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As razões da tempestade financeira do Reino Unido e as lições para o Brasil

Decisão do governo Truss por política fiscal expansionista gerou pânico e mercado reagiu como se Inglaterra fosse país emergente

Reino Unido: pacote fiscal foi mal recebido pelo mercado, que puxou o spread dos títulos públicos e derrubou a libra (Jack Taylor/Getty Images)

O pacote fiscal anunciado pelo novo governo britânico de Liz Truss gerou um cataclismo econômico com poucos precedentes na história da libra esterlina e dos títulos do Tesouro do Reino Unido.

Muitos começaram a se questionar sobre as reais razões dessa tempestade perfeita que chacoalhou a economia bretã. Segundo alguns analistas, foi apenas um curto-circuito na comunicação entre governo e mercados. Outros consideram essa política fiscal errada e contraproducente em tempos de inflação elevada. Outros acusaram os mecanismos “perversos” das finanças, como as chamadas de margens. Por sua vez, o Prêmio Nobel da economia, Paul Krugman, condenou sem meios termos o pacote do governo como algo “demencial”.

Existem muitas hipóteses que explicam essa situação. Mas a única certeza é que se o Banco da Inglaterra não tivesse atuado na quarta-feira, o Reino Unido estaria em apuros. E, mesmo com a essa intervenção, Londres certamente não está fora de perigo, pois essa injeção de liquidez será temporária. A tempestade perfeita pode voltar em breve.

E precisamente esta é a primeira lição que o Reino Unido está dando ao mundo: ninguém, nem mesmo uma das maiores economias do planeta, nem mesmo um país fora do euro e das restrições europeias, nem mesmo um país que tenha uma a dívida pública contida em 91% do Produto Interno Bruto (PIB), pode se permitir políticas fiscais incompreensíveis que elevem a dívida pública.

Por que a economia britânica entrou em apuros?

Tudo começou na sexta-feira, 23 de setembro, quando a nova primeira-ministra anunciou o pacote fiscal mais expansionista dos últimos 50 anos. Entre as medidas está um corte de impostos que beneficia especialmente os mais ricos, financiado pelo aumento do déficit público, que atualmente é de 5% do PIB, e que, segundo algumas previsões, poderia chegar em 7%. Com isso, a dívida pública também aumentaria, chegando em quase 100% do PIB em alguns anos.

Foi uma faísca suficiente para que uma tempestade eclodisse nos mercados dos títulos do Tesouro britânico, cujos spreads (rendimentos) dispararam. Os papéis com vencimento em 30 anos, que antes do anúncio de Truss apresentavam uma rentabilidade de 3,7%, atingiram 5,09%. Um aumento que tem poucos precedentes na história britânica.

As vendas maciças foram alimentadas também pela alta das taxas de juros pelo Banco da Inglaterra em 0,50 ponto percentuais, para 2,25%. Uma elevação decidida 24 horas antes do anúncio de Truss, e que poderia também ter contribuído para essa turbulência.

Muitos bancos, fundos de investimento e fundos de pensão detêm em seu balanço títulos da dívida britânica aos bilhões de libras, comprados nos últimos dez anos, quando os juros foram zero ou até negativos. Agora, os rendimentos oferecidos para títulos de nova emissão são mais elevados, e isso levou a uma avalanche de vendas de títulos antigos para compra de novos.

O aspecto mais curioso, porém, diz respeito à libra. Geralmente quando os juros sobem em um país industrializado, como a Grã-Bretanha, sua moeda se valoriza, pois as taxas mais altas atraem fluxos de capital. O contrário acontece nos países emergentes, porque o mercado — vendo os rendimentos subindo — questiona a capacidade de pagamento dos títulos do governo e os capitais fogem.

Desta vez, os mercados olharam para a Grã-Bretanha mais como um país emergente do que como uma das maiores economias do mundo. A libra caiu em relação ao dólar, perdendo até 6,4% de se valor desde o anúncio.

Excesso de dívida pública provocou essa crise?

Os analistas estão se questionando sobre as razões que levaram o mercado a reagir tão mal.

Alguns apontam o dedo para o pacote fiscal ser financiado com déficit primário, o que aumentaria a dívida pública. Isso é verdade. E em tempos de taxas de juros crescentes, certamente não ajuda a manter a estabilidade macroeconômica. Todavia, o Reino Unido continua tendo uma dívida pública controlada, especialmente em relação a outras economias avançadas. Entre os países do G7, a dívida pública britânica é a segunda menor.

