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Na China de Xi Jinping, a alienação é gloriosa

Enquanto o presidente Xi Jinping manobra para se perpetuar no poder, uma importante parcela da população ignora a agenda política

Lijiang, China — Nos últimos meses, duas notícias vindas da China causaram imenso furor na imprensa mundial: a inscrição, na Constituição, do nome do presidente Xi Jinping e de seu “socialismo com características chinesas em uma nova era” e a eliminação dos limites para os mandatos presidenciais. Os chineses comuns não ficaram sabendo. E uma parte deles não se importa.

“Não ligo para política”, responde com um sorriso o agricultor Yan Hunguan, à pergunta sobre se acompanhou o congresso do Partido Comunista Chinês, em outubro, quando a primeira decisão foi tomada, e a reunião do Comitê Central, em janeiro, da qual teria saído a segunda, de acordo com anúncio feito um mês depois.

Yan diz que se informa pelo canal estatal CCTV, mas presta mais atenção nos programas dedicados à minoria yi, à qual pertence, que soma apenas 2 milhões de pessoas. “Nesses programas falam das medidas tomadas pelo governo para ajudar o povo yi”, explica o agricultor.

E elas não são desprezíveis. Pelo fato de pertencer a essa minoria, Yan e sua família recebem 600 yuans (327 reais) por mês. Por morar na montanha, e para proteger o seu meio ambiente, o governo lhes paga outros 120 yuans (65 reais) mensais. Para ajudar na educação de seus dois filhos menores, de 5 anos e de 1 ano e meio, são mais 100 yuans (55 reais) por mês.

Pelo plano de saúde público, a família, composta do casal e três filhos (os dois menores mais uma moça de 18 anos), paga apenas 180 yuans (98 reais) por ano. O plano dá direito a consultas e exames gratuitos. Só no caso de procedimentos mais caros é que o beneficiado tem de desembolsar entre 10% e 20% do custo total.

Os moradores das montanhas contam também com uma ajuda do governo de 60.000 yuans (32.700 reais para construir uma casa) e de 20.000 yuans (10.909 reais) para reformar.

Yan reconhece que a vida “está um pouco melhor que antes”, graças a todos esses programas. Ele faz apenas uma queixa, comum entre os chineses: o custo da educação dos filhos. Em seu caso, ele paga apenas a escola da filha mais velha, que está no ensino médio: 1.800 yuans (982 reais) por semestre. Na China, apenas os nove anos do ensino fundamental são obrigatórios e portanto gratuitos.

Entretanto, pais que optam por colocar seus filhos em escolas particulares já no ensino fundamental, por considerar que a qualidade é melhor do que na rede pública, também pagam uma mensalidade na faixa de 300 yuans (163 reais).

O governo também dá subsídios aos produtores rurais. Mesmo com toda essa ajuda, Yan e sua mulher, Kan Tzanfei, ambos de 45 anos, dão duro. Além de plantar batata e trigo mourisco, criar yakis (animais montanhosos que dão lã, carne, banha e leite) e cabras na montanha, na zona rural da província de Yunnan, no sudoeste da China, ele tem uma distribuidora de milho no povoado de Baisha, perto

da cidade de Lijiang, e ainda trabalha como pedreiro. Por todo esse trabalho, tira cerca de 3.000 yuans (1.636 reais) por mês.

“Isso não saiu aqui”

Não são só os moradores da zona rural que estão pouco informados sobre os passos do regime em Pequim. “Estou chocado”, reagiu Wu Shijun, professor de história em Lijiang, cidade de 1,3 milhão de habitantes, quando foi falado sobre  a mudança constitucional que pôs fim ao limite de mandatos para o presidente.“Isso não saiu aqui.”

Wu critica a linha nacionalista de Xi: “Acho a doutrina dele arbitrária, muito conservadora. Devemos nos abrir para o mundo, aprender com os outros países”.

O professor considera que, a partir de Deng Xiaoping, que sucedeu o líder Mao Tsé-tung em 1978, passou a haver “mais democracia”. Foi Deng quem introduziu o limite de dois mandatos de cinco anos para os presidentes. “As pessoas podem dizer o que pensam”, afirma Wu. “A vida dos chineses está melhorando. Enquanto for assim, as pessoas não vão se importar com quem é que está no poder, qual é o sistema, etc.”

Essa é uma frase ouvida pelo repórter de EXAME desde suas primeiras reportagens na China, em 2004. Naquela época, a economia chinesa crescia dois dígitos ao ano. Esse crescimento arrefeceu nesta década, estacionando atualmente pouco abaixo dos 7%. Mesmo assim, os chineses, sobretudo a grande massa dos mais pobres, sentem que a vida está melhorando.

É difícil culpá-los por sua alienação: a decisão sobre os mandatos ilimitados foi anunciada no dia 25 de fevereiro como se tivesse sido tomada pelo Comitê Central, cuja última reunião fora no dia 26 de janeiro. O Comitê tem mais de 200 membros. Como uma decisão tão importante, num colegiado tão grande, poderia ter se mantido em segredo por um mês?

