
- Skibidi Toilet
- Level Five Gyat
- Rizz
- Fanum Tax
- Only in Ohio
- Sigma Looksmaxxing
- Grimace Shake
Parece erro, palavras sem sentido, mas eles têm aparecido com frequência em uma série de conteúdos virais, mais especificamente memes, e que têm sido atribuídos ao tal do “brainrot”. Se você perguntar para o Google Tradutor, não vai conseguir nada. Já para o ChatGPT, ele traz uma luz. Olha só:
Acho que, com isso, você já consegue ir sacando o que é “brainrot”. Apesar desse termo ser antigo (usado desde 2004), é agora que ele está bombando em redes sociais muito usadas por jovens da GenZ, como o TikTok.
E não é pouco dizer que esses jovens internautas estão obcecados com a tal “brain rot” ou “brainrot”. Tanto que a própria viralização do termo explica muito o que estamos vivendo nos tempos atuais: “doomscrolling“, essa rolagem infinita nos nossos feeds, e também nosso estado online crônico.
Traduzido por “podridão cerebral”, “apodrecimento do cérebro” ou até “cérebro apodrecido”, o termo, ou condição, descreve a “deterioração mental” causada por consumir grandes quantidades de conteúdo de baixo valor, como memes e vídeos sem sentido, que podem afetar negativamente as habilidades cognitivas e a capacidade de pensar criticamente.
Longe de ser um termo médico ou científico, é simplesmente um efeito colateral do nosso comportamento online, principalmente em redes sociais, frequentemente motivado por um desejo compulsivo de se manter atualizado, principalmente com eventos negativos, mesmo quando isso pode ser emocionalmente desgastante ou prejudicial para a saúde mental.
Basicamente, estamos gastando mais tempo e literalmente nos entregando e absorvendo grandes quantidades de informações irrelevantes e de baixa qualidade.
Sem entrar nas questões neurodegenerativas, não precisamos de muito para entendermos que, ao consumirmos conteúdos piores, ficaremos piores. Ou seja, nossos cérebros vão trabalhar com o que recebem. Se consumimos porcarias, vamos pensar em porcarias. Simples assim.
E tem muita gente online falando que já está com “brainrot” só de ter recebido ou passado por certos conteúdos, justamente porque estão muitos expostos a eles. E assim como os “slops” causam uma certa confusão mental, os conteúdos associados ao brainrot também, desassociando imagens ou conceitos de seus contextos reais.
Um exemplo é a imagem de um soldado da Segunda Guerra Mundial com um olhar atordoado, que faz parte da pintura de Tom Lea “That 2,000 Yard Stare“, que é usado em muitos conteúdos meméticos, e que TikTokers dizem ser brainrot.
Popularização e perigos
Fazendo uma pesquisa rápida no Google Trends, percebemos que tivemos uma procura maior do termo em 2005 e 2010, mas, a partir da segunda metade de 2023 até agora, o termo explodiu. E é interessante notar que esses picos estão muito associados à cultura gamer e a jogos que contribuíram com seu uso ao longo da década de 2010.
Inclusive, “brainrot” é uma doença que os jogadores podem contrair no jogo de “2011 The Elder Scrolls V: Skyrim“. Em 2007, ano que muita gente considera o surgimento do termo, ele aparece em posts no X, nos quais os usuários descreviam reality shows de namoro, videogames e certos comportamentos, como brainrot.
Um artigo recente do NYT, Jessica Roy relata como alguns usuários do TikTok até começaram a criar paródias de pessoas que parecem “ter” essa condição, ajudando, assim, na popularização, ridicularização e adoção do termo. E, apesar de não ser um elogio falar que alguém tem brainrot, algumas pessoas demonstram um leve orgulho ao admitir a condição.
Em um quiz recente do BuzzFeed, dava até pra saber se “o seu cérebro está 1000% cozido”. Outra leva de vídeos fala que quanto mais gírias da internet uma pessoa usa, mais brainrot ela tem.
E apesar do humor que tudo isso traz, existe um lado bem ruim. Sabe quando a gente fica obcecado por algo e vê aquilo em todo lugar, ou quando gostamos tanto de um personagem ou uma celebridade e começamos a ficar parecidos com elas? Bem, consumir conteúdos de baixa qualidade pode nos deixar menos preparados a certaz situações e “menos inteligentes”, como colocam os jovens com brainrot. Muitos compartilham nas redes seu medo de ficaram “burros”.
Há muitos pesquisadores que estão se debruçando nesse tema, como o neurocientista Michel Desmurget, que tem um livro bastante controverso, assim como outros que se adentram nesse tema, “A fábrica de cretinos digitais: Os perigos das telas para nossas crianças”.
Esse medo de ficarmos piores cognitivamente é real, porque somos o que comemos e consumimos. A “Geração Touch” e as “crianças de iPad” certamente carregam consequências disso, tanto pela tela e o aumento de miopia, muita quantidade de luz azul, que traz alterações no sono, e por aí vai, até o que é visto, assistido e lido.
Em toda a história da humanidade, acompanhamos as consequências boas e ruins das mais diversas tecnologias que foram sendo introduzidas nas nossas vidas, e se tratando de internet, hoje e sempre, independente da tecnologia em si, sabemos que “gostamos” de certos conteúdos justamente pelo modo como nosso próprio cérebro funciona.
