Economia
Balanços internacionais: recessão global estampada em números, com demanda fraca e demissão em massa
Até agora, os números do quarto trimestre de 2022, em geral, não são dos melhores e dão sinais de que a economia está piorando
O relógio da recessão começou a funcionar. Os primeiros sinais já são percebidos nos resultados divulgados pelas empresas. Os números do quarto trimestre de 2022, em geral, não são dos melhores: a demanda enfraqueceu, lucros caíram ou cresceram bem menos do que se esperava e os custos não deram trégua. Junto disso, as notícias de demissões em série parecem pipocar.
“A temporada de resultados do quarto trimestre do S&P 500 continua abaixo da média. Embora o número de empresas do S&P 500 que relataram surpresas positivas nos lucros tenha aumentado na semana passada, a magnitude desses crescimentos nos lucros diminuiu durante esse período”, diz a consultoria FactSet em seu relatório de sexta-feira, 27. Se as empresas do índice reportarem uma queda real nos lucros no quarto trimestre, essa será a primeira queda se considerada a comparação anual desde o terceiro trimestre de 2020, segundo a FactSet.
Os primeiros sinais de preocupação vieram com os resultados dos bancos, que historicamente abrem o período de divulgações. Nos números, o aumento de provisões para perdas por inadimplência chamou a atenção de analistas. O J.P. Morgan, por exemplo, até superou as estimativas de receita do quarto trimestre, mas também aumentou a provisão para inadimplência em empréstimos. O banco adicionou US$ 2,3 bilhões para perdas de crédito no trimestre, um aumento de 49% em relação ao terceiro trimestre. No relatório do resultado, o banco fala em “pequena deterioração das perspectivas macroeconômicas” e projeta uma “recessão leve.”
O lucro do Bank of America também se saiu melhor do que a expectativa de agentes do mercado, mas seu CEO, Brian Moynihan, disse o banco está se preparando para o aumento do desemprego e uma recessão em 2023. “Nosso cenário de linha de base contempla uma recessão leve.” O banco acrescentou uma provisão de US$ 1,1 bilhão para perdas de crédito.
Entre as não-financeiras, o enfraquecimento da demanda do consumidor já se faz evidente. A P&G, por exemplo, até conseguiu um crescimento de 5% nas vendas, mas basicamente tudo isso vindo do repasse de preços, já que o volume vendido caiu em todas as divisões da companhia, que é dona da Gillette, Oral-B, Pampers e Downy.
A concorrente Kimberly-Clark, que no Brasil é dona das fraldas Huggies e dos absorventes íntimos Intimus, viu o volume de vendas cair 7% no quarto trimestre, o que precisou ser compensado com aumento de preços, que ficaram 10% maiores, e mudanças no mix de produtos, que contribuíram com avanço de 1% nas vendas. Por isso, as vendas orgânicas ainda terminaram o período com um avanço de 5%.
A sul-coreana LG, que fabrica eletrodomésticos e eletrônicos, sentiu o impacto da demanda em queda. Como o consumo de grande parte de seus produtos é mais dependente de crédito, o aumento das taxas de juros em todo o mundo pioraram o cenário para a empresa. A divisão de eletrodomésticos e ar-condicionado registrou queda de pouco mais de 2% na receita, enquanto a de entretenimento em casa (como TVs e equipamentos de áudio) caiu 10%.
A varejista de moda H&M, da Suécia, também está sentindo os efeitos de ter um consumidor mais racional na hora da compra. O quarto trimestre foi estavel e conseguiu registrar aceleração no fim de dezembro, mas a empresa diz que o nível de descontos está mais alto no início deste ano. Com o ambiente de vendas mais desaquecido, a varejista não tem repassado aumentos de custos para os preços das etiquetas e sentido a queda de lucratividade. O lucro operacional no quarto trimestre divulgado pela empresa caiu 87%.
Demissões
Essa queda no consumo e o custo de capital mais caro por causa dos juros mais elevados começam a se refletir no mercado de trabalho. Até agora, os números de trabalho vinham mostrando resiliência, especialmente se observados os indicadores dos Estados Unidos, mas os anúncios de cortes de vagas vêm se repetindo no começo deste ano.
“A recessão resultará em uma flexibilização acentuada das condições do mercado de trabalho”, diz o economista da Capital Economics, Paul Ashworth, apostando em elevação do índice de desemprego e menor crescimento dos salários.
