Brasil
Alimentação à base de vegetais ganha força em comunidades do Rio
Dieta antes associada a um estilo de vida caro, luxuoso e inacessível se populariza: é possível a ter uma alimentação boa, bonita e equilibrada em qualquer lugar
‘Mas se você não come carne, então come o quê?” A pergunta feita aos que abandonam uma dieta à base de proteína animal fica mais frequente quando quem adere a uma alimentação plant based (à base de alimentos vegetais) mora na favela. As explicações são muitas. A primeira é cultural. Estamos habituados a consumir proteína animal em todas as refeições. Não à toa, um prato sem carne é considerado “pobrinho”, sem sustância — o que está longe de ser verdade. A outra é que a dieta é associada a um estilo de vida caro, luxuoso, inacessível para quem vive em comunidade. Mas algumas vozes periféricas têm mudado o tom desse discurso mostrando que, sim, é possível a ter uma alimentação boa, bonita e equilibrada em qualquer lugar.
Regina Tchelly plantou a semente da mudança quando criou o Favela Orgânica, nas favelas Babilônia e Chapéu Mangueira, na Zona Sul do Rio. Hoje, o projeto já faz parte da comunidade e tem até calendário de festas, como a junina, que acontece hoje, do meio-dia às 20h.
— Minha bandeira nunca foi o veganismo, mas mudar a relação das pessoas com a comida, mostrando que é possível ter uma boa alimentação com poucos recursos, aproveitando o que se tem em casa — conta Regina, que tem uma série no YouTube ensinando a multiplicar os alimentos da cesta básica vegetal: — Ensino a plantar, colher, comer e gerar renda.
Combater a fome é a premissa do Semeando Amor, em Rio das Pedras. A saída para isso foi uma alimentação 100% vegetal. Todo sábado voluntárias fazem uma triagem, separam em minicestas básicas e distribuem para cerca de cem idosos, doentes e mães solo.
— Ninguém tinha dinheiro para comprar carne. Mas era muito desperdício, muita coisa estragava. Vimos que podíamos mudar isso — diz Ivone Rocha, à frente do projeto.
E tem dado certo. Quando sabe que tem “salmão” no almoço do trabalho, Maria Eunice já pede uma coisinha diferente. “Salmão” é como chamam salsicha por lá, e faz tempo que ela eliminou embutidos, processados e industrializados.
— O que as pessoas desperdiçam, eu aproveito. Uma banana mais passada vira um doce, um bolo — conta ela, que mora com o marido e os filhos. — Levo as comidas, depois digo o que é.
Durante a semana, 20 crianças usam o espaço para aulas de reforço, com direito a lanche, claro.
— Desde setembro elas não consomem aqui refrigerante, nem salgadinhos de pacote.
De acordo com Bruna Crioula, nutricionista, mestranda em Ciências Sociais e fundadora da Crioula Curadoria Alimentar, o que é necessário considerar é que uma dieta à base de plantas precisa ser diversificada e equilibrada, na qualidade e quantidade:
— Excluir animais da dieta não traz qualquer prejuízo às nossas demandas nutricionais independentemente da fase da vida — diz, fazendo uma ressalva: — Comida de verdade é arroz, feijão, mandioca, amendoim, milho, favas, folhas, frutas, sementes.
Mais nutritivo
Falando não apenas com a comunidade, mas com toda uma geração, os gêmeos do Vegano Periférico, Eduardo e Leonardo Santos, de Campinas, são referência contra a exploração animal e a favor de barriga cheia. Diariamente, eles postam pratos feitos repletos de cores, nutrientes e informação.
— Se eu fosse ter uma alimentação com proteína animal saudável, sem embutidos, certamente seria mais cara. O que eu como é mais colorido, mais nutritivo, tem muito menos gordura e é mais acessível — diz Eduardo.
A estética criada por eles dá livre acesso a quem mora em comunidade curtir, compartilhar e colocar em prática o que é visto por lá.
— Não tenho acesso a tofu, cogumelos, aspargos. É caro e não tem perto de mim. É muito longe da realidade. O que fizemos foi criar uma estética que não tinha na periferia, com a parede que a gente tem, com o prato que a gente come, sem frescura, mostrando aquele produto que custou R$ 5 no mercadinho — ressalta Leo: — Fazemos um recorte mais acessível expondo nosso dia a dia, o que mudou completamente a cara do veganismo. A questão cultural é tão forte quando consumir porco, vaca. A gente tem que conversar para mudar na raiz.
Cozinha solidária
Segundo pesquisa do Ibope, se em 2012, 8% da população se autodeclarou vegetariana, essa porcentagem subiu para 14% seis anos depois. Na mesma consulta, 60% da população disse que consumiria mais produtos veganos, caso os preços fossem menores.
A família de Thiago de Paula sempre trabalhou no mercado gastronômico de São Paulo, em restaurantes caros. Essa experiência somada àda mãe, tias e irmãs criou um tempero único.
— Tia Nice (mãe de Thiago) como toda mulher preta da periferia fez vários corres. Lá em casa sempre teve comida gostosa, boa. Quando a gente não tinha acesso a carne, ela recorria a plantas alimentícias do quintal, fazia aquela saladona — lembra Thiago.
Em 2019, eles abriram o Organicamente Rango, em Campo Lindo, São Paulo, restaurante sustentável, com preços baixos. Diariamente, 800 refeições são distribuídas. Desde o início da pandemia, já foram doadas 300 mil marmitas.
Thiago entrou na lista 50 Next, do World’s 50 Best Restaurants, que destaca jovens que podem mudar os rumos da gastronomia no mundo, na categoria empreendedorismo criativo.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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