Saúde
Pesquisa traz dicas sobre como reduzir desperdício de alimentos
Pesquisa feita em 24 países pela Food Law and Policy Clinic (FLPC), da Harvard Law School, mais antiga universidade de direito dos Estados Unidos, e a The Global FoodBanking Network (GFN), traz algumas recomendações sobre como os legisladores podem ajudar a reduzir o desperdício de alimentos e a insegurança alimentar no Brasil. As recomendações compõem o Atlas Global de Políticas de Doação de Alimentos, que analisa leis e políticas que afetam a doação de alimentos em todo o mundo.
A sondagem teve como interlocutor no Brasil o programa Sesc Mesa Brasil, do Serviço Social do Comércio (Sesc), que mediou os contatos dos pesquisadores de Harvard com os de outras instituições que trabalham com bancos de alimentos, para entender também a instância da política pública, até porque a configuração geopolítica brasileira é diferente da dos outros países, disse nesta segunda-feira (26) à Agência Brasil a diretora de Programas Sociais do Sesc, Janaína Cunha.
Segundo Janaína, uma das recomendações é sobre a adoção de políticas locais e nacionais que exijam a doação de alimentos excedentes, e é exatamente nessa faixa de atuação que a entidade tem uma identificação mais profunda, devido ao programa Sesc Mesa Brasil. O programa recolhe o alimento que, a rigor, ia ser desperdiçado, e coloca na mesa de quem passa fome.
“E não se trata de um alimento que ia ser descartado por falta de condições de uso e consumo”. Ao contrário. Janaína explicou que, muitas vezes, o alimento talvez não esteja virtualmente em condições de ser comercializado, mas está próprio para consumo. “Esse alimento é absolutamente adequado para a mesa. O Brasil precisa aprender a conhecer melhor o potencial dos seus alimentos e não descartar cascas e partes importantes do alimento que podem ser usadas de outras maneiras”. O Sesc Mesa Brasil tem oficinas que ensinam a aproveitar melhor os alimentos.
A casca de banana, por exemplo, pode ser usada como farinha nutritiva e como insumo ou ingrediente para bolo. Com isso, além de não desperdiçar, a pessoa agrega valor nutricional ao alimento que está sendo preparado. O programa Sesc Mesa Brasil tem atualmente 3 mil empresas parceiras que são doadoras e 7 mil entidades assistidas, com média mensal de 2 milhões de pessoas atendidas. Além disso, tem uma rede de 95 bancos de alimentos, a maior rede privada da América Latina. “Estamos em uma frente muito importante, uma vez que a insegurança alimentar afeta 61,3 milhões de brasileiros, de acordo com dados oficiais do governo.”
Responsabilidade civil
Outra recomendação que dialoga com o programa do Sesc é promover a conscientização sobre as exclusões de responsabilidade civil para doadores de alimentos, como está previsto na Lei de Combate ao Desperdício. “Isso é importante porque muitas empresas não têm consciência de que podem fazer isso, ou seja, que elas podem doar”. Para Janaína, promover essa conscientização é fundamental. O Sesc sempre estimula os parceiros a divulgar suas ações e seu trabalho. “É importante reiterar que não se trata de generosidade, mas de entender o contexto social do país, de entender que este é um país que não necessita ter fome.”
O Brasil dispõe de espaço para plantar, promover a circulação dos insumos e da alimentação adequada. “Ensinar como se alimentar adequadamente também faz parte de superar ou de enfrentar a questão da insegurança alimentar”, destacou Janaína. Ao lidar com populações indígenas, o programa Sesc Mesa Brasil observa os hábitos alimentares locais de consumo. “Ainda fazemos essa adequação.”
Emissões
A perda e o desperdício de alimentos são responsáveis por até 10% das emissões globais de gases de efeito estufa. Segundo a pesquisa, o Brasil pode tomar medidas importantes para reduzir essas emissões e alimentar mais pessoas que lidam com a insegurança alimentar. Uma das políticas sugeridas é a implementação de um sistema padrão de rotulagem com duas datas, diferenciando de forma clara a data baseada na segurança e a baseada na qualidade. Essa diferenciação permitirá que ocorra a doação após a data baseada na qualidade, garantindo que os rótulos de data não resultem no descarte de alimentos que seriam seguros para consumo. Jogados em aterros, esses alimentos produzem metano, potente gás de efeito estufa.
Outra recomendação envolve aumentar a dedução fiscal aplicável a doações de alimentos e atividades associadas ao armazenamento, transporte e entrega de alimentos doados. O objetivo é garantir que os doadores e as associações de recuperação de alimentos recebam incentivos fiscais e informações apropriadas para participar da doação de alimentos.
