Brasília
A ciência brasileira está na UTI – mas conseguiremos recuperá-la?
Em tempos de coronavírus, produzir uma vacina nacional pode ser uma carta na manga. Mas, para Lucile Maria Floeter-Winter, da SBPC, isso não significa que os investimentos em ciência devem aumentar
A cada um real investido em ciência, existe um retorno de dez reais. A falta de investimento na área, entretanto, apenas aumenta o problema financeiro e causa atrasos no conhecimento científico do país. Sem verba, os laboratórios se tornam obsoletos, os insumos precisam ser cada vez mais importados de outros países, o que leva mais tempo, e é difícil manter talentos, que preferem oportunidades no exterior.
Para Lucile Maria Floeter-Winter, diretora da Sociedade Brasileira Para o Progresso da Ciência (SBPC), a falta de investimentos deixa o mercado da ciência brasileira menos atrativo tanto para empresas quanto para cientistas. “Isso não é levado em conta pela área econômica. Sem investimento, perdemos a competitividade, a soberania nacional e nos tornamos escravos de outros países”, diz Floeter-Winter.
Nosso parque de equipamentos na área biológica fica obsoleto muito rápido e a falta de investimento impede a renovação de equipamentos cruciais na pesquisa. A morosidade e a burocracia, que também são impedimentos importantes, atingem principalmente os insumos que são utilizados em pesquisa e não há mercado atrativo para a produção desses insumos no país.
Outro fator impactante importante reside na formação de pessoal qualificado. É difícil atrair jovens talentosos quando não há reconhecimento por seu trabalho, ou mesmo quando não há perspectivas de futuro – ou esses jovens acabam indo para outras atividades ou vão embora do país, o que é uma perda muito grande.
O que faz com que o capital estrangeiro e o setor privado brasileiro não invistam em pesquisas científicas no Brasil?
A covid-19 trouxe muitas lições que devem ser aprendidas, e a associação de instituições privadas com instituições públicas de pesquisa é uma das lições que precisam ser consolidadas. No Brasil não há tradição de uma união entre o setor privado e a ciência.
As empresas não estão acostumadas a fazer a demanda para a academia de perfis profissionais que elas podem absorver em seus quadros, o que poderia dar alguma perspectiva na formação de jovens doutores.
Já as empresas farmacêuticas estrangeiras, por exemplo, trazem as soluções das respectivas matrizes, que comumente são desenvolvidas por pessoas de seu país de origem.
Apesar dos problemas financeiros, os cientistas do Brasil conseguiram sequenciar o vírus da covid-19 antes do resto do mundo e fazem publicações quase que diariamente em relação ao novo coronavírus. O que isso mostra para o Brasil e para o resto do mundo?
Quando se fala em formação de pessoal qualificado, deve-se pensar no investimento feito desde a formação de ensino fundamental e básico, seguido pela formação superior, que se conclui com um doutorado de boa qualidade. Isso leva muito tempo.
O Brasil tem pesquisadores muito bem formados, a comunidade de cientistas brasileiros já é respeitada lá fora. O exemplo do sequenciamento do material genético do vírus é excelente.
Um grupo que já aplicava esse tipo de técnica em seus estudos (financiados pela FAPESP), pode rapidamente aplicar seu conhecimento e expertise resolvendo a sequência do material genético do coronavírus. Sem esse suporte de bons grupos atuantes em áreas diversas, não é possível estabelecer essa competência.
Existe a possibilidade real de uma vacina brasileira ser desenvolvida contra a covid-19? Quais são os maiores empecilhos nessa empreitada?
Há alguns grupos de pesquisa brasileira estudando o desenvolvimento de uma vacina contra o SARS-CoV-2. Os maiores empecilhos são a burocracia e a demora na aquisição de insumos.
Qual seria o impacto de o Brasil conseguir produzir uma vacina nacional para o SARS-CoV-2? Isso aumentaria a autoestima do brasileiro em relação ao que é feito dentro do próprio país e fomentaria mais investimentos no setor?
