Mundo
Americanos não aguentam mais: ‘Estrangeiros, go home’
Só este ano, foram quase 200 mil ilegais apreendidos na fronteira e depois liberados nos Estados Unidos; presidente mexicano enrola Trump
Quando até leitores do New York Times, a bíblia politicamente correta, reclamam das ondas humanas incontroláveis que não param de entrar no país, a coisa está feia.
E quando Donald Trump se prepara para a campanha pela reeleição não só sem ter cumprido a promessa principal do primeiro mandato, controlar a imigração clandestina, mas com os números aumentando, fica pior ainda.
O surto migratório tem os motivos de sempre – pobres querem fugir de países fracassados e existe uma rede profissional para ajudá-los nisso –, e algumas novidades.
Por exemplo, o novo presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, o AMLO, que se considera uma espécie de guia espiritual, assumiu prometendo “vistos humanitários” para os migrantes provenientes da América Central, especialmente Guatemala e Honduras.
Disse também que havia empregos no México para eles. Menos espiritualizados, guatemaltecos e hondurenhos preferem mesmo o paraíso americano.
Com capitalismo real, os Estados Unidos tiveram um crescimento econômico de 3% este ano. Ironicamente, uma obra em boa parte com a assinatura de Donald Trump.
No capitalismo de pés de barro que assola a América Latina, o México encolheu desde a posse de AMLO em dezembro: 0,2% de crescimento negativo.
Lembra algum outro país? Pois o México está pior em outro aspecto crucial, inclusive com influência sobre a imigração: a criminalidade aumentou com AMLO no poder. Foram 8843 homicídios nos primeiros três meses do ano, aumento de 10% (a impressionante queda nos números brasileiros parece não interessar a ninguém, por motivos nada misteriosos).
O programa de governo do presidente mexicano é combater a corrupção e diminuir a criminalidade. Mas não tem um plano multifacetado contra as grandes quadrilhas que dominam o México em proporção muito maior do que no Brasil, devido à posição única do país de receptor de cocaína vinda da Colômbia e da Venezuela e transmissor do produto para o grande mercado americano.
Depois que Trump ameaçou aumentar em 5% as tarifas de produtos provenientes do México, a atenção de AMLO se concentrou um pouco.
Primeira providência: convocar, para amanhã, uma manifestação de todas as forças vivas da nação, enquanto as mortas continuam aumentando, em defesa da dignidade do México.
Segunda, desmentida e depois confirmada, à maneira latino-americana: enviar a Guarda Nacional para a fronteira com a Guatemala, com o objetivo de controlar a crescente onda humana e não levar o que seria uma destruidora sobretaxa.
O México tem balança comercial positiva com os Estados Unidos: importa 300 bilhões de dólares e exporta 370.
Claro que produtores americanos que exportam para o México e os que têm empreendimentos no país também entraram em surto com a ameaça de Trump e acionaram seus bons amigos no Partido Republicano.
O vice-presidente Mike Pence, representando o governo americano nas negociações com o México, avisou gentilmente que as tarifas punitivas começam na próxima segunda-feira.
O México manda hoje menos gente para os Estados Unidos do que no pico da migração clandestina, mas permite a livre passagem de guatemaltecos e hondurenhos, sem contar chineses, árabes e até africanos que fazem a travessia ilegalmente.
Chegam com o roteiro organizado: cruzam a fronteira, “entregam-se” a agentes de migração, lêem ou pronunciam o pedido de asilo político. Os que não levam crianças, próprias ou emprestadas, como garantia de passagem livre, ficam apreendidos durante alguns dias.
Assumem o compromisso de comparecer perante um juiz quando forem convocados, para defender o pedido de asilo. Com tornozeleira eletrônica, são levados nas “vans brancas” do Departamento de Segurança Interna e desovados, por assim dizer, em cidades próximas da fronteira.
Adivinhem quantos comparecem à audiência, quando intimados?
Menos de um terço. A média diária de migrantes clandestinos assim “despejados” chegou a 5 500. Nesse ano, foram 196 mil. Isso sem contar os que entram sem se entregar voluntariamente ou ser apreendidos. Devem passar de um milhão até o fim do ano.
Mesmo um país rico, enorme, diversificado e cheio de empregos como os Estados Unidos tem sérias dificuldades para lidar com números dessas proporções.