A pesquisa recomenda também o desenvolvimento de oportunidades de subsídios governamentais para a infraestrutura de doação de alimentos, a fim de garantir que doadores e organizações de recuperação de alimentos possam manusear, transportar e distribuir os excedentes de forma mais eficaz e segura.
Compromisso
Janaína Cunha ressaltou, porém, que, como entidade privada, cujo programa Sesc Mesa Brasil existe há 15 anos, não há comprometimento da instituição, bem como do governo, de realizar as recomendações de Harvard. A pesquisa traça um panorama de como as políticas de doações de alimentos estão implementadas em cada nação. Lembrou que algumas das recomendações já estão no escopo do Sesc. “O que é pertinente à nossa alçada estamos cuidado para ter uma intensificação cada vez maior, até pelo cumprimento da nossa própria missão”, afirmou a diretora de Programas Sociais do Sesc.
Atualmente, o Brasil perde ou desperdiça 42% do seu abastecimento alimentar. “Este é um dado importante que o Sesc já vem monitorando e acompanhando ano a ano. É claro que, quando tem uma instituição como Harvard se preocupando com isso, a gente apoia, abraça”.
Dados oficiais indicam que a insegurança alimentar no Brasil atinge um quarto da população, incluindo várias gradações da fome, do ponto de vista nutricional e do ponto de vista da escassez. “Isso é muito grave para um país com as nossas dimensões e a capacidade de produção de alimentos. Essa é uma preocupação do Sesc”. São quase 50 milhões de quilos de alimentos distribuídos de forma valorosa, afirmou. Este é o volume de doações que o programa consegue efetivar. “Podemos fazer mais e faremos mais. E contamos com o empenho de todos, porque isso é uma cadeia”.
Políticas
A professora clínica de direito na Harvard Law School e diretora do corpo docente da FLPC, Emily Broad Leib, disse que as melhores políticas de doação de alimentos estão ao alcance das mãos, quando se trata de enfrentar as alterações climáticas e a fome.
As recomendações, desenvolvidas em parceria com o Sesc Mesa Brasil e em consulta com outros especialistas brasileiros, podem ser implementadas agora, muitas a baixo custo, para limitar os danos ambientais do desperdício de alimentos e ajudar os brasileiros a terem acesso a alimentos saudáveis, seguros e excedentes, disse Emily.
Da mesma forma, a presidente da The Global FoodBanking Network, Lisa Moon, ressaltou que a “extraordinária biodiversidade” torna o Brasil um país importante quando se trata de alimentação, recursos naturais e clima. Ela acredita que as recomendações propostas auxiliarão muitas pessoas no país.
Atlas Global
A pesquisa do projeto Atlas sobre 24 países em cinco continentes e também a União Europeia está disponível no site doAtlas Global de Políticas de Doação de Alimentos.
A Food Law and Policy Clinic fornece orientação sobre questões de ponta em relação a sistemas alimentares, ao mesmo tempo que envolve estudantes de direito na prática da legislação e política alimentar. A FLPC está empenhada em promover uma abordagem intersetorial, multidisciplinar e inclusiva ao seu trabalho, criando parcerias com instituições acadêmicas, órgãos governamentais, intervenientes do setor privado e a sociedade civil com experiência em saúde pública, ambiente e economia. O trabalho da FLPC procura melhorar o acesso a alimentos nutritivos, abordar os impactos dos sistemas alimentares e agrícolas relacionados com o clima, reduzir o desperdício de alimentos saudáveis e promover a justiça nos sistemas alimentares.
A Global FoodBanking Network, por sua vez, apoia soluções lideradas pelas comunidades para aliviar a fome em mais de 50 países. A instituição acredita que bancos de alimentos administrados por líderes locais são fundamentais para alcançar a meta de fome zero e construir sistemas alimentares resilientes.
Saúde
Cientistas descobrem gene que pode estar associado à longevidade
Estudo reforça descobertas anteriores de que a genética pode ser fator para o envelhecimento saudável e melhor qualidade de vida
Cientistas descobriram um novo gene que pode controlar o envelhecimento e o tempo de vida de células. O achado, publicado na revista médica Journal of Clinical Investigation em junho, reforça descobertas anteriores de que a genética está relacionada à longevidade e ao envelhecimento saudável.
