Brasil
Escolas fechadas e comércio aberto: Covas precisa se explicar melhor
A prefeitura alega que reabrir as escolas pode criar novas ondas de contágio, e as escolas particulares partiram para a Justiça para poder reabrir
Agora é a vez de as escolas particulares entrarem em conflito com o prefeito de São Paulo, Bruno Covas. O governador João Doria havia autorizado, em setembro, a reabertura de todos os estabelecimentos de ensino (públicos e privados) no Estado para atividades de reforço e acolhimento. Covas, no entanto, vetou o assunto e os grupos particulares, através do sindicato patronal, partiram para uma briga na Justiça.
A prefeitura alega que reabrir as escolas pode criar novas ondas de contágio e contaminar pessoas que fazem parte do grupo de risco e moram com os alunos que voltariam a frequentar as unidades educacionais. A frase do prefeito é: “São duzentas e cinquenta mil crianças que moram muito provavelmente com avôs, avós, tios e tias com mais de 60 anos — e, portanto, podem agravar a disseminação da doença nessa faixa etária da população, que é a que tem o risco de maior vulnerabilidade”.
Esse tipo de situação, portanto, só poderá ser resolvida com a chegada da vacina contra o coronavírus, que não estará disponível durante esse ano letivo. Isso quer dizer que as autoridades municipais vão decretar ensino à distância durante todo o segundo semestre? Não necessariamente. Segundo Covas, a decisão poderá ser reavaliada em outubro.
“Ainda temos o horizonte de outubro. Teremos outro inquérito sorológico, com crianças da rede estadual e da rede privada. E também para toda a família. Queremos entender se as crianças já imunizadas são de famílias também imunizadas”, afirmou o prefeito. Dificilmente essa situação mudará em um mês. Os alunos que moram com representantes do grupo de risco vão continuar residindo nos mesmos lugares.
Das duas uma: ou Covas não vai reabrir as escolas e ficará neste chove não molha mensalmente ou vai retomar as aulas no mês que vem contradizendo o argumento dado no mês de agosto.
O prefeito também afirmou que “é muito mais complicado manter o distanciamento social dentro da sala de aula, dentro da escola do que em bares, restaurantes, supermercados, lojas, estabelecimentos já autorizados a retornar”. Lembremos que essa mesma explicação foi utilizada para manter os portões dos parques públicos fechados enquanto os dos shopping centers estavam abertos – para depois ser esquecida. Hoje, como se sabe, os parques públicos paulistanos estão abertos à população nos dias úteis (a desculpa para o fechamento aos finais de semana é justamente evitar aglomerações).
É possível detectar dois problemas na atitude do alcaide paulistano.
Um é a interferência direta no funcionamento de empresas privadas, como as escolas particulares. Mas, neste caso, pode-se relevar a postura de Covas. Em matéria de saúde pública, é melhor pecar pelo excesso do que pela falta.
A outra questão é relativa à fragilidade destes argumentos. Como o vírus continuará no ar e uma vacina surgirá somente depois de muitos meses, por que deixar expectativas para o mês de outubro? Se a intenção é preservar os integrantes do grupo de risco do convívio de crianças que podem se contaminar na escola, é melhor jogar aberto, afirmar que as escolas permanecerão cerradas pelo menos até o final do ano e aguentar a pressão de quem não concorda com a medida. O mesmo vale para a hipotética dificuldade de reprimir aglomerações escolares. De hoje a outubro, nada mudará nesse sentido.
Talvez o verdadeiro motivo para deixar as escolas fechadas seja outro. Uma pesquisa recente do Datafolha mostra que 79% dos entrevistados acreditam que o sistema de ensino deva continuar trancado. É ano de eleições. Some-se essas duas variáveis e teremos a real razão que move a atitude do prefeito.
A honestidade sempre se apresenta como o caminho correto. Seria preferível o prefeito admitir logo que as aulas não serão presenciais até o final de 2020 ou trabalhar melhor seus argumentos. O que ele não pode é deixar essa peteca no ar.
Enquanto a autoridade municipal tergiversa, crianças e adolescentes enfrentam a dura realidade de ficar isolados durante a pandemia. Uma pesquisa divulgada hoje pelo jornal Folha de S. Paulo aponta um crescimento significativo nos sentimentos de tristeza e ansiedade por parte dos jovens. Cerca de 77% dos jovens se sentem mais tristes, irritados ou sobrecarregados agora quando comparam seu comportamento no início do ano. São 50% os que consideram não estar evoluindo no aprendizado à distância e o risco de evasão escolar nos anos finais do ensino fundamental chega a 43 %.
Trata-se de um quadro dramático, que precisa também ser levado em consideração neste processo. Mas o prefeito prefere seguir o caminho fácil da demagogia sem admiti-lo publicamente. Afinal, o comércio pode abrir, mas as escolas não. No fundo, este episódio mostra que o PSDB continua na toada de sempre – ou seja, ficar em cima do muro mesmo que chova canivetes. Num mundo dominado pelas redes sociais, no qual todos defendem veementemente seus pontos de vista, os tucanos insistem em fingir que não são neutros e cheios de dedos quando se dirigem ao público. Até quando os eleitores vão engolir essa mise en scène?
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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