Brasil
Diretor da Ação Educativa vê “corrosão geral” no MEC
Para Roberto Catelli, pautas reais da Educação vem sendo abandonadas por questões ideológicas do governo e não há diálogo entre sociedade civil e Ministério
A gente está vendo a corrosão geral das políticas estabelecidas”. Assim Roberto Catelli, coordenador executivo adjunto da ONG Ação Educativa — que desde 1994 trabalha com educação —, define os primeiros meses da gestão Ricardo Vélez Rodríguez no Ministério da Educação.
À frente da pasta há três meses, o ministro já esteve, segundo a imprensa, a ponto de ser demitido do cargo após protagonizar uma série de episódios controversos: do envio de uma carta pedindo que representantes de escolas públicas e privadas gravassem alunos cantando o hino nacional (e que lessem uma mensagem do ministro com o slogan da campanha de Jair Bolsonaro) à inclusão de publicidade em livros didáticos.
O ministro consegue desagradar tanto a bancada evangélica como educadores. “Acho que não é preciso muito esforço, e isso é um dos poucos consensos nacionais, para dizer que é uma gestão desastrosa”, afirma Catelli.
Nas últimas semanas, o noticiário a respeito do ministério se resume a uma acirrada disputa interna, que incluiu 13 mudanças no alto escalão da pasta em oito dias, entre seguidores do escritor Olavo de Carvalho (chamados de “olavistas”) e outras alas, como os militares.
No meio do fogo cruzado estão as pautas reais da educação brasileira, completamente escanteadas, destaca Catelli. “A gestão ignora as discussões que de fato precisariam ser encaradas, questões que vinham sendo debatidas, com concordâncias e discordâncias, nos últimos dez anos.
Pautas como o Plano Nacional de Educação e sua implementação, as questões relacionadas à diversidade na sala de aula, à qualidade do ensino, a atualização da Base Nacional Comum Curricular [BNCC], o financiamento da Educação”, avalia.
Como você avalia a gestão do ministro Ricardo Vélez Rodríguez até agora?
Acho que não é preciso muito esforço — e isso é um dos poucos consensos nacionais —, para dizer que é uma gestão desastrosa. Uma gestão que não consegue tratar das pautas reais da Educação. Que ignora as discussões que de fato precisariam ser encaradas, e que vinham sendo debatidas com concordâncias e discordâncias nos últimos dez anos.
Pautas como o Plano Nacional de Educação e sua implementação, as questões relacionadas à diversidade na sala de aula, à qualidade do ensino, a atualização da Base Nacional Comum Curricular [BNCC], o financiamento da Educação.
São as questões reais que precisam ser enfrentadas no país e efetivamente esse governo não consegue sequer manter uma equipe que consiga gerir [o Ministério] do ponto de vista administrativo. Então a gente está no meio de uma administração bastante crítica.
De todas essas discussões que estão sendo escanteadas, quais são as pautas mais sensíveis que teriam que estar recebendo uma atenção maior do Ministério?
O Plano Nacional de Educação (PNE) contém chaves para vários temas importantes em termos de implementação. A questão da diversidade está incluída lá, a questão do financiamento da Educação em relação ao custo e o investimento em Educação, que o governo vem até fazendo um esforço para retirar a questão da obrigatoriedade do complemento do CAQ [Custo Aluno Qualidade].
Se fosse possível pelo menos ter uma discussão minimamente relevante de uma lei que tem que ser implementada até 2024, como é o PNE, isso já seria um grande avanço. A BNCC faz parte do Plano Nacional de Educação.
Existe um primeiro problema que é o não cumprimento da Lei Nacional de Educação. Exemplo disso é a questão do Custo Aluno Qualidade (CAQ), incluído no PNE, e a implementação do CAQ.
Nesta semana, o MEC criou uma situação em que procura desmontar o fórum que deveria dar seguimento a esse tema [CAQ], buscando manipular uma situação em que ele não precise se ver obrigado a cumprir com aquilo que está na lei.
Por que há a resistência em pautar a discussão do PNE?
É mais do que uma resistência. Cumprir o Plano Nacional de Educação significa também seguir uma orientação política, e esse grupo busca um caminho diferente.