O impacto positivo seria enorme. Mas veja o caso do vírus zika, por exemplo: o Brasil conseguiu, em pouco tempo, estabelecer a correlação entre a presença do vírus na gestante e o nascimento de crianças com microcefalia — o que foi um achado brilhante e importante, impedindo um aumento do número de casos. Isso não foi suficiente para estimular o investimento em pesquisa.
Mesmo com vacinas aprovadas no momento, faz sentido seguir com as pesquisas para o desenvolvimento de outras imunizações contra a covid-19?
As vacinas da Pfizer e da Moderna foram desenvolvidas com a colaboração de cientistas que já vinham estudando a possibilidade de se fazer uma vacina de RNA há muito tempo.
As pesquisas devem sempre continuar, desde que estejam alicerçadas em bases da boa ciência, ou seja, utilizem o método científico para chegar a conclusões sólidas. É preciso lembrar que ciência é um processo dinâmico. Se não for alimentado constantemente, perde-se.
Por serem dinâmicos, os resultados podem ser agregados e novas hipóteses podem ser formuladas e testadas, esse é progresso que resulta do desenvolvimento científico, e a possibilidade de aplicação desses conhecimentos leva ao desenvolvimento tecnológico e à inovação.
Qual a importância financeira de se investir em ciência no Brasil?
Para cada valor investido em ciência, há um retorno de cerca de 10 vezes, ou seja, a cada real investido na área, existe um retorno de dez reais. Isso não é levado em conta pela área econômica.
Sem esse investimento perdemos a competitividade, a soberania nacional e nos tornamos escravos de outros países, tendo que sempre comprar a solução, que custa dez vezes mais do que um investimento inicial custaria.
Existe alguma forma de nos prepararmos para futuras pandemias?
Outras pandemias irão ocorrer. Respeitar o planeta Terra e seu ecossistema é a forma que o mundo deve adotar para evitar que novos agentes patogênicos se espalhem. O Brasil precisa aprender a respeitar suas florestas, o pantanal, proteger sua biodiversidade, que é riquíssima. Essa é a maneira de se preparar.
Motoristas que passaram pelo local estranharam a fumaça preta que sai das torres, que se trata, na verdade, de uma simulação de incêndio
Uma fumaça no Congresso Nacional assustou os brasilienses nesta sexta-feira (21/6). Quem passou pelo local, observou uma fumaça preta saindo pelas torres do órgão e se preocupou. Vídeos gravados pelos moradores da capital mostram o momento, confira:
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A fumaça se trata, na verdade, de um procedimento para exercício de enfrentamento de emergência, realizado pela Seção de Prevenção e Combate contra Incêndios do Departamento de Polícia Legislativa (Seprin/Depol) no Anexo I.
O Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBM-DF) confirmou que a fumaça se trata da simulação.
A data da simulação não foi incialmente anunciada e terá duração de aproximadamente duas horas. A energia do edifício foi desligada e não é autorizada movimentação de veículos no estacionamento até o término da ação.
Brasília
Governo federal libera mais R$ 1,8 bilhão para ações de apoio ao RS
Crédito extraordinário foi autorizado por meio de medida provisória
A MP entra em vigor imediatamente, mas precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional para não perder a validade.
A maior parte do montante irá para ações da Defesa Civil e o Auxílio Reconstrução, somando mais de R$ 1,4 bilhão. Os recursos autorizados hoje poderão também ser usados para volta das atividades de universidades e institutos federais, assistência jurídica gratuita, serviços de conectividade, fiscalização ambiental, aquisição de equipamentos para conselhos tutelares e atuação das polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública.
No último dia 11, o governo federal já havia destinado R$ 12,1 bilhões, também por MP, ao estado, para abrigos, reposição de medicamentos, recuperação de rodovias e outros.