Já olhando para o primeiro trimestre, a empresa de tecnologia Intel prevê, pela primeiras vez em décadas, que terá prejuízo. Com isso, já sinalizou que demissões devem acontecer. Nas últimas semanas, outras empresas do mundo da tecnologia anunciaram cortes. A IBM vai demitir mais de 3.900 pessoas. Os motivos são o resultado aquém do esperado em 2022 e a decisão de se desfazer de alguns ativos. O Spotify também anunciou que irá cortar 600 empregos.
Chamaram ainda mais atenção anúncios como o da Amazon, que disse que cortará 18 mil postos de trabalho ao redor do mundo e Alphabet, dona do Google, que prevê demitir 12 mil pessoas.
Mas as demissões em massa se espalham por diversos setores. O conglomerado industrial 3M disse que irá demitir 2,5 mil pessoas por causa da queda de demanda. A fabricante de brinquedos Hasbro vai cortar 15% da força de trabalho em todo o mundo. Já a fabricante de pneus Goodyear deverá demitir 500 pessoas refletindo quedas expressivas de demanda como a de 12% nas vendas nas regiões da Europa, Ásia e África.
O que esperar de 2023
Olhando para o futuro, os analistas ouvidos pela FactSet esperam quedas nos lucros no primeiro semestre de 2023, mas crescimento nos lucros no segundo semestre de 2023. “Para o primeiro trimestre de 2023 e o segundo trimestre de 2023, os analistas projetam quedas nos lucros de 3,0% e 2,4%, respectivamente”, diz o realtório. Para o terceiro trimestre e o quarto trimestre, projetam um crescimento de ganhos de 3,7% e 10,3%, respectivamente. Para todo o ano, preveem um crescimento de 3,4%.
Economia
Carteira de dividendos: veja os papéis mais recomendados para julho
A Petrobras foi a empresa mais indicada pelas instituições financeiras consultadas pela CNN para compor a carteira de melhores pagadoras de dividendos em julho.
O levantamento considerou as avaliações de Santander, Empiricus, XP, Guide, Ativa e BTG Pactual.
Os papéis mais recomendados foram:
- 5 recomendações: Petrobras;
- 4 recomendações: Banco do Brasil, CPFL e Vale;
- 3 recomendações: BB Seguridade, Eletrobras e Itaú.
Após um impasse sobre o pagamento ou não de dividendos extraordinários, o conselho de administração da Petrobras aprovou em abril o repasse de 50% do valor total, referente ao exercício de 2023.
Com a distribuição, a equipe de analistas do Santander avalia manter o peso dos papéis da estatal em sua carteira. Já o BTG, optou por ampliar sua exposição à estatal.
“Embora a companhia esteja sinalizando maiores investimentos, a verdadeira questão para nós é se esse aumento em potencial poderia sacrificar a capacidade da empresa de distribuir dividendos substanciais, e acreditamos que não”, aponta a equipe do BTG em relatório.
Momento de incertezas
O Ibovespa encerrou o pregão de sexta-feira (28), o último de junho, em queda de 0,32% no dia. Apesar de ter acumulado alta de 1,47% no mês, o índice caiu 7,66% no primeiro semestre deste ano.
O que se avalia é que as incertezas se mantém e o mercado seguirá se pautando por elas.
“O cenário local segue girando em torno da dificuldade do governo em convencer o mercado quanto ao seu comprometimento fiscal”, aponta a Ativa Investimentos em relatório.
O governo trabalha com a meta de zerar o déficit neste ano e no próximo — após alterar a meta de 2025, o que não foi favorável para a imagem de responsabilidade fiscal.
Apesar de o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), assegurar que o arcabouço será cumprido, o mercado vê o déficit primário em 0,7% do Produto Interno Bruto neste ano.
Lula se reuniu nesta quarta-feira (3) com ministros da área econômica do governo. Após o encontro, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, reforçou que o presidente mantém seu compromisso com as contas públicas.
“A primeira coisa que o presidente determinou é ‘cumpra-se o arcabouço fiscal’. Não há discussão sobre esse respeito. Em 2024, 2025, 2026, o compromisso nosso é de cumprimento das leis complementares de finanças públicas”, comentou Haddad.
Segundo o chefe da equipe econômica, o governo realiza desde março um estudo entre os ministérios buscando despesas que podem ser cortadas. De acordo com Haddad, foram identificados R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias, cujo corte, segundo o ministro, já foi autorizado pelo presidente.
O economista-chefe da XP Inc., Caio Megale, apontou em entrevista ao WW de terça-feira (2) que além da questão fiscal, outro imbróglio do cenário doméstico também segue na mira do mercado: a questão monetária.