O PNE inclui desde a diversidade, a garantia do direito à educação, todo um caminho que vai na defesa do direito da educação pública e gratuita, colocando também a defesa à diversidade, que não tem se colocado até aqui nos discursos de campanha e nos caminhos que vem sendo defendidos.
Há um discurso no MEC, sobretudo do grupo ligado ao Olavo de Carvalho, de recusa de diálogo com ONGs e instituições ligadas à pauta da Educação. Eles classificam tais organizações como “globalistas”. Como está sendo o diálogo de vocês com o MEC? Como você avalia esse discurso?
O diálogo não existe. Não há nenhum diálogo com essa gestão e nem se abre essa possibilidade. Não existe um interlocutor e nem uma expectativa de diálogo. E todo esse discurso que passa pelo globalismo, pela questão do marxismo cultural e como isso de alguma maneira se coloca como um discurso para a educação, a gente poderia dizer que passa pelo fantasioso, quer dizer, cria-se um inimigo que não existe.
Nós não vivemos num país contaminado por um pensamento de esquerda doutrinador. Não existe materialidade nessa afirmação, mas existe um discurso ideológico que busca criar inimigos para mobilizar sua base, uma estratégia de campanha, bastante forte desse governo. Só que não se governa desse jeito. E aí nós estamos vendo uma inoperância do ponto de vista educacional, que tem pautas muito mais relevantes e necessárias do que esse discurso fantasioso.
Não existe um discurso democrático, que ouve dois lados e propõe um diálogo. Democracia pressupõe diálogo entre sujeitos que discordam, mas que não necessariamente precisam ser eliminados. E não é a postura desse governo, que sempre adota a postura de mobilização para a destruição de um inimigo. Um inimigo imaginário até certo ponto.
Como vinha sendo o diálogo das ONGs com o MEC nas gestões anteriores?
Nos últimos três governos, existia algum nível de diálogo. Existiam conselhos, comissões, espaços que a sociedade civil tinha de intervenção, controle social, monitoramento e até formulação conjunta com o ministério.
Era absolutamente distinto – independentemente de se dizer se os resultados foram bons ou ruins, não cabe aqui nessa questão esse julgamento, mas o espaço de diálogo com a possibilidade de escuta e controle social não dá nem para comparar a diferença entre uma coisa e outra.
Como você viu o fato do Mozart Neves, diretor do Instituto Ayrton Senna, ter sido barrado para assumir o ministério?
É difícil de compreender alguns jogos aí. Evidentemente, nós estamos em um contexto em que aqueles que podem ter projeto para a educação, que retome algumas questões básicas, não conseguem ter espaço nesse ministério. Veja que aqueles que têm poder de indicar nomes e trazer pessoas para o ministério são absolutamente inexpressivos no campo educacional.
Aqueles que historicamente tiveram alguma experiência prática no campo da educação pública curiosamente estão fora desse processo – seja num campo mais à esquerda ou num campo mais de centro. Esses interlocutores, que tradicionalmente vem discutindo a educação nos últimos anos, estão ficando de fora.
Qualquer proposta que saia da lógica de combater os inimigos imaginários parece que não tem espaço. Isso parece parte inclusive da briga entre “olavistas” e “não-olavistas” no ministério. Essa disputa ideológica é o carro chefe da gestão.
Qual é o reflexo disso nas pautas do dia a dia do MEC?
A gente está vendo a corrosão geral das políticas estabelecidas, atraso nas políticas para o material didático, por exemplo. Era para ter saído agora um edital de material para o ensino médio, que não saiu, a educação de jovens e adultos também está sem compra de material didático, está sem distribuição de material didático, embora exista uma portaria que obrigue a fazer essa distribuição.
Não existe nem sequer uma linha clara de para onde vai a política nacional de livro didático nesse contexto, enfim, estamos em um processo de corrosão. Falta um sentido, uma direção para essa política, que já tem uma história, não é uma política que está sendo inventada agora. Em vez de se reavaliar e se reconstruir, há um processo muito mais de destruição.
Fonte Exame
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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