O estudo, realizado por pesquisadores italianos, descobriu que a sequência de DNA humano C16ORF70 codifica uma proteína chamada Mytho. Essa proteína pode estar relacionada a uma melhor qualidade de vida e pode atuar na remoção de proteínas e organelas danificadas, melhorando a homeostase (habilidade dos organismos de manterem seu meio interno estável) celular, segundo os cientistas.
Em outras palavras, a ativação do Mytho pode estimular um envelhecimento saudável e levar à longevidade, já que ela promove a autofagia, um processo de “autodigestão” das células, essencial para combater o acúmulo de danos celulares naturais do envelhecimento.
Para chegar a essa conclusão, os cientistas realizaram pesquisas computacionais para identificar genes no genoma humano que poderiam ter relevância nos mecanismos que controlam a qualidade das proteínas e das organelas. “Entre os vários candidatos, a equipa focou-se num gene que se destacou por ser extremamente conservado entre diferentes espécies animais, desde humanos a vermes, chamado C16ORF70/Mytho”, explica Anais Franco Romero, co-autor do estudo.
Por meio de experimentos de manipulação genética, realizados em vermes da espécie Caenorhabditis elegans (comumente utilizados em estudos sobre genética, por terem diversos genes em comum com os humanos), os pesquisadores demonstraram que a inibição desse gene causa a senescência celular precoce (fase em que as células param de se replicar) e o encurtamento da vida útil. Por outro lado, a ativação do gene melhora a qualidade de vida e permite um envelhecimento saudável.
“Depois de anos de estudos, conhecemos algo sobre o nosso genoma, mas a função da maior parte do nosso código genético ainda é desconhecida”, sublinha Marco Sandri, professor do Departamento de Ciências Biomédicas da Universidade de Pádua e pesquisador principal do Instituto Veneto de Medicina Molecular (VIMM).
“Um exemplo são os genes que codificam proteínas, dos quais mais de 5.000 de um total de 20.000 são completamente desconhecidos. Por isso, nos últimos anos temos utilizado recursos e energia para caracterizar este mundo desconhecido do nosso DNA”, completa.
Segundo os pesquisadores, o gene está presente no DNA de todos os humanos e de outros seres vivos também, desde pequenos organismos, como os vermes utilizados no estudo, até animais silvestres. Os resultados do estudo sugerem que a ativação do Mytho poderá ser usada, futuramente, em intervenções específicas para promover a longevidade. No entanto, mais estudos são necessários para compreender como realizar essa expressão e entender se o Mytho poderia estar envolvido em outras funções relacionadas à longevidade.
Queijo pode colaborar com envelhecimento saudável e feliz, diz estudo
Saúde
Genética pode influenciar se café é bom ou ruim para saúde, diz estudo
Pesquisadores também descobriram que variantes genéticas relacionadas ao maior consumo de café estão associadas ao maior risco de desenvolver obesidade
Um novo estudo aponta que a genética pode influenciar tanto na quantidade de café consumido por uma pessoa, quanto na possibilidade de esse consumo trazer efeitos positivos ou negativos à saúde. O trabalho foi publicado na revista Neuropsychopharmacology, em junho.
Apesar de não responder com certeza à pergunta: “O café é bom ou ruim?”, a pesquisa revela conexões importantes entre genética, consumo de café e a sua relação com a obesidade. Os pesquisadores também descobriram ligações entre o consumo da bebida e condições de saúde mental, apesar de serem relações menos diretas.
A quantidade de café ou cafeína que uma pessoa consome pode ser parcialmente herdada dos pais. Segundo pesquisas anteriores, realizadas com gêmeos, características relacionadas à cafeína são de 36% a 58% hereditárias. Essa foi uma das questões abordadas pelo atual estudo.
“Tínhamos bons motivos para suspeitar, a partir de artigos anteriores, que havia genes que influenciavam a quantidade de café que alguém consome”, afirma Abraham Palmer, um dos principais autores do estudo e professor do Departamento de Psiquiatria da Escola de Medicina da UC San Diego, em comunicado à imprensa.
“Portanto, não ficamos surpresos ao encontrar evidências estatísticas de que essa é uma característica hereditária em ambas as coortes que examinamos. Em outras palavras, as variantes genéticas específicas que você herda de seus pais influenciam a quantidade de café que você provavelmente consumirá”, completa.
Relação entre genética, café e obesidade
Para entender se o café é bom ou não para a saúde — e como a genética pode determinar isso –, os pesquisadores realizaram um “estudo de associação do genoma inteiro” (GWAS), que analisa genomas completos dos participantes para identificar as variantes genéticas associadas a uma determinada característica. Para fazer esse estudo, a equipe coletou dados genéticos e informações sobre o consumo de café auto-relatado.