>> Veja como será distribuição do crédito extraordinário de R$ 1,8 bilhão:
– Retomada de atividades das universidades e institutos federais (R$ 22.626.909)
– Fortalecimento da assistência jurídica integral e gratuita (R$ 13.831.693)
– Suporte aos serviços de emergência e conectividade (R$ 27.861.384)
– Ações de fiscalização e emergência ambiental (R$ 26.000.000)
– Aquisição de equipamentos para Conselhos Tutelares (R$ 1.000.000)
– Ações da Defesa Civil (R$ 269.710.000)
– Auxílio Reconstrução (R$ 1.226.115.000)
– Ações integradas das Polícias Federal, Rodoviária Federal e da Força Nacional de Segurança Pública (R$ 51.260.970).
De acordo com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, o crédito visa atender “a diversas despesas relativas ao combate às consequências derivadas da tragédia climática que atingiu o Rio Grande do Sul, tanto no aspecto de defesa civil e logística, como também o enfrentamento das consequências sociais e econômicas que prejudicam toda a população e os entes governamentais”.
No total, já foram destinados R$ 62,5 bilhões ao estado, arrasado pelas chuvas, conforme a Presidência da República.
Por Agência Brasil
Brasília
Senador abastece carros da família com verba pública; gasto por mês daria para cruzar 4 vezes o país
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O senador Alexandre Luiz Giordano (MDB) manteve perfil discreto desde que assumiu o cargo por ser suplente de Major Olímpio (do antigo PSL), que morreu em 2021 durante a pandemia vítima de Covid-19. Ele tem chamado atenção no meio político, porém, pela prestação de contas com combustíveis e seu périplo por restaurantes caros de São Paulo.
Levantamento da Folha de S.Paulo mostra que gastos de mais de R$ 336 mil abasteceram carros de Giordano, de seu filho e também de uma empresa da família. Com o combustível em preços atuais, o total seria o suficiente para dar 17 voltas na Terra. A média mensal de gastos com o item, de cerca de R$ 9.000, possibilitaria cruzar o país, em uma linha reta do Oiapoque ao Chuí, quatro vezes por mês.
O senador diz não haver irregularidade nos gastos e que não utiliza toda a verba disponibilizada. Ele ainda justifica o uso de veículos particulares para economia e afirma que o STF (Supremo Tribunal Federal) já arquivou questionamento sobre gasto de combustível. A apuração, porém, não esmiuçava todos os detalhes dos gastos do senador ao longo de três anos.
Os dados no site do Senado apresentam limitações por misturar despesas com locomoção, hospedagem, combustível e alimentação uma minoria de senadores traz um detalhamento ampliado, o que não ocorre nos dados relativos a Giordano. Nessa categoria mais ampla, Giordano tem o sexto maior gasto desde que assumiu, com um total de R$ 515 mil. A reportagem localizou R$ 336 mil em despesas exclusivamente com postos de gasolina por meio da análise do nome dos estabelecimentos, que é de longe o maior entre senadores por São Paulo.
Pelo mesmo recorte, o senador Astronauta Marcos Pontes (PL), por exemplo, gastou por volta de R$ 10 mil em postos de gasolina e centros automotivos nos últimos três anos. Já Mara Gabrilli (PSD) gastou R$ 26 mil. No caso de Giordano, a maioria das notas está concentrada no Auto Posto Mirante (R$ 183 mil), zona norte da capital paulista, região do escritório político e empresas da família do senador. Outro posto, o Irmãos Miguel consta de reembolsos que somam por volta de R$ 122 mil. O estabelecimento fica na cidade de Morungaba, de menos de 14 mil habitantes, no interior de São Paulo.
O lugar abriga o Hotel Fazenda São Silvano, do qual Giordano é dono. O senador não detalhou por qual motivo concentra tamanho gasto em combustível na cidade. A Folha de S.Paulo também encontrou gastos em Ubatuba, no litoral norte de São Paulo. Todas registradas em finais de semana, quatro notas, totalizam gastos de R$ 1.200 no Auto Posto Ipiranguinha, que fica na rodovia Oswaldo Cruz a reportagem localizou ação judicial do ano passado que cita um imóvel do filho de Giordano, Lucca, em condomínio a cerca de 2 km do local.
