Brasil
USP, Unesp e Unicamp sofrem corte de bolsas de mestrado e doutorado
Universidades paulistas são as três instituições do País que mais produzem conhecimento científico
A Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual Paulista (Unesp) e a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) afirmam que o governo federal cortou bolsas novas de mestrado e doutorado que estariam sem utilização por apenas 15 dias.
O critério de corte de bolsas chamadas “ociosas” foi um dos divulgados pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC), para justificar a medida. As instituições alegam, no entanto, que as bolsas já estavam previstas para 2019 para os programas de pós-graduação e aguardavam apenas a seleção dos candidatos que iriam utilizá-las.
O jornal O Estado de S. Paulo adiantou que o contingenciamento de R$ 7,4 bilhões do MEC iria afetar as bolsas de mestrado e doutorado. O bloqueio de verbas na pasta atingiu todas as áreas da educação, do ensino infantil à pós-graduação.
O sistema ficou fechado nos primeiros dias de maio e abriu apenas hoje, quando as universidades tentaram então cadastrar seus alunos para receber as bolsas já previstas. Todo ano, os programas de pesquisa contam com uma quantidade de bolsas, de acordo com critério da própria Capes, que são consideradas no planejamento e dão segurança sobre quantos estudantes podem vir a participar de seus cursos de mestrado e doutorado.
Quando um aluno finaliza o curso, essa bolsa, no ano seguinte, é passada para um colega. Foram justamente as bolsas que ficaram vagas em abril que não mais puderam ser preenchidas em maio, por causa do corte da Capes que as considerou “ociosas”.
Questionada, a Capes não informou qual é o critério para definir que uma bolsa está ociosa.
As universidades paulistas são as três instituições do País que mais produzem conhecimento científico, segundo o relatório Web of Science, feito pela Clarivate Analytics, uma das mais prestigiadas equipes de análises de dados científicos do mundo. Juntas, elas são responsáveis por 33,8% dos papers publicados pelo Brasil.
“As universidades foram pegas de surpresa com o recolhimento de bolsas chamadas “ociosas”. Nenhum comunicado foi feito às instituições”, afirmou em nota a pró-reitora de Pós-Graduação da Unicamp. Segundo a instituição, a estimativa inicial é de que cerca de 40 bolsas foram cortadas. “Mas já há inúmeros relatos que dão conta da insensatez da medida, dado que em muitos casos estava-se justamente buscando atribuir a bolsa ao aluno e o sistema não permitia.”
Para o pró-reitor de Pós-graduação da USP, Carlos Gilberto Carlotti Junior, o momento é de “preocupação”. “Mas é importante que aguardemos novas informações e continuemos nossas atividades para termos uma pós-graduação de excelência na USP com o apoio da Capes”, afirmou.
A Unesp informou ter registrado cortes em praticamente todos os seus programas de pós-graduação, mas que ainda dimensiona o número total de bolsas cortadas. “Os coordenadores do programa estão me pedindo ajuda, pois se sentem responsáveis pelos estudantes que tiveram as bolsas cortadas. São pessoas que pediram demissão do emprego, deixaram de lado outros compromissos e se programaram para estudar contando com o recurso. Ainda não temos a real dimensão dos prejuízos que os cortes causaram, mas a situação é caótica”, disse a professora Telma Teresinha Berchielli, pró-reitora de pós-graduação da instituição.
Telma contou que uma das bolsas do Programa de Alimentos e Nutrição da Faculdade de Ciências Farmacêuticas, do câmpus de Araraquara, já estava destinada para um estudante de Moçambique. O jovem saiu de seu país, pediu demissão do emprego com a garantia de que teria o auxílio da bolsa para estudar.
Federais
As universidades federais também tiveram bolsas cortadas pela Capes. Há relatos de bolsas suspensas em ao menos mais seis Estados, além de São Paulo. Instituições do Pará, Bahia, Ceará, Goiás, Minas Gerais e Paraná já identificaram a perda.
Reitor da Universidade Federal do Pará (UFPA) e integrante da Andifes (associação de reitores das universidades federais), Emmanuel Tourinho, considera que a medida é uma “tragédia para a ciência” do País. “Não existe bolsa ociosa na pós-graduação, porque temos muito mais alunos do que bolsas disponíveis. Dados do Sistema Nacional de Pós-Graduação mostram que apenas 1/3 dos alunos dos alunos da pós tem bolsa. O processo para registrar novos alunos tinha acabado de ser aberto e nós temos uma lista de espera para elas”, disse.
A Capes informou, em nota, que “nenhum bolsista já cadastrado nos sistemas de concessão foi retirado”. E que não há ainda o número exato das bolsas ociosas recolhidas. As universidades confirmam que apenas bolsas novas foram atingidas.
A Capes sofreu um bloqueio de R$ 819 milhões, 19% do orçamento autorizado inicialmente. Na rubrica de bolsas de estudo (nacionais e internacionais; mestrado e doutorado) o contingenciamento é um pouco maior, 23% dos R$ 1,85 bilhão reservados. Procurado, o órgão não quis confirmar quanto do valor foi bloqueado pelo MEC.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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