Para juntar todos esses dados, os pesquisadores utilizaram dois bancos de dados e compararam suas informações: 23andMe, com 130.153 participantes dos Estados Unidos, e do UK Biobank, com 334.649 participantes do Reino Unido. Em ambas as pesquisas, os cientistas encontraram evidências de uma disposição genética para o consumo de café e identificaram genes específicos que influenciam o consumo de café e a rapidez em que a cafeína é metabolizada.
Além disso, os pesquisadores descobriram que os participantes que carregam variantes genéticas relacionadas ao maior consumo de café tinham maiores chances de desenvolverem obesidade. No entanto, isso não significa que quem toma bastante café será obeso, mas, sim, que os fatores genéticos que influenciam no consumo de café também podem influenciar no desenvolvimento da doença.
Relação entre café e saúde mental foi menos clara
Por outro lado, quando os pesquisadores analisaram a relação entre consumo de café e doenças psiquiátricas, os resultados foram menos claros.
“Olhe para a genética da ansiedade, por exemplo, ou bipolaridade e depressão: no conjunto de dados do 23andMe, elas tendem a ser geneticamente correlacionados de forma positiva com a genética do consumo de café”, explicou Hayley H. A. Thorpe, autora principal do estudo e pesquisadora do Departamento de Anatomia e Biologia Celular da Schulich School of Medicine and Dentistry da Western University em Ontário. “Mas então, no UK Biobank, você vê o padrão oposto, onde eles são geneticamente correlacionados de forma negativa. Isso não era o que esperávamos”.
Os pesquisadores têm algumas teorias do porquê surgiram diferenças nos resultados. O primeiro fator poderia estar nas perguntas realizadas aos participantes por cada pesquisa. A 23andMe, por exemplo, perguntava: “Quantas porções de 5 onças (tamanho de uma xícara) de café com cafeína você consome por dia?”, enquanto na UK Biobank, a pergunta era: “Quantas xícaras de café você bebe por dia? (Inclua café descafeinado)”.
Além disso, as pesquisas não incluíram diferentes preparações de café. “Sabemos que, no Reino Unido, eles geralmente têm uma preferência maior por café instantâneo, enquanto o café moído é preferido nos EUA”, opinou Thorpe. Os pesquisadores também observaram que os norte-americanos têm preferência por bebidas açucaradas, como frappucinos.
Em outras palavras, isso significa que, mesmo se duas pessoas tivessem genes idênticos relacionados ao consumo de café, seus hábitos poderiam ser diferentes se tivessem nascido no Reino Unido ou nos Estados Unidos. Ou seja, o ambiente em que uma pessoa está inserida também pode ter um efeito em como ela age.
Apesar dos achados, os pesquisadores ressaltam a necessidade de serem feitos mais estudos para desvendar as relações entre genética e ambiente, focando não apenas na ingestão de café/cafeína, mas também em outras questões de uso de substâncias.
Saúde
Metade das malformações vasculares é diagnosticada de forma errada
Erro pode atrasar tratamento e expor paciente a riscos desnecessários
A maioria dos casos de malformação vascular é diagnosticada erroneamente como hemangiomas, que são tumores vasculares da infância. O diagnóstico errado causa atrasos no tratamento adequado e, às vezes, exposição dos pacientes a medicações e cirurgias desnecessárias.
Por isso, a Sociedade Brasileira de Angiologia e de Cirurgia Vascular-Regional São Paulo (Sbacv-SP) alerta sobre a dificuldade, o desafio e a necessidade de uma avaliação correta desses casos, que fazem parte de um grande grupo de doenças subdivido em tumores e malformações vasculares. Estima-se que as malformações vasculares acometam 1% da população e os hemangiomas, de 4% a 5% dos recém-nascidos.
“As anomalias vasculares são pouco abordadas durante as graduações na área da saúde. Portanto, a maioria dos médicos, enfermeiros e fisioterapeutas nunca se deparou com essas doenças e pode ter dificuldade em diagnosticá-las e classificá-las adequadamente. Qualquer mancha visível com coloração avermelhada ou arroxeada já é chamada de hemangioma pelo público leigo e, muitas vezes, até por profissionais da saúde. É fácil confundir quando não se tem nenhum conhecimento prévio sobre o assunto, mas um olhar mais cuidadoso pode revelar informações importantes para um diagnóstico correto”, explicou a cirurgiã vascular e vice-diretora científica da Sbacv-SP, Luísa Ciucci Biagioni.
