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Febre amarela: cientistas brasileiros criam tratamento inédito para doença

Em parceria com cientistas americanos, os pesquisadores usaram anticorpos para tratar a doença extremamente letal e contaram com investimento de R$ 30 milhões do “cyberativista” Pablo Lobo

Febre amarela: a pesquisa agora procura uma forma de viabilizar um testes em humanos (Wikimedia Commons/James Gatany)

Um grupo de cientistas brasileiros e americanos anunciou ontem os resultados dos primeiros testes de um tratamento experimental para a febre amarela, bancado por ativistas virtuais que lidam com criptomoedas. Usando anticorpos, os pesquisadores trataram a doença extremamente letal (para a qual existe vacina, mas não existe terapia) com sucesso em macacos resos e em hamsters.

O método, que consiste no uso de anticorpos monoclonais (unidades artificiais produzidas em série) para atacar o vírus, foi descrito em estudo preliminar divulgado na plataforma BiorXiv, ainda sem revisão independente. Liderados por Michael Ricciardi, da Universidade George Washington, os pesquisadores afirmam que os resultados qualificam o tratamento para testes clínicos em humanos.

No Brasil, o principal colaborador do projeto é o imunologista e infectologista Esper Kallás, da Faculdade de Medicina da USP.

Ele começou a estudar anticorpos para a febre amarela desde que o Brasil voltou a ter alguns surtos mais graves em 2016. Transmitida por mosquitos selvagens, a doença acomete vários órgãos e mata de 38% a 50% das vítimas.

“A febre amarela é muito agressiva. Quando macacos se infectam em laboratório, todos morrem”, conta o cientista. “Mas no nosso trabalho todos os macacos tratados sobreviveram. A gente conseguiu cortar a viremia, e a proteção deles foi de 100% contra o desenvolvimento de doença.”

Kallás e Ricciardi são sócios na empresa de biotecnologia Mabloc, criada por um grupo de cientistas com o intuito de desenvolver anticorpos monoclonais para doenças tropicais negligenciadas, como dengue e zica.

Tokens e crowdfunding

O desenvolvimento do tratamento de febre amarela anunciado agora foi um trabalho de ciência biomédica com financiamento diferenciado por não ter usado dinheiro de agências estatais de fomento nem da indústria farmacêutica. A abordagem usada foi um tipo de crowdfunding (financiamento coletivo), que usa tokens digitais, um recurso que serve como modo de regulação entre investidores e a biotech.

Os pesquisadores contaram com cerca de R$ 30 milhões levantados por meio desse arranjo sofisticado após parceria com outra startup, a Sthorm, fundada pelo ativista Pablo Lobo, expoente brasileiro do movimento “cypherpunk”. Atuante nas áreas de direito à privacidade e acesso à informação pública na internet, sua intenção entrando na área de pesquisa médica foi articular um modelo de fomento à ciência que deixasse o novo tratamento livre de patentes nos países em desenvolvimento.

A parceria no projeto que reuniu cientistas e cyberativistas começou em 2010, quando o filho de Lobo sofreu um caso grave de encefalite e foi tratado por Kallás.

“O Esper virou um grande amigo e começou a me contar tudo o que acontecia na ciência e no mercado de saúde, que é um terror”, conta Lobo. O ativista é crítico do modelo desenvolvimento padrão da pesquisa médica atual, que toma financiamento público na fase de pesquisa básica e gera um conhecimento que acaba sendo apropriado pelas empresas que desenvolvem os medicamentos na fase de aplicação.

“A Sthorm já existia como um movimento de ativismo de internet, liberdade de expressão, acesso a informação… nós somos mais uma célula rebelde do que uma empresa”, diz o ativista. “O que aconteceu é que depois de eu conhecer o Esper, toda essa história que eu tinha como um hobby acabou virando minha primeira atividade.”

Lobo conta que também se envolveu no financiamento de uma pesquisa da Mabloc para o desenvolvimento de anticorpos monoclonais contra Covid-19. Ele deve lançar em breve uma plataforma de investimento público e crowdfunding para ciência.

Testes em humanos

A pesquisa de febre amarela, que conseguiu vencer a fase pré-clinica de desenvolvimento, procura agora uma forma de viabilizar um testes em humanos.

“O grande obstáculo agora é mandar fazer o primeiro lote de anticorpos monoclonais em ambiente de boas práticas de manufatura para uso em humanos. Para eu contratar uma companhia que faça os testes e faça uma produção do primeiro lote experimental seriam cerca de US$ 14 milhões”, conta Kallás. “Há poucas empresas no mundo capazes de fazer esse tipo de coisa, nenhuma delas no Brasil.”

Os pesquisadores estão otimistas com a perspectiva clínica do medicamento, porém. Os anticorpos monoclonais podem ser administrados por um soro intravenoso, sem necessidade de grande infraestrutura hospitalar, e são adequados para uso em cidades pequenas perto de áreas florestadas, onde tipicamente ocorrem os surtos.

“Com o ensaio clínico, eu espero que seja muito fácil de provar que a terapia funciona. A mortalidade da febre amarela é tão alta que não seriam necessários muitos casos para observar”, diz Kallás.

Os cientistas estão se articulando agora para dar continuidade ao projeto. Se a terapia vingar, Lobo afirma que a ideia é licenciar a tecnologia por um preço “caro para os países ricos e barato para os pobres”.

“É uma operação bem Robin Hood, mesmo”, diz.

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Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos

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Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva

Joédson Alves/Agência Brasil

Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.

A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.

O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.

“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.

Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.

Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.

Agência o Globo

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Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta

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Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida

 

Plenário da Câmara dos Deputados durante a promulgação da reforma tributária ( Roque de Sá/Agência Senado)

 

Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.

Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.

Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.

“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.

Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.

Entenda o contexto

O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.

O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.

O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.

O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.

O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.

Agência o Globo

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Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias

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Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, durante entrevista após reunião na residência oficial da presidência do Senado em Brasília, em 25/05/2023 (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.

“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.

O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.

Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.

Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.

“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.

A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.

Agência Brasil

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