Tudo indica que o núcleo duro do poder ao redor de Xi, com menos de dez pessoas, tomou a decisão e simplesmente a enfiou goela abaixo do Comitê. Esse tipo de notícia sai de forma cifrada nos sonolentos jornais oficiais, que só os burocratas (e os jornalistas) lêem.

Não que essas decisões não tenham um enorme significado: é a primeira vez, desde Mao, que o nome de um líder é inscrito na Constituição; e também a primeira, desde Mao e de Deng, que isso ocorre com uma doutrina. A de Deng poderia ser resumida com uma frase de fácil entendimento: “Enriquecer é glorioso”. A de Xi ninguém se atreve a perguntar o que significa exatamente.

O nacionalismo criticado por Wu e por outros intelectuais chineses tem impacto econômico negativo em cidades como Lijiang, que vive do turismo. Nos anos 90, a cidade era abarrotada de turistas japoneses. Eles consideravam que seus ancestrais vinham dessa região.

Um dos indícios é que a língua naxi, falada por uma parte da população local, também coloca o objeto antes do verbo, como o japonês.

Os naxis vieram do norte, expulsos pela maioria han, e se instalaram no sudoeste da China há cerca de mil anos. Hoje, eles são apenas 320.000, dos quais 300.000 vivem em Yunnan e os outros 20.000 na província vizinha de Sichuan.

Os japoneses também eram atraídos pelo massutaki, o cogumelo branco típico da região, e pela casca de uma árvore chamada taxol, que se acredita que tenha o poder de curar o câncer. Em troca da hospitalidade, o Japão doou mudas de cerejeiras e banheiros públicos para Lijiang. Eles pararam de vir, no entanto, quando a China começou a disputar com o Japão a posse do arquipélago de Senkaku, que os chineses chamam de Diaoyu, a partir deste século.

Turismo interno

A região só não sentiu tanto porque os turistas japoneses foram substituídos pelos próprios chineses, principalmente os de Pequim, Xangai e Cantão — os mais endinheirados do país. O crescente mercado interno chinês tem tomado o lugar do externo, e Lijiang é um microcosmo disso.

As lojas vendem artesanato, enriquecido pela variedade cultural da província: das 54 etnias da China, 26 estão representadas pelos 46 milhões de habitantes de Yunnan, incluindo tibetanos. As estreitas ruas da cidade antiga estão repletas de pousadas, cafés e lojas, com uma arquitetura preservada e charmosa.

Mas a cidade atrai turistas principalmente graças a uma lenda segundo a qual o amor entre os naxis tradicionalmente era livre, até que os hans chegaram à região no século 7.º, na Dinastia Tang. Os hans introduziram as diferenças de classes e, com elas, os casamentos arranjados. Os jovens continuaram podendo namorar quem quisessem, mas só podiam se casar com o par escolhido pelos pais.

Quando esse par não era quem eles amavam, iam para a Montanha de Neve do Dragão de Jade e se suicidavam, atirando-se do alto. Eles acreditavam que a montanha era o paraíso, forrado de flores, onde a água se transformava em leite, e que ali viveriam com seu amado ou amada para sempre.

Ao pé da montanha é encenado um espetáculo magnífico, com 500 artistas, chamado Impressões de Lijiang, que conta essa história. Criado por Zhang Yimou, o mesmo que dirigiu a abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim, em 2008, é apresentado todos os dias, num anfiteatro ao ar livre construído há 11 anos, sempre lotado.

Toda essa mística atrai os jovens chineses, que vêm procurar o seu par em Lijiang, e lotam as discotecas e bares de sua bela cidade antiga, tombada pela Unesco. Enquanto paqueram, enchem a cara, cantam e dançam música pop chinesa como se não houvesse amanhã.

Noivos também vêm fazer as fotos de seu álbum de casamento tendo a montanha como fundo, e recém-casados vêm passar a lua-de-mel.

Como se vê, os chineses têm coisas mais importantes para se ocupar do que as manobras de Xi Jinping para se perpetuar no poder.

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Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas

Por

Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”

 

Vista aérea de Tóquio
Getty Images

 

Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.

A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.

A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.

Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.

Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.

A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.

Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.

No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.

O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.

“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.

“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.

Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.

Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.

Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano

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Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra

 

Polícia desmantela protesto pró-Palestina no Parlamento Australiano
Reuters

 

Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.

Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.

Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.

CNN

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Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

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País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando

 

Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

 

Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.

A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.

Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.

Como funcionam as eleições?

O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.

Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.

Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.

O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.

Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.

O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.

A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.

O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.

Rei Charles recebe Rishi Sunak no Palácio de Buckingham / Reprodução/ Palácio Buckingham

Quem é Keir Starmer?

O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.

Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.

Líder trabalhista Keir Starmer em Blackpool / 3/5/2024 REUTERS/Phil Noble

Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.

O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.

Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.

Quando saíram os resultados?

Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.

Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.

Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.

Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.

De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.

CNN

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