As duas anomalias têm características, evolução e tratamento muito diferentes e, por isso, é essencial saber classificá-las. Enquanto os hemangiomas são tumores benignos mais comuns na infância e proliferam desde as primeiras semanas de vida, com crescimento rápido nos primeiros meses e diminuindo sexto ao 12º mês de vida. As malformações vasculares são estruturas malformadas, não tumorais, que se desenvolvem no período embrionário e crescem junto com o indivíduo.
“Estima-se que de 5% a 10% dos hemangiomas da infância possam ter complicações como crescimento desproporcional, feridas, sangramento e infecções. A maior parte deles cresce e involui lentamente dos 8 aos 12 meses. Podem deixar uma pequena cicatriz, com ou sem vasinhos residuais. Os hemangiomas congênitos raramente podem evoluir com complicações como inchaço, sangramento, dor local, consumo leve de plaquetas. Na maioria das vezes, não desaparecem espontaneamente e podem necessitar de cirurgias para ressecção”, explicou Luísa.
Segundo a médica, as malformações vasculares são caracterizadas por vários tipos de lesões, desde pequenas manchas capilares até lesões mais extensas que atingem todo o corpo. As malformações menores e mais localizadas, com fluxo lento, como as capilares, linfáticas e venosas, são facilmente tratadas e raramente causam complicações. Às vezes, podem estar acompanhadas de outras deformidades, como hipertrofia do membro, alterações musculares e esqueléticas e alterações neurológicas ou oculares. Quando extensas, podem ter complicações como infecção, sangramento, tromboembolismo venoso, prejuízo na locomoção e dor crônica.
No caso dos hemangiomas, as lesões são abauladas, com coloração rosa ou avermelhada (aspecto de morango), apresentando vasos finos na superfície e, às vezes, um círculo pálido ao redor. Eles acometem principalmente meninas, em uma proporção de quatro para um, sendo mais frequentes na região da face e do tronco. Os mais extensos podem deixar cicatrizes esbranquiçadas na pele e vasinhos superficiais. A maioria dos pacientes com hemangioma infantil não desenvolve comprometimentos significativos. Apenas uma pequena parte apresenta problemas como úlceras, sangramentos ou infecções. As lesões próximas ao olho ou nas pálpebras, ponta do nariz e região genital podem apresentar maior taxa de complicações, como prejuízo no desenvolvimento das estruturas locais e ulcerações.
“O diagnóstico correto é fundamental para que a família e o paciente comecem a compreender a condição e para que o médico possa traçar um planejamento adequado de tratamento, que pode variar da observação clínica até uma intervenção com cirurgia ou embolizações. Muitos pacientes são submetidos a tratamentos inadequados. Às vezes, há sequelas e complicações graves, como sangramentos e lesão de estruturas saudáveis, como nervos e músculos,” esclareceu a especialista.
Causas e tratamento
A médica explicou que a maior parte das malformações vasculares é causada por uma mutação nos genes que regulam a comunicação no interior da célula e o desenvolvimento de vasos sanguíneos e ou linfáticos. A mutação acontece por volta da quarta semana de vida do embrião e não é herdada dos pais, com apenas 5% das malformações sendo causadas por herança familiar.
Já os hemangiomas da infância não têm uma causa exata descrita na literatura médica, mas algumas teorias tentam explicar seu surgimento, como migração de células placentárias para o feto e migração de células endoteliais progenitoras após situações de estresse com baixa oxigenação.
De acordo com Luísa, os tratamentos são feitos de acordo com o tipo de lesão e os sintomas apresentados pelos pacientes, com o uso de medicações específicas para controle do crescimento dos hemangiomas da infância e uso de laser nos casos de lesão residual. Para as malformações, o tratamento podem ser com embolizações, cirurgias, medicações específicas para o controle de complicações, fisioterapia e uso de terapia compressiva para reduzir o edema e a dor, entre outros procedimentos.
Luísa Biagioni informou que, após avaliação clínica e exames complementares, as prioridades de tratamento são definidas em conjunto com a família e o paciente. “Para algumas condições, optamos apenas pelo acompanhamento clínico, enquanto para outras usamos terapias com medicamentos analgésicos, anticoagulantes ou terapias específicas. Lesões menos graves podem ser tratadas por cirurgiões especializados em problemas vasculares. Já para malformações vasculares como venosas, linfáticas ou arteriovenosas, podemos recorrer a tratamentos percutâneos ou endovasculares.”
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