Pense na palavra acne. Se, de imediato, você imagina uma adolescente, esqueça. A doença, hoje em dia, tem o rosto de uma mulher adulta. É o que apontam estudos como o publicado este ano pelo Te Journal Of Clinical and Aesthetic Dermatology, que reúne dados pesquisados com mulheres acima dos 25 anos.
Entre 75 e 85% delas dizem ter inflamações persistentes, que as acompanham desde a adolescência. Dessas, de 20 a 40% reportam algo mais raro, que é o desenvolvimento da acne apenas a partir da fase adulta. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) afirma que a acne é um dos principais motivos pelos quais mulheres feitas procuram os dermatologistas. Já um levantamento da L’Oréal no Brasil vai além: segundo a marca de beleza, as espinhas são a reclamação número 1 das brasileiras dessa faixa etária nos consultórios. Entre os especialistas brasileiros, há a sensação, para alguns, de que houve o crescimento no número de casos. Para outros, o aumento das queixas se deve à conscientização, nos últimos anos, sobre a importância de cuidar da saúde da pele. “O problema é que agora você tem que lidar com mais fatores externos que agravam a doença”, avalia a dermatologista Ana Lucia Coutinho, diretora médica no Brasil da Avène. Além da clássica e natural variação hormonal decorrente dos ciclos menstruais (motivo pelo qual as mulheres adultas sempre tiveram mais espinhas do que homens), novos inimigos surgiram para funcionar como gatilho dessa doença, que nas mulheres adultas, diferentemente das teens, costuma aparecer não na zona T (testa e nariz), mas na chamada região U – no queixo e ao longo da mandíbula Conheça outras causas e tratamentos para acne em mulheres adultas.
Viver em grandes cidades, com altas concentrações de poluição, é um desses complicadores. “Os radicais livres presentes na poluição acabam entrando na pele, deixando-a mais irritada e, assim, piorando a acne”, diz Beatriz Santanna, diretora de comunicação científica da divisão de cosmética ativa da L’Oréal no Brasil. O estresse também pode desencadear o aparecimento de espinhas explosivas, que se manifestam por causa da elevação dos níveis de cortisol. “Temos observado maior incidência de acne da mulher adulta nos últimos anos. A pressão no campo profissional, a competitividade, a falta de tempo, o excesso de tarefas e outros fatores da vida contemporânea geradores de ansiedade aumentam o cortisol e, consequentemente, os andrógenos, que são os vilões da acne”, pontua o cosmiatra Otávio Macedo.
Há ainda uma série de estudos recentes que sugerem o excesso de insulina em alimentos com alto índice glicêmico como o responsável pelo surgimento de novas espinhas. “Aliada à insulina, temos o fator de crescimento IGF-1, um hormônio de crescimento que se eleva simultaneamente quando temos o aumento da insulina. O IGF-1 estimula o crescimento de células produtoras de sebo, aumentando a proliferação celular na pele”, esclarece a nutricionista Patricia Davidson, que também aconselha evitar alimentos lácteos, embutidos, doces e carboidratos refinados.
Há avanços bem significativos na medicina quando a pauta é o tratamento. Um grupo de cientistas da Universidade da Califórnia está desenvolvendo uma vacina para erradicar a acne. Eles encontraram este ano um anticorpo de uma proteína tóxica da P.acnes, a bactéria da doença, presente no nosso organismo, que quando secretada na pele causa a inflamação. A proposta não é atacar a bactéria em si, mas partir para cima da maior queixa das mulheres que têm acne: o processo infamatório. Até a sua criação, dermatologistas apostam num tratamento combinado, com ativos de uso tópico, dermocosméticos e novos aparelhos. A dermatologista Juliana Piquet indica a seus pacientes ativos clássicos, como o ácido retinóico e seus derivados, o adapaleno – que trata também o envelhecimento cutâneo –, o peróxido de benzoíla e os antibióticos clindamicina e eritromicina, além dos secativos como a sulfacetamida.
As novidades nos dermocosméticos vêm de marcas como La Roche-Posay e Skinceuticals, que incluíram em seus produtos ingredientes que vão além do processo infamatório e fazem uma renovação celular, ou auxiliam no tratamento do envelhecimento cutâneo. O recente hidratante Efaclar Duo+, da La Roche-Posay, tem uma molécula patenteada, a LHA, muito parecida com o ácido salicílico e que penetra na camada mais superficial da pele, retirando células mortas e estimulando a produção de colágeno, o que melhora as lesões causadas pela acne. O sérum Blemish + Age Defense, da Skinceuticals, combina pequenas concentrações dos ácidos glicólico e salicílico e a molécula LHA. Em estudos clínicos, com 72 pacientes, notou- -se a diminuição de 30% da oleosidade e 30% das manchas de acne em uma semana de uso. Ambos os produtos têm uma concentração mais baixa e efetiva do ácido salicílico, que segundo Beatriz evita o efeito rebote (altas concentrações melhoraram as espinhas, mas podem causar irritação).
Dentre os aparelhos mais recentes, o cosmiatra Otávio Macedo usa o laser Fotona em pacientes com acne para diminuir lesões e quadros infamatórios. A dermatologista Carla Vidal trouxe há sete anos dos Estados Unidos o aparelho Isolaz, que possui uma ponteira de luz pulsada e outra de limpeza pneumática, e já é o tratamento mais feito em sua clínica, o que a levou a comprar mais duas máquinas recentemente. Peelings químicos e LED azul também são indicados para diminuir as inflamações. “Esfoliar regularmente a pele ajuda a remover as células mortas – sem exagero, uma vez por semana. Sabonetes à base de ácido salicílico reduzem a formação dos comedões, mas lavar mais que três vezes por dia é prejudicial, pois provoca o efeito contrário: a seborreia reacional”, alerta Otavio sobre os cuidados em casa, que incluem maquiagens e cremes em forma de gel ou oil free, na luta contra a inimiga desde os tempos da escola.