Nem vou entrar nessa discussão, porque isso daria um outro texto, mas, no caso dos memes, eles são divertidos, rola uma conexão emocional positiva com eles, e isso dá uma ajudinha na disponibilidade de dopamina no nosso cérebro. É entretenimento puro e viciante.
Por isso mesmo, existem muitos pesquisadores interessados no assunto, tanto que, nos Estados Unidos, diversas instituições de saúde já estão estudando isso como um distúrbio. No artigo no NYT, é citada a pesquisa do Hospital Infantil de Boston, que chama essa condição de “Uso Problemático de Mídia Interativa”. E ela mostra que, conforme passamos muito tempo online, mudamos nossa percepção do espaço físico para o online, e isso tem consequências.
E a GenAI nessa história?
Brainrot está na moda hoje em dia, assim como a GenAI (inteligência artificial generativa). Mas será que a IA está ajudando a nos levar a um estado de brainrot generalizado?
Se o uso preguiçoso da GenAI pode nos fazer desenvolver menos algumas habilidades ao longo do tempo, não há dúvida. É como foi com a nossa memória, tanto que hoje não guardamos o número do celular de quase ninguém. Claro que nesse cas,o é reversível, podemos treinar e melhorar, graças a neuroplasticidade cerebral.
Mas, assim como a internet está se “slopificando”, ou seja, sendo tomada por conteúdos sem valor sendo gerados sinteticamente, nós também poderemos acabar nos deparando cada vez mais com esse conteúdo, e (por que não?) aumentando o brainrot, assim como nos enganando cada vez mais por conteúdos falsos. As consequências de longo prazo não sabemos, e muito estudo ainda será feito, mas, com certeza, uma coisa pode alimentar a outra.
Deveríamos nos preocupar com o “brainrot”?
Em certo sentido, sim, embora devamos ser cautelosos ao soar o alarme sobre o que impulsiona ou leva ao “brainrot”. É muito fácil referir-se a praticamente qualquer coisa como causadora de “brainrot”, se formos pensar.
A cultura da internet sempre traz questões e termos interessantíssimos que podem nos fazer pensar e desenvolver muitas teorias e conceitos. Brainrot ainda é uma expressão que carece de rigor científico, principalmente para descrever ou quantificar a saúde mental real. Mesmo assim, não significa que devemos ignorar ou minimizar as preocupações que estão no cerne desse termo.
Tecnologia
Tik Tok planeja lançar o Whee, plataforma de fotos ‘cópia’ do Instagram
Na plataforma, será possível manter um feed de imagens, utilizar filtros nas fotos tiradas pelo próprio aplicativo, além de manter um fluxo de conexão de amigos
O TikTok está trabalhando em seu próprio Instagram, afirmou o site Android Police na terça-feira, 18. O aplicativo, chamado Whee, tem como objetivo o compartilhamento de fotos com melhores amigos – uma mistura da rede de Mark Zuckerberg com o BeReal, de fotos instantâneas e não editadas. O app, que já pode ser utilizado em alguns países, ainda não chegou ao Brasil.
De acordo com as imagens vistas pelo Android Police, o Whee é um app separado do TikTok, mas também mantido pela ByteDance. Na plataforma, é possível manter um feed de imagens, utilizar filtros nas fotos tiradas pelo próprio aplicativo, além de manter um fluxo de conexão de amigos.
Configurações básicas como curtidas e comentários também estão presentes, em um layout bastante parecido com o do Instagram.
“Capture e compartilhe fotos da vida real que somente seus amigos podem ver, permitindo que você seja mais autêntico”, afirma a descrição do Whee no Google Play, loja de apps do Android. “Whee é o melhor lugar para amigos próximos compartilharem momentos da vida”, completam.
O TikTok e a ByteDance ainda não se pronunciaram oficialmente sobre o aplicativo, mas já é possível encontrar a nova rede social em alguns países em celulares com sistema operacional Android.
Tecnologia
YouTube testa recurso que introduz “notas” de contexto em vídeos
Testes começarão nos Estados Unidos e serão feitos, inicialmente, com usuários e criadores selecionados
O YouTube anunciou, nesta segunda-feira (17), que permitirá em breve que os usuários adicionem “notas” que fornecerão contexto sobre alguns de seus vídeos. Os testes fazem parte de um novo recurso que inicialmente será lançado nos Estados Unidos.
A plataforma convidará alguns usuários e criadores de conteúdo, como parte da fase inicial de teste, para escrever notas destinadas a fornecer “contexto relevante, oportuno e fácil de entender” sobre os vídeos.
As notas, por exemplo, poderão esclarecer quando uma música é uma paródia, apontar quando uma nova versão de um produto que está sendo analisado estiver disponível ou informar aos espectadores quando imagens antigas são erroneamente apresentadas como eventos atuais.
A rede social X, antigo Twitter, possui um recurso semelhante chamado Notas da Comunidade, que permite que colaboradores selecionados adicionem contexto às publicações, incluindo tags como “enganoso” e “fora de contexto”.
O recurso de notas no YouTube será, inicialmente, disponibilizado em dispositivos móveis para usuários nos Estados Unidos e em inglês. Nessa fase, avaliadores externos classificarão a utilidade das notas, o que ajudará a treinar os sistemas, antes de um possível lançamento mais amplo, disse o YouTube.
*Com reportagem de Yuvraj Malik, em Bengaluru
CNN Brasil
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