Mundo
A 100 dias das eleições nos EUA, Trump enfrenta o espectro da derrota
Desde 1980, todos os candidatos que tiveram uma vantagem tão importante neste momento venceram, à exceção do democrata Michael Dukakis
Donald Trump tem 100 dias para inverter a tendência. Isolado, preso na nostalgia de sua vitória em 2016 e criticado em suas próprias fileiras por sua gestão da pandemia da covid-19, o presidente americano passa por um momento ruim.
As eleições presidenciais de 3 de novembro se anunciam como muito tensas, em um momento em que o país se encontra dividido e preocupado, em meio às 140.000 mortes por covid-19 e ao choque da crise econômica.
À medida que se aproxima a marca dos 100 dias para as eleições, neste domingo, seu estilo de confrontação se intensifica.
Trump, de 74 anos, afirma que seu rival democrata Joe Biden, de 77, é um “fantoche” da “esquerda radical” e o acusa de querer destruir o “estilo de vida americano”. Em resposta, o candidato democrata afirma que o que está em jogo é “uma batalha por qual é a alma” dos Estados Unidos.
Atrás em todas as pesquisas, o magnata republicano teme os efeitos de uma derrota humilhante, que o tornaria o primeiro presidente de um único mandato em mais de um quarto de século.
Nem todas as cartas estão sobre a mesa ainda e, após três anos e meio de uma Presidência instável, ainda pode haver surpresas. Uma possibilidade é que seu rival cometa um erro monumental. Ou, que morra um dos juízes da Suprema Corte, ou que seja obtida uma vacina contra a covid-19.
Até agora, no entanto, a pandemia enfraqueceu Trump. Segundo uma pesquisa publicada pela emissora ABC News, dois terços dos americanos desaprovam sua resposta ao coronavírus.
“Pesquisas falsas”
“Não estou perdendo, as pesquisas são falsas”, afirma em tom de confronto. Mas, em sua maneira de agir, algo parece mostrar que ele sabe que as coisas podem dar errado em novembro. No início da semana, ele mudou de gerente de campanha e admitiu, na quarta-feira, que a situação da covid-19 “vai piorar antes que haja uma melhora.”
“Dar exemplo é importante”, disse ele ontem à tarde, quando anunciou o cancelamento de grande parte da convenção republicana prevista para o final de agosto, em Jacksonville, na Flórida.
Seu tom tem se aproximado daquele esperado de um chefe de Estado, mas ninguém sabe quanto tempo vai durar. E, considerando-se seus mais de 1.300 dias na Casa Branca, a dúvida é razoável.
No momento, os números não são positivos para o republicano.
Segundo a média de pesquisa feita pelo site RealClearPolitics, Biden acumulou, por mais de seis semanas, uma vantagem entre oito e dez pontos sobre Trump.
Desde 1980, todos os candidatos que tiveram uma vantagem tão importante neste momento venceram — à exceção do democrata Michael Dukakis, derrotado por George Bush em 1988.
No Texas, um estado em que nenhum democrata conquistou uma vitória desde Jimmy Carter, em 1976, e onde Trump venceu com facilidade em 2016, ambos os candidatos estão lado a lado. Com 38 votos no Colégio Eleitoral, esse estado no sul do país é um reduto cobiçado de qualquer candidato.
O clima é tenso no campo republicano, que, além da Casa Branca, tentará manter sua maioria no Senado. Há alguns dias, Liz Cheney, uma das líderes da minoria republicana na Câmara, foi acusada de ser desleal.
“Liz Cheney trabalha nos bastidores [e agora em público] contra Donald Trump e seu programa”, alertou Matt Gaetz, representante da Flórida. Outra dificuldade é que Trump ainda não articula seu projeto e sua visão para os próximos quatro anos.
Por enquanto, apoia-se em seu mantra de “lei e ordem” e promete firmeza diante dos distúrbios que abalaram várias cidades americanas, devido a protestos contra o racismo e a brutalidade policial.
Seus críticos o acusam de querer chamar a atenção e lembram que, a cada eleição — assim teria sido em 2016 e nas eleições de meio de mandato de 2018 —, Trump joga a mesma carta.
O presidente procura atacar Biden, que, com uma campanha de expressão mínima, oferece-lhe poucas chances.
Obama e a “decência”
Antes do início dos debates após o verão (Hemisfério Norte), o ex-vice-presidente se contenta com algumas aparições contadas na imprensa. Nos últimos dias, somou à sua campanha seu antigo chefe: o ex-presidente Barack Obama, que promete se tornar um ímã para as massas.
A campanha de Biden divulgou um vídeo de 20 minutos que mostra os dois políticos na mesma sala, mas respeitando a distância social imposta pela covid-19, em uma conversa cheia de cumplicidade.
“Além das políticas específicas que serão implementadas […] Antes de tudo, há um enorme apetite por uma forma de decência”, resumiu Obama, que também elogiou a “empatia” daquele que espera ver se tornar o 46º presidente dos Estados Unidos em 20 de janeiro de 2021.
À incerteza sobre uma campanha incomum, acrescentam-se as dúvidas sobre o processo eleitoral.
Durante semanas, Trump argumentou — sem provas — que a votação por correio, que pode ser uma das principais formas de participação neste ano por causa da pandemia, pode levar a tentativas de fraude em massa.
Ao ser questionado se iria se comprometer a aceitar os resultados das urnas, Trump foi evasivo.
“Vou ver”, respondeu, em entrevista à FOX News.
Mundo
Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas
Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”
Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.
A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.
A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.
Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.
Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.
A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.
Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.
No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.
O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.
“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.
“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.
Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.
Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.
Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.
Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.
versão original
Mundo
Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano
Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra
Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.
Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.
Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.
Mundo
Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder
País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando
Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.
A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.
Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.
Como funcionam as eleições?
O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.
Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.
Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.
O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.
Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.
O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.
A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.
O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.
Quem é Keir Starmer?
O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.
Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.
Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.
O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.
Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.
Quando saíram os resultados?
Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.
Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.
Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.
Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.
De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.
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