Brasil
8 de março: governo patina para implementar políticas voltadas a mulheres anunciadas há um ano
Efeