Brasil
É possível acelerar a validação de médicos com diploma estrangeiro?
Projeto de lei quer fazer o Revalida em até 30 dias; último exame foi realizado em 2017 e ainda não foi concluído. Prova prática é um dos obstáculos
Em meio à pandemia do coronavírus (causador da covid-19) no Brasil, a capacidade do corpo médico disponível conseguir atender à demanda crescente é um dos pontos de grande preocupação. Somente em São Paulo, 1.557 profissionais de saúde foram afastados por estarem com suspeita ou infectados pelo vírus.
Para colocar no mercado, segundo estimativas do governo, até 15 mil médicos, surgiu na Câmara dos Deputados um projeto, ainda sem data de votação, que pretende acelerar o processo do Exame Nacional de Revalidação de Diplomas Médicos Expedidos por Instituições de Educação Superior Estrangeira (Revalida).
O autor da proposta, o deputado Jorge Solla (PT-BA), explica que o objetivo do projeto é validar os diplomas em até 30 dias. “Estamos vivendo a maior crise sanitária mundial dos últimos 100 anos. Não vamos resolver em 30 dias, mas neste tempo vamos precisar desses profissionais”, disse o parlamentar .
O Revalida foi criado em 2009 e teve a primeira edição em 2011. O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) é o responsável pela aplicação do teste. Em 2017 foi realizada a última edição e o processo ainda não foi concluído.
No ano passado, foi aprovado no Congresso um projeto regulamentando o exame. O processo seria feito duas vezes por ano, uma em cada semestre, e em duas etapas: prova teórica e prática. O custo aproximado seria de 3.600 reais, pago pelo candidato.
O texto original dizia que universidades públicas e privadas poderiam aplicar os testes, mas a parte das instituições privadas foi vetado pelo presidente Jair Bolsonaro.
O deputado Solla sugere que o governo federal edite um novo chamamento do Mais Médicos e use o programa para avaliar a parte prática os profissionais, acelerando o Revalida. “A lei não impede que isso seja feito”, diz Solla. Ele ainda complementa que o projeto não gera custos ao governo, uma vez que quem paga pela prova é o profissional que quer validar o diploma.
Procurado , o Inep informou que “trabalha com a formação de banca de especialistas para escolha das questões e a definição do cronograma de aplicação do exame 2020”. Mas, por enquanto ainda não há previsão de quando o processo será feito.
Segunda fase mais demorada
Para alguns especialistas, fazer a prova teórica em até 30 dias é viável, o problema seria a prova prática.
Para o médico e professor do Centro Universitário Max Planck, em Indaiatuba (SP), Roberto Padilha, com uma força-tarefa seria possível fazer e corrigir a prova. “Temos capacidade e tecnologia para isso”, diz ele que atuou por mais de dez anos como diretor de ensino e pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, responsável pela prova de residência médica.
“A segunda fase não é possível fazer tão rápido. Ainda mais se estamos pensando em colocar os profissionais no combate ao coronavírus. Neste processo é necessário mobilizar muitos laboratórios com a finalidade de simular o ambiente de trabalho”, avalia Padilha.
Projeto no Senado
Paralelo ao texto da Câmara, há um projeto de lei no Senado que autoriza médicos brasileiros com diplomas estrangeiros a exercerem a profissão enquanto durar o estado de calamidade. A proposta, do senador Telmário Mota (PROS/RR), dispensa a revalidação.
A Associação Médica Brasileira emitiu nota contrária ao projeto. “O Brasil possui quase 500 mil médicos, que são verdadeiros guerreiros, à disposição e capacitados para combater a covid-19 de forma segura e ética“, diz o texto.
Países ‘brigam’ por médicos
No começo de abril, o Departamento de Estado dos Estados Unidos emitiu um comunicado dando urgência à emissão de vistos de trabalho para médicos estrangeiros.
A norma estabelece que pedidos já aprovados mas que ainda dependem da entrevista consular, devem ser agilizados por conta da pandemia do coronavírus. Todas as entrevistas em consulados e embaixadas estão suspensos e só são feitas em casos de emergência.
Já o governo francês aceitou a ajuda de médicos cubanos para suprir a falta de profissionais nos territórios ultramarinos. Segundo a RFI, eles vão atuar nas ilhas de Martinica, Guadalupe, Saint-Pierre e Miquelon, além da Guiana Francesa. A Itália, um dos países com maior número de casos no mundo, também já aceitou a ajuda de médicos cubanos.
Na Inglaterra, centenas de refugiados pediram ao parlamento que autorize os profissionais a exercerem a medicina. Muitos deles, oriundos da Ásia e da África, têm experiências em pandemias.
Em entrevista ao The Guardian, o secretário de Estado da Saúde Matt Hancock disse que vai avaliar o ingresso dos médicos no NHS (o sistema público de saúde inglês) durante a crise sanitária.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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