Brasil
Deputados querem mudar regras do IR. É para valer ou para eleitor ver?
Enquanto a reforma do IR está parada no Senado desde setembro do ano passado, propostas sobre tributação de rendimentos se acumulam na Câmara dos Deputados
Mesmo em ano eleitoral, deputados têm sugerido uma série de projetos de lei sobre assuntos polêmicos, como tributação de rendimentos. Enquanto a reforma do Imposto de Renda continua parada no Senado, foram apresentadas, só neste ano, pelo menos 15 propostas de mudanças nas regras do IR na Câmara. Elas se somam às centenas que estão em tramitação há anos sobre o assunto.
Boa parte desses projetos sugere aumentar o rol de deduções na declaração do IR de pessoas físicas. Deputados propõem que o contribuinte possa deduzir, por exemplo, despesas com veterinários, enfermeiros, nutricionistas, educadores físicos e com a compra de medicamentos, situações hoje fora da lista de possibilidades.
Na maioria dos textos, os parlamentares não detalham o custo dessas alterações, que resultariam na perda de arrecadação do governo federal. Alguns solicitam à Receita Federal que faça esse cálculo enquanto o mérito da matéria é discutido no Congresso. A Receita afirmou que ainda não analisou o assunto.
“É comum que apareçam essas propostas, inclusive em ano eleitoral, porque às vezes é mais importante para o candidato apresentar o tema à população do que aprovar. Pode servir de bandeira durante as eleições”, diz o cientista político André César, da Hold Assessoria Legislativa.
Na proposta que trata da dedução de despesas com nutricionistas e educadores físicos, o deputado Eduardo Bismarck (PDT-CE), autor da matéria, argumenta que não deve haver renúncia de receitas, porque a arrecadação da qual se abrirá mão será totalmente compensada com a redução de gastos com o Sistema Único de Saúde (SUS).
“Certamente, uma facilitação da utilização de serviços de saúde prestados por educadores físicos e nutricionistas promoverá o nível geral de saúde da população, particularmente por meio da prevenção de doenças crônicodegenerativas. Esse grupo de doenças está associado à maior parte da mortalidade em nosso país”, justifica Bismarck, no projeto.
Bismarck disse que apresentou o projeto por entender que a carga tributária é muito alta no país, principalmente para quem ganha menos, e que é preciso fazer ajustes. “Esse projeto tem a ver com a saúde, que já tem dedução com médicos. Tiraria muita gente da fila do SUS”, acredita. Ele lembrou, entretanto, que o texto ainda precisa passar por comissões na Câmara, o que pode levar um tempo. “Não vou pedir urgência porque acho que não cabe”, disse.
Dezenas de outros projetos já foram apresentados sobre temas parecidos no Congresso. Por isso, o de Bismarck foi apensado — ou seja, anexado para tramitar junto — a um que está na Câmara desde 2013, proposto pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) e já aprovado por comissão em decisão terminativa no Senado, sem a necessidade de passar pelo plenário.
O texto de Randolfe prevê que despesas com compra de livros técnicos e didáticos diretamente relacionados à profissão e à instrução do contribuinte ou dos dependentes poderão ser deduzidas da base de cálculo do Imposto de Renda, com limitações. Na Câmara, ele aguarda parecer do relator na Comissão de Finanças e Tributação (CFT), onde os cálculos devem ser apresentados.
Já no projeto que isenta do IRPF os rendimentos do trabalho recebidos por pessoas com câncer de mama, do deputado Carlos Jordy (PL-RJ), o custo é estimado em até 20 milhões de reais ao ano. O parlamentar ressalta, porém, que o cálculo da renúncia fiscal depende de vários fatores, porque não dá para prever o nível de renda de quem for acometido pela doença.
O projeto de Jordy foi apensado a outro, pronto para votação em plenário, que está na Câmara desde 2012 e insere o lúpus entre as doenças cujos portadores são beneficiados com a isenção do IR sobre os proventos de aposentadoria ou reforma motivada pela doença. Quase 100 projetos que tratam de assuntos parecidos tramitam em conjunto.