Como todos os demais do Novo Mundo, os Estados Unidos são um país construído por imigrantes, desde os puritanos que saíram da Inglaterra no Mayflower até as massas que passavam por Ellis Island, muitos dando pequenos beliscões no rosto para ficar corados e não parecer ter alguma doença – passaporte para ser despachado de volta.
Quem chegava assim, dependia de parentes, amigos ou da pura iniciativa própria para encontrar trabalho e ganhar a vida. Posteriormente, os imigrantes passaram a precisar de um “patrocinador” que garantisse o básico, sem recursos do governo, até se firmar por conta própria.
O “modelo” atual, para os migrantes clandestinos, não tem nada disso. Os custos, incluindo escolas para as crianças e atendimento médico emergencial para todos, acabam pesando nos municípios onde eles são ”desovados”.
“Por que temos que tomar conta de pessoas que se recusam a tomar conta de si mesmas?”, perguntou um leitor indignado do New York Times, jornal alinhado com a política progressista de portas abertas.
“Professores fazem greve porque são sobrecarregados com os resultados reais desse tipo de migração”, escreveu outro, com o nick Please Go Home. “Está na hora de acabar com isso. Os pedidos de asilo têm que ser processados no México, onde têm a mesma língua e a mesma cultura.”
Trump passou um tempão falando no “muro bem bonito” que ia fazer, mas agora está na seguinte situação: sem muro e sem outras políticas de controle de uma situação que parece cada vez mais incontrolável. Daí a ameaça do tarifaço de 25%.
Além dos progressistas em geral, muitas igrejas, especialmente a católica, apoiam a política de portas abertas. Organizações que misturam os dois componentes, esquerdismo à moda da Igreja Católica, promovem, financiam e dão a infraestrutura para as grandes marchas de migrantes da América Central. A Pueblo Sin Fronteras é uma das mais conhecidas.
Mas nada se compara ao empreendedorismo movido a lucro dos “coiotes”, hoje organizados em esquemas que providenciam tudo para a viagem que varia de quinze a vinte dias.
Incluindo meia passagem para crianças, tratadas como um trunfo em razão das facilidades que os americanos dão aos adultos que as trazem. É só pagar cinco mil dólares, adiantados ou garantidos para data futura, quando o migrante já tiver arranjado emprego.
Os novos e dinâmicos coiotes distribuem cartões – “Confie em Deus e em nós” – até nos vilarejos mais pobres de povos indígenas que ainda falam um dialeto misturado de espanhol e língua nativa.
Como acontecia no México, existem hoje na Guatemala classes inteiras em escolas pobres onde as crianças têm pai e mãe nos Estados Unidos. Todas sonham em fazer a mesma coisa quando forem maiores.
Os Estados Unidos são o país que mais recebe estrangeiros. Atualmente, são 45 milhões – um número inacreditável – de pessoas nascidas em outro país. Cerca de 25% entraram clandestinamente.
Os cinco primeiros lugares de estrangeiros, independentemente da situação jurídica, são: México (11,2 milhões), China (2,9 milhões), Índia (2,6 milhões), Filipinas (2 milhões) e El Salvador (1,4 milhão).
Nem precisa adivinhar para saber quais estrangeiros têm o índice mais alto de instrução, adquirida no próprio pais ou nos Estados Unidos, e quais estão no fim da fila. Uma dica: 52% dos asiáticos têm grau universitário completo.
Os Estados Unidos precisam tanto de pesquisadores científicos quanto de trabalhadores agrícolas, mas é evidente que muitos americanos não aguentam mais subsidiar mão de obra barata ou dar bolsa-migrante para os que chegam já querendo tirar um farelinho da monumental torta de maçã.
O ato convocado pelo presidente mexicano “para defender a dignidade do México” será em Tijuana, a notória cidade fronteiriça. AMLO, da tribo dos populistas de esquerda mas ainda sem a pecha da corrupção, tem 64% de aprovação. Tudo o que escreve ou diz poderia ter sido escrito ou dito pelo papa Francisco.
“Lembre-se que não me falta coragem, não sou covarde nem temeroso”, escreveu ele a Trump depois da ameaça do tarifaço, em típico estilo autoelogioso. “Presidente Trump, os problemas sociais não são resolvidos com impostos ou medidas coercitivas.”
Ironicamente, muitos americanos que não querem maltratar ou humilhar os migrantes que chegam por cima ou por baixo do pano, mas não veem saída que não seja coercitiva para controlar o fluxo, respondem com a palavra de ordem que tantas vezes foi usada na América Latina contra os Estados Unidos: “Go home”.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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