Em um dos domingos em Ubatuba, em janeiro de 2023, também foi registrado um gasto R$ 255 com um pedido de um abadejo para dois. Na época desse gasto, o Senado estava em recesso. A reportagem encontrou diversos gastos com refeições aos finais de semana, mesmo durante a pausa do Legislativo. As despesas do senador com alimentação chamam a atenção pela predileção por restaurantes caros, conforme foi revelado pelo Metrópoles.
Em março, há uma nota fiscal de R$ 681 da churrascaria Varanda Grill, na região da Faria Lima, que incluiu dois carrés de cordeiro por R$ 194 cada. Em 2022, o ressarcimento foi de R$ 810 na churrascaria Rodeio, em Cerqueira Cesar, com direito a uma picanha para dois no valor de R$ 385. A lista traz locais como Fogo de Chão, Outback, Jardim Di Napoli e Almanara.
A exigência não vai apenas para os pratos. Uma nota fiscal do restaurante Cervantes traz R$ 144 apenas em seis unidades de água, das marcas premium San Pellegrino e Panna. Em 2018, Giordano declarou R$ 1,5 milhão em bens à Justiça Eleitoral. Desafeto de Ricardo Nunes (MDB), Giordano levou para Guilherme Boulos (PSOL) seu apoio, mas também um histórico de polêmicas na política.
O caso mais ruidoso veio à tona em 2019, quando Giordano foi personagem de uma crise política no Paraguai envolvendo a usina hidrelétrica binacional de Itaipu. Segundo as investigações, o então suplente usou o nome da família Bolsonaro para se credenciar na negociação da compra de energia. Ele nega ter falado em nome do governo ou do clã Bolsonaro.
SENADOR DIZ QUE USA CARROS PARTICULARES PARA ECONOMIZAR
O senador Giordano afirma que os os gastos já foram analisados pelo Senado, pela Procuradoria Geral da República e pelo STF, sendo que os dois últimos arquivaram procedimento preliminar “por entenderem que não há qualquer ilegalidade nos apontamentos realizados”.
O MPF havia pedido à corte que intimasse o senador após apurar gasto de R$ 3,9 mil em gasolina e diesel em um só dia. O arquivamento aconteceu após explicação de que esse tipo de gasto se referia a 15 dias ou mais, e não a uma única visita.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, aceitou o argumento e ressaltou que os gastos não ultrapassam o limite mensal de R$ 15.000 para este tipo de item. Giordano diz que cota parlamentar contempla também de sua assessoria quando em atividade e afirma que “utiliza e disponibiliza para seus assessores, quando em apoio à atividade parlamentar, os veículos que possui”. Ele afirmou ainda que assessores utilizam, se necessário, os próprios veículos para deslocamentos no âmbito da atividade também.
A resposta aconteceu após a reportagem enviar quatro placas de veículos à assessoria de Giordano, no nome dele, do filho e de empresa da família, que constavam das notas. Ele justifica o uso dos automóveis para “evitar a ampliação do uso da verba de gabinete com aluguéis de veículos” e que os gastos nos postos citados ocorrem por questões logísticas. “Vale ressaltar que este parlamentar não utiliza toda a verba disponibilizada, tendo mensalmente sobras acumuladas”, afirma, em nota.
O senador ainda afirmou que atividade parlamentar não se restringe a dias úteis, “estando o parlamentar em contato constante com sua base para atender às demandas postas”. Giordano também afirmou que os gastos com alimentação ocorrem no exercício de atividades parlamentares e que as refeições mencionadas estão ligadas ao cumprimento do mandato, estando em conformidade com a lei.
A reportagem localizou recibos com placas de veículos em nome do filho do senador, Lucca Giordano, de empresa da família e do próprio parlamentar as notas citam o senador como cliente. A maioria dos comprovantes, porém, não especifica o carro abastecido.
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