Outro texto, de autoria do deputado Capitão Fábio Abreu (PSD-PI), prevê que gastos com veterinários sejam deduzidos da declaração do IR. Vale para pagamentos, inclusive, de despesas com exames laboratoriais, serviços radiológicos e aparelhos ortopédicos dos animais. O projeto não traz estimativa de renúncia.
Já uma proposta do deputado Zé Vitor (PL-MG) permite a dedução de despesas com medicamentos e vacinas. “Entendemos que, ao permitir que o contribuinte deduza esses gastos na sua declaração anual de IRPF, reduzirá parcialmente o ônus do poder público em providenciar vacinas a toda a população”, diz a justificação do texto.
O deputado considera que parte da população já procurará a vacinação com fornecedores privados. A ideia, se o projeto for aprovado, é que ele entre em vigor em 2023 e que o governo inclua na proposta de Lei Orçamentária do ano que vem o impacto fiscal. O texto foi apensado a um PL de 2018, que aguarda parecer do relator na CFT.
Doações
Outros projetos preveem a dedução de valores doados a instituições que hoje não estão na lista da Receita Federal, como entidades oficiais sem fins lucrativos de proteção e defesa de animais. Hoje, a legislação tributária brasileira permite deduções para doações para fundos de crianças e adolescentes, para projetos culturais aprovados pelo Programa Nacional de Apoio à Cultura (Pronac), entre outros.
Em projeto que trata sobre esse assunto, a autora, deputada Norma Ayub (PP-ES), afirma que não são criados novos encargos para o Estado, já que as doações criadas compartilham limites com deduções já autorizadas. “Este projeto de lei não cria despesas novas, mas apenas permite uma realocação do limite de deduções já existentes”, explica.
A deputada aponta, porém, que o compartilhamento de receitas já renunciadas pode não ser considerado argumento suficiente para que o projeto esteja de acordo com a Lei de Responsabilidade Fiscal. Por isso, determina que o Poder Executivo federal estime o montante da renúncia fiscal.
O projeto de Norma Ayub foi apensado a outro que trata do mesmo assunto, apresentado no ano passado por Felipe Carreras (PSB-PE) e Dagoberto Nogueira (PDT-MS), e aguarda parecer do relator na Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (CMADS).
Reforma parada
Apesar dos vários projetos sobre o IR, poucos são os avanços reais no assunto. A reforma do Imposto de Renda, aprovada pela Câmara em setembro do ano passado, segue parada desde então no Senado, sem previsão de votação. O senador Angelo Coronel (PSD-BA), relator do texto na Casa, disse em dezembro que o projeto será arquivado.
Angelo Coronel defende que seja criada uma nova proposta. “Esse projeto não será somente arquivado, ele tem que ser extinto e que se nasça um novo projeto, com mais base, com mais conteúdo, um projeto bem debatido. Um projeto que venha realmente, eu não sei se agradar 100% do povo brasileiro, mas pelo menos que a grande maioria abrace”, comentou Coronel, durante evento promovido pela Associação Comercial de São Paulo.
O texto prevê mudanças muito mais expressivas e em outra direção, sem ampliar deduções. A reforma propõe, entre outros pontos, diminuir a tributação de empresas pelo IRPJ e criar uma cobrança sobre dividendos. Também corrige a tabela do IRPF, elevando o limite de isenção de 1,9 mil reais para 2,5 mil reais.
No início do mês, o ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmou que o governo reapresentará a proposta em 2023, caso o presidente Jair Bolsonaro seja reeleito. “A reforma é relativamente simples e foi obstaculizada. Lobbies vieram e paralisaram a reforma. Ela terá que ser feita e será feita”, afirmou, durante evento da Associação Comercial e Empresarial de Maringá.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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