“Essa transição para o próximo presidente [do BC] é uma espada, de fato, na cabeça. A gente não sabe exatamente quem vai ser a próxima ou o próximo presidente, qual vai ser a visão de política monetária que essa pessoa vai ter na hora de conduzir a taxa de juros, de tomar as decisões”, pontuou Megale.
“Acho que dar uma clareza e maior transparência de como vai ser a gestão da política monetária depois da transição do Roberto Campos e medidas efetivas no sentido de controlar as despesas do lado fiscal, eu acho que é o que vai trazer uma tranquilidade [para o mercado].”
Economia
Venda de veículos eletrificados cresce 146% no primeiro semestre de 2024
Entre janeiro e junho, comercialização de automóveis registrou cerca de 79 mil vendas, de acordo com relatório da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE)
O comércio de automóveis movidos a eletricidade segue em crescimento no Brasil. No primeiro semestre de 2024, a venda de veículos leves eletrificados alcançou um total de 79.304 unidades em todo o país. Somente no último mês de junho, foram registrados 14.396 novos emplacamentos, o que representa a terceira melhor marca para um mês de toda a série histórica.
O número maior de vendas na metade inicial do ano indica um crescimento de 146% em relação ao primeiro semestre de 2023, e de 288% na comparação com o mesmo período de 2022. Além dos automóveis totalmente elétricos, também são incluídos na estatística os veículos parcialmente eletrificados – ou híbridos. Os dados foram levantados pela Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) e divulgados nesta quarta-feira (3/7).
Com o avanço do número de vendas, a ABVE estima que o Brasil já atingiu a marca de 300 mil veículos comercializados desde o início da série histórica do levantamento, em 2012. Além disso, a previsão da associação para 2023 é que mais de 150 mil automóveis desta categoria sejam vendidos até o fim do ano em todo o território nacional, o que indica um crescimento de cerca de 60%.
No Brasil, ainda predominam os veículos elétricos plug-in, que se consolidaram no mercado nacional e representaram 69% de todas as vendas no primeiro semestre. Dentro desta categoria, estão incluídos os tipos BEV (totalmente elétricos) e PHEV (elétricos híbridos). Na sequência, os HEV convencionais (elétricos não plug-in a gasolina ou diesel) ficaram com 9,3% da parcela total de eletrificados vendidos.
Preocupação para o setor
Mesmo diante de um aumento das vendas, o setor de veículos elétricos está preocupado com o reajuste da tributação dos produtos. Desde a última segunda-feira (1º/7), passou a vigorar uma resolução que aumenta a alíquota para a importação de elétricos importados, de 10% para 18%. Em julho de 2025, sobe para 25%, até atingir 35% no ano seguinte.
“Temos ouvido notícias preocupantes sobre a antecipação da alíquota de 35% do Imposto de Importação de veículos elétricos, que estava prevista pelo Governo Federal somente para julho de 2026. Entendemos que, a se confirmar, essa antecipação configuraria uma lamentável quebra das regras estabelecidas há apenas seis meses pelo próprio governo”, avalia o presidente da ABVE, Ricardo Bastos.
Além disso, a associação teme a inclusão dos veículos elétricos no Imposto Seletivo, que é chamado popularmente de “imposto do pecado”. A lei foi estabelecida pela emenda constitucional da reforma tributária, aprovada no ano passado, com o objetivo de sobretaxar bens considerados danosos à saúde e ao meio ambiente.
Na avaliação da ABVE, a inclusão dos veículos eletrificados no IS “não faria sentido”, visto que esse tipo de automóvel emite menos gases de efeito estufa e reduz o nível de ruído nas cidades do país. “Eles são fatores decisivos para melhorar a qualidade de vida e diminuir as mortes associadas à poluição nas grandes cidades”. “Não nos parece cabível que esses veículos venham a ser taxados como se fossem produtos que fazem mal à saúde ou ao meio ambiente, o que absolutamente não é o caso”, conclui o presidente da associação.
Economia
Produção industrial cai 0,9% em maio, diz IBGE
No acumulado do ano, houve avanço de 2,5%
A produção industrial brasileira caiu 0,9% em maio em relação a abril. É o segundo recuo consecutivo, apontando retração de 1,7% no período. Com o resultado, o setor perdeu o ganho acumulado entre fevereiro e março deste ano (1,1%).
No acumulado nos últimos 12 meses, houve crescimento de 1,3%, o que acabou por reduzir a intensidade no ritmo de evolução se comparado ao resultado do mês anterior. Os dados foram anunciados nesta quarta-feira (3), no Rio de Janeiro, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE),
Os números fazem parte da Pesquisa Industrial Mensal (PIM), divulgada nesta quarta-feira (3) pelo órgão, que mostrou ainda avanço de 2,5% no acumulado dos cinco primeiros meses de 2024, se comparado ao mesmo período do ano anterior.
