Brasil
Três anos depois, moradores ainda esperam indenização em Mariana
Ex-funcionário da Samarco tinha dois terrenos no distrito de Bento Rodrigues, que foi arrasado pela lama em 2015. Até agora, não foi indenizado.
Três anos após o rompimento da barragem do Fundão, da mineradora Samarco, os moradores do povoado de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), ainda esperam indenização da companhia. A cerca de 20 quilômetros do centro de Mariana, o local foi destruído pela lama. O desastre matou 19 pessoas, mas não serviu para endurecer as leis nem para garantir mais segurança às barragens de mineração.
Na última sexta-feira (25), mais uma barragem foi ao chão em Brumadinho (MG), a 160 quilômetros dali. O número de mortos já chega a 110, fora os 238 desaparecidos.
Quando viu as primeiras notícias sobre Brumadinho, o aposentado Manoel Marcos Muniz, de 55 anos, lembrou do trauma vivido no fim de 2015. Ele tinha dois terrenos em Bento Rodrigues, onde sua família vivia desde a geração de seu avô. Lá ele cultivava jabuticaba, laranja, mexerica, abacaxi, manga e limão, além de criar de gado, galinha, porco e pato.
Tudo isso foi levado pela lama. Muniz levou a reportagem de EXAME ao local atingido pelos rejeitos, cujo acesso é restrito a moradores.
Em visita à sua antiga casa, o morador aponta um toco de madeira para mostrar os limites da propriedade arrasada. “Isso aqui era um pé de jabuticaba. Eu tinha trinta pés aqui. Aquele pau ali eu coloquei para marcar onde ficava minha casa”.
Muniz foi um dos que menos dinheiro recebeu até agora da companhia. Foram 20 mil reais de adiantamento de indenização, mais um cartão mensal com cerca de 1.700 reais, devido à perda de renda.
Há diferenças entre os valores pagos para os cerca de 600 moradores de Bento Rodrigues. Quem teve algum parente morto no desastre, por exemplo, recebeu 100 mil reais de adiantamento de indenização, quem perdeu a única casa própria recebeu 40 mil reais, e quem perdeu a casa mas tinha outra propriedade recebeu 20 mil reais. Quem vivia de aluguel, não recebeu nada. Marcos tem uma casa na região central de Mariana. Por isso, sua propriedade em Bento Rodrigues foi considerada “casa de lazer”.
Ele se emociona ao contar que é um ex-funcionário da Samarco. “Trabalhei 30 anos lá. Me aposentei em 2014 e meu plano era viver aqui, do cultivo da terra. Um ano depois veio a barragem”, lembra.
Mesmo depois da destruição do povoado, Muniz e outros moradores continuam frequentando o local aos fins de semana. “Eu não consigo ficar muito tempo sem vir. É aqui que me sinto bem”. Ele conta que recentemente comemorou seu aniversário de casamento nas ruínas da Capela de São Bento, construída em 1718 e destruída pela lama. Outra igreja, mais acima, ficou intacta e também é frequentada pela comunidade.
Hoje, Bento Rodrigues nem parece ter vivido um desastre em 2015. No lugar da mancha marrom dos rejeitos há uma represa de água, feita para impedir que a lama continuasse a descer pelo rio. Na parte mais alta do povoado é possível ver a marca marrom nas paredes. As casas que sobreviveram foram todas saqueadas, inclusive portas e janelas. O cenário é de cidade fantasma. Alguns moradores temem que a Samarco faça uma barragem ali e alague toda a área. “As ruínas têm que ficar aqui para meus netos saberem onde fica nossa terra”, defende Muniz.
A cerca de 10 quilômetros do povoado original, a Fundação Renova, criada para atender as vítimas da Samarco, está construindo o que será o Novo Bento Rodrigues. As obras estão previstas para serem entregues em 2020, cinco anos depois do desastre. Muniz conta que 17 famílias – das cerca de 180 que moravam no povoado original – já sinalizaram que não querem viver ali. “Nossa vida em comunidade com certeza será afetada”, lamenta. Ele próprio pretende aderir ao novo bairro, mas sem muito entusiasmo. “Para nós, mais velhos, vai ser difícil criar um vínculo”.
Aos habitantes de Brumadinho, o morador aconselha: “Sejam firmes na busca pelos direitos e se mantenham unidos. Agora vão viver em função da barragem, eu estou sempre em reunião”. Para Muniz, a diferença no adiantamento de indenização dado aos moradores dividiu a comunidade, dificultando as reivindicações.
Se é de algum consolo, os moradores de Brumadinho poderão aproveitar os aprendizados do desastre de Mariana. Um dos pontos é garantir que o cadastro de perdas materiais seja feito em um momento em que os moradores estejam mais recuperados do choque. Outra lição é garantir que os afetados tenham representação nos espaços de decisão, explica Thiago Alves, do Movimento dos Atingidos por Barragens.
Também há de se levar em conta a forte influência das mineradoras sobre o poder público. A atividade tem enorme peso na economia de Minas Gerais. Não à toa, mesmo após o desastre de Mariana, houve uma flexibilização da legislação ambiental do Estado.
“Não houve interesse político em dar mais segurança em relação às barragens. Pelo contrário. O Estado de Minas Gerais publicou uma norma para agilizar o licenciamento”, diz o promotor Guilherme de Sá Meneghin.
Em Brumadinho, o exemplo de Mariana já ecoa entre os moradores. No bairro de Parque da Cachoeira, que teve mortos e casas atingidas pela lama, moradores eram orientados a “não assinar papeis da Vale” sem a presença do Ministério Público. O medo é de haver uma avaliação equivocada dos bens materiais perdidos. Fonte: Exame
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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