Considerando, por exemplo, que o Japão tem uma dívida/PIB superior a 200%, esses números não justificam o pânico dos últimos dias.

Curto-circuito de comunicação entre governo e mercados

Portanto, essa situação de aumento do déficit e da dívida pública, por si só, não seria suficiente para explicar tal tempestade. Outras razões contribuíram com a turbulência.

A comunicação errada entre governo e mercados é uma delas. Ninguém esperava nesse momento um pacote fiscal tão generoso com as camadas mais abastadas da população. Especialmente em um momento de crescimento das desigualdades sociais. Além disso, ele chegou na hora errada, quando a prioridade deveria ser o combate à inflação. Já que o aumento dos preços no Reino Unido chegou em 9,9%.

Uma manobra fiscal tão expansionista não corre apenas o risco de alimentar ainda mais o “dragão”, também contrasta com a atuação do Banco da Inglaterra, que está levando adiante uma política monetária restritiva.

Se em um momento econômico difícil como o atual, as políticas fiscal e monetária atuam de forma destoante, e não conjunta, o mercado perde a bússola e não entende qual a direção que a economia britânica está seguindo, entrando em pânico.

Banco da Inglaterra terá que monetizar a dívida?

A terceira razão que explica essa crise está relacionada ao comportamento do Banco da Inglaterra. Alguns analistas argumentam que o mercado está preocupado que mais cedo ou mais tarde o Banco Central do Reino Unido seja forçado a monetizar a dívida. E com o anúncio de compras ilimitadas de títulos do governo, de certa forma isso aconteceu.

Por outro lado, parte do mercado teme que o Banco da Inglaterra não tenha força política para conter a política expansionista do governo. E a intervenção nos títulos da Dívida Pública também confirma esse temor. Há alguns dias, o Banco Central tinha anunciado que em breve começaria a vender títulos do governo comprados durante a pandemia. Todavia, após o pacote fiscal de Truss mudou drasticamente de rumo e começou a recomprar papéis para consertar a iniciativa desajeitada do governo. Uma marcha-ré que corre o risco de minar a credibilidade da instituição monetária central britânica.

Chamadas de margem também contribuíram

Existem também uma razão técnica que explica essas turbulências. O forte aumento dos rendimentos golpeou duramente os fundos de pensão britânicos, que operam alavancados e com derivativos dando títulos do governo como garantia. Esses fundos têm 1,5 trilhão de libras sob gestão. Mais da metade dos cerca de 2,3 trilhões de libras de dívida pública total do Reino Unido.

A tempestade sobre os títulos britânicos desencadeou as chamadas de margens. Ou seja, os pedidos de reposição das garantias pelas contrapartes em derivados. Isso forçou os fundos de pensão a vender tudo aquilo que podiam para levantar o dinheiro necessário e atender às demandas de liquidez, exasperando ainda mais o caos sobre os papéis do governo.

O que o Brasil pode aprender?

Em suma, o governo de Liz Truss anunciou uma manobra expansionista para sustentar a economia do Reino Unido. A intenção era boa, mas por causa da comunicação desajeitada e pelos efeitos colaterais que a nova primeira-ministra provavelmente não esperava, o resultado provavelmente será o oposto: uma crise econômica.

Seu pacote deixou os fundos de pensão de joelhos, além de criar fortes problemas ao mercado imobiliário por causa do aumento repentino das taxas de juros, que como efeito colateral travou a concessão de novos empréstimos hipotecários no Reino Unido. Sem contar o risco de disparada da inflação e de prejudicar a credibilidade do Banco da Inglaterra.

Uma lição válida também para o Brasil. Principalmente no que tange ao comportamento alinhado das políticas fiscal e monetária, que não podem ser em contraste uma com a outra. Em um mundo dominado pelo mercado financeiro, um movimento errado por parte de qualquer governo pode gerar o caos econômico. Mesmo uma potência como o Reino Unido

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Corte japonesa ordena que governo pague indenização por esterilizações forçadas

Por

Cerca de 25 mil japoneses foram vítimas de lei que tinha objetivo de “prevenir aumento dos descendentes inferiores”

 

Vista aérea de Tóquio
Getty Images

 

Numa decisão histórica, o Supremo Tribunal do Japão ordenou ao governo que pagasse indenizações às pessoas que foram esterilizadas à força ao abrigo de uma lei de eugenia agora extinta, decidindo que a prática era inconstitucional e violava os seus direitos.