Influências
Nessa comparação, entre as atividades, as principais influências positivas na totalidade da indústria foram anotadas por produtos alimentícios (5,2%), coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (3,1%), indústrias extrativas (2,3%) e veículos automotores, reboques e carrocerias (4,8%).
O gerente da pesquisa, André Macedo, disse que, em maio de 2024, a indústria apresentou “predominância de resultados negativos de forma geral”, com recuo na margem e na comparação com maio de 2023.
Houve, ainda, interrupção da trajetória ascendente no índice de média móvel trimestral e perda de intensidade no ritmo de expansão no acumulado do ano e dos 12 meses anteriores.
Nesse mês, a indústria intensificou a queda que já tinha sido registrada no mês anterior, e entre os fatores que explicam esse resultado, estão as chuvas no Rio Grande do Sul, que tiveram um impacto local maior, mas também influenciaram o resultado negativo na indústria do país, informou o texto publicado pelo IBGE.
Conforme a pesquisa, 16 das 25 atividades investigadas tiveram recuo em maio de 2024. Veículos automotores, reboques e carrocerias (-11,7%) e produtos alimentícios (-4,0%) foram as duas maiores influências negativas para o resultado geral da indústria em maio.
O gerente afirmou, também, que esses dois setores foram prejudicados pelas enchentes do Rio Grande do Sul. No setor de veículos automotores, a paralisação das plantas industriais locais provocou impactos diretos e indiretos. Por causa do mau tempo, tanto as montadoras de veículos, quanto as fábricas de autopeças pararam com as produções e isso afetou também o abastecimento para a produção de bens finais no restante do país.
“Houve, por exemplo, a concessão de férias coletivas em uma planta industrial em São Paulo como forma de mitigar os efeitos das paralisações ocorridas em unidades produtoras de peças no Rio Grande do Sul”, completou.
Greve
Macedo acrescentou que a paralisação decorrente de greve em outra montadora e a base de comparação elevada também contribuíram para a queda de dois dígitos na atividade. Em abril, o setor de veículos registrou crescimento de 13,8%.
A atividade de produtos alimentícios, que responde por cerca de 15% da produção industrial do país, teve em maio o segundo mês seguido de queda. A perda acumulada no período é de 4,7%.
“A retração no processamento da cana-de-açúcar, por conta da condição climática menos favorável na segunda quinzena de maio, provocou uma queda pontual na produção do açúcar. Já entre os impactos negativos que podem ter a ver com as chuvas no Rio Grande do Sul estão as carnes de aves, de bovinos e de suínos e os derivados da soja, que são produtos que têm grande peso no setor”, explicou.
Outros setores que recuaram e influenciaram o resultado negativo do mês foram os de produtos químicos (-2,5%), máquinas, aparelhos e materiais elétricos (-6,3%), produtos do fumo (-28,2%), metalurgia (-2,8%), máquinas e equipamentos (-3,5%), impressão e reprodução de gravações (-15,0%) e produtos diversos (-8,5%).
Os principais impactos positivos no resultado geral da indústria foram as indústrias extrativas (2,6%) e de coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis (1,9%). De acordo com Macedo, esses segmentos têm grande peso e evitaram uma queda maior no resultado da indústria.
“O crescimento do setor extrativo veio após uma queda no mês anterior, ou seja, tem o efeito de uma base de comparação mais negativa. Também houve aumento na extração dos dois principais produtos, o petróleo e o minério de ferro”, afirmou.
As atividades de equipamentos de informática, produtos eletrônicos e ópticos (3,7%), produtos têxteis (2,9%), produtos farmoquímicos e farmacêuticos (1,5%), produtos de borracha e de material plástico (0,5%), outros equipamentos de transporte (0,2%), móveis (0,2%) e celulose, papel e produtos de papel (0,1%) também tiveram desempenho favorável.
“Ainda na comparação com abril, as quatro grandes categorias econômicas recuaram: bens de consumo duráveis (-5,7%), bens de capital (-2,7%), bens intermediários (-0,8%) e bens de consumo semi e não duráveis (-0,1%)”, pontuou o IBGE.
O recuo de 1,0% na comparação de maio de 2024 com maio do ano anterior teve influência dos resultados negativos de duas das quatro grandes categorias econômicas, 14 dos 25 ramos, 43 dos 80 grupos e 50,4% dos 789 produtos pesquisados, finalizou o IBGE.
Agência Brasil
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