A Lei de Proteção Eugênica, em vigor entre 1948 e 1996, permitiu às autoridades esterilizar à força pessoas com deficiência, incluindo aquelas com perturbações mentais, doenças hereditárias ou deformidades físicas e lepra. Também permitia abortos forçados se um dos pais tivesse essas condições.

A lei tinha como objetivo “prevenir o aumento dos descendentes inferiores do ponto de vista eugênico e também proteger a vida e a saúde da mãe”, segundo uma cópia da lei – que listava “notável desejo sexual anormal” e “notável inclinação clínica” entre as condições visadas.

Cerca de 25 mil pessoas foram esterilizadas sem consentimento durante esse período, de acordo com a decisão do tribunal, citando dados do ministério.

Embora o governo tenha oferecido compensar cada vítima em 3,2 milhões de ienes (cerca de US$ 19,8 mil) em 2019, ao abrigo de uma lei de assistência, as vítimas e os seus apoiadores argumentaram que isso estava longe de ser suficiente.

A decisão de quarta-feira (3) abordou cinco ações desse tipo, movidas por demandantes de todo o país em tribunais inferiores, que depois avançaram para a Suprema Corte.

Em quatro desses casos, os tribunais inferiores decidiram a favor dos demandantes – o que o Supremo Tribunal confirmou na quarta-feira, ordenando ao governo que pagasse 16,5 milhões de ienes (cerca de US$ 102 mil) aos atingidos e 2,2 milhões de ienes (US$13 mil) aos seus cônjuges.

No quinto caso, o tribunal de primeira instância decidiu contra os demandantes e rejeitou o caso, citando o prazo de prescrição de 20 anos. O Supremo Tribunal anulou esta decisão na quarta-feira, qualificando o estatuto de “inaceitável” e “extremamente contrário aos princípios de justiça e equidade”.

O caso agora é enviado de volta ao tribunal de primeira instância para determinar quanto o governo deve pagar.

“A intenção legislativa da antiga Lei de Proteção Eugênica não pode ser justificada à luz das condições sociais da época”, disse o juiz Saburo Tokura ao proferir a sentença, segundo a emissora pública NHK.

“A lei impõe um grave sacrifício sob a forma de perda da capacidade reprodutiva, o que é extremamente contrário ao espírito de respeito pela dignidade e personalidade individuais, e viola o artigo 13º da Constituição”, acrescentou – referindo-se ao direito de cada pessoa à vida, liberdade e a busca pela felicidade.

Após a decisão de quarta-feira, os manifestantes do fora do tribunal – homens e mulheres idosos, muitos em cadeiras de rodas – celebraram com os seus advogados e apoiadores, erguendo faixas onde se lia “vitória”.

Eles estão entre o total de 39 demandantes que entraram com ações judiciais nos últimos anos – seis deles morreram desde então, de acordo com a NHK, destacando a urgência desses casos à medida que as vítimas chegam aos seus anos finais.

Numa conferência de imprensa após a decisão do tribunal, o secretário-chefe do gabinete, Yoshimasa Hayashi, expressou o remorso e o pedido de desculpas do governo às vítimas, informou a NHK. O governo pagará prontamente a compensação e considerará outras medidas, como uma reunião entre os demandantes e o primeiro-ministro Fumio Kishida, disse ele.

Este conteúdo foi criado originalmente em inglês.

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Polícia desmobiliza protesto pró-Palestina no parlamento australiano

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Manifestantes carregavam faixa em que denunciavam Israel por crimes de guerra

 

Polícia desmantela protesto pró-Palestina no Parlamento Australiano
Reuters

 

Quatro manifestantes pró-Palestina foram levados sob custódia policial nesta quinta-feira (4) depois de escalarem o telhado do parlamento australiano em Canberra.

Os manifestantes, vestidos com roupas escuras, permaneceram no telhado do prédio por cerca de uma hora. Eles estenderam faixas pretas, incluindo uma que dizia “Do rio ao mar, a Palestina será livre”, um refrão comum dos manifestantes pró-Palestina, e entoaram slogans.

Os manifestantes empacotaram suas faixas antes de serem levados pela polícia que os aguardava por volta das 11h30, horário local.

CNN

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Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

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País se prepara para entrar em uma nova era política com provável derrota do grupo há 14 anos no comando

 

Reino Unido vai às urnas hoje em eleição que deve tirar Conservadores do poder

 

Os britânicos vão às urnas nesta quinta-feira (4) em uma votação histórica para eleger um novo parlamento e governo nas eleições gerais. Pesquisas atuais indicam que o atual primeiro-ministro Rishi Sunak, do Partido Conservador, vai perder, encerrando uma era de 14 anos do grupo no poder.

A eleição é um referendo sobre o tumultuado governo dos Conservadores, que estão no comando do Reino Unido desde 2010 e passaram por uma crise financeira global, o Brexit e a pandemia.

Se os Trabalhistas obtiverem 419 assentos ou mais, será o maior número de assentos já conquistados por um único partido, superando a vitória esmagadora de Tony Blair em 1997.

Como funcionam as eleições?

O parlamento britânico tem 650 assentos. Para ter maioria, é preciso conseguir 326 assentos.

Após uma campanha de semanas, as urnas serão abertas às 7h, no horário local, desta quinta-feira (3h, horário de Brasília), e permanecerão abertas até às 22h.

Os britânicos podem votar em cada um dos 650 distritos eleitorais do país, selecionando o candidato que representará a área.

O líder do partido que ganhar a maioria desses distritos eleitorais se torna primeiro-ministro e pode formar um governo.

Se não houver maioria, eles precisam procurar ajuda em outro lugar, governando como um governo minoritário — como Theresa May fez após um resultado acirrado em 2017 — ou formando uma coalizão, como David Cameron fez depois de 2010.

O monarca tem um papel importante, embora simbólico. O rei Charles III deve aprovar a formação de um governo, a decisão de realizar uma eleição e a dissolução do Parlamento. O rei nunca contradiz seu primeiro-ministro ou anula os resultados de uma eleição.

A votação antecipada desta quarta-feira (4) foi convocada por Sunak. O atual primeiro-ministro era obrigado a divulgar uma eleição até janeiro de 2025, mas a decisão de quando fazê-lo cabia somente a ele.

O evento, contudo, provavelmente inaugurará um governo de centro-esquerda liderado pelo ex-advogado, Keir Starmer.

Rei Charles recebe Rishi Sunak no Palácio de Buckingham / Reprodução/ Palácio Buckingham

Quem é Keir Starmer?

O rival de Rishi Sunak é o líder trabalhista Keir Starmer, que é amplamente favorito para se tornar o novo primeiro-ministro britânico.

Ex-advogado de direitos humanos muito respeitado que então atuou como o promotor mais sênior do Reino Unido, Starmer entrou na política tarde na vida.

Líder trabalhista Keir Starmer em Blackpool / 3/5/2024 REUTERS/Phil Noble

Starmer se tornou um parlamentar trabalhista em 2015 e menos de cinco anos depois era o líder do partido, após uma passagem como secretário do Brexit no Gabinete Paralelo durante a saída prolongada do Reino Unido da União Europeia.

O britânico herdou um partido que se recuperava de sua pior derrota eleitoral em gerações, mas priorizou uma reformulação da cultura, se desculpando publicamente por um escândalo de antissemitismo de longa data que manchou a posição do grupo com o público.

Starmer tentou reivindicar o centro político do Reino Unido e é descrito por seus apoiadores como um líder sério e de princípios. Mas seus oponentes, tanto na esquerda de seu próprio partido quanto na direita do espectro político, dizem que ele não tem carisma e ideias, e o acusam de não ter conseguido estabelecer uma visão ambiciosa e ampla para a nação.

Quando saíram os resultados?

Após a abertura das urnas nesta quinta-feira (3), a mídia britânica estará proibida de discutir qualquer coisa que possa afetar a votação.

Mas no momento que a votação acabar, uma pesquisa de boca de urna será divulgada e definirá o curso da noite. A pesquisa, feita pela Ipsos para a BBC, ITV e Sky, projeta a distribuição de assentos do novo parlamento, e historicamente tem sido muito precisa.

Os resultados reais são contados ao longo da noite; o escopo do resultado da noite geralmente fica claro por volta das 3 da manhã, horário local (23h, horário de Brasília), e o novo primeiro-ministro geralmente assume o cargo ao meio-dia.

Mas as coisas podem demorar mais se o resultado for apertado ou se as vagas principais forem decididas na reta final.

De qualquer forma, a transferência de poder acontecerá no fim de semana, dando ao novo governo algumas semanas para trabalhar em legislações importantes antes do recesso parlamentar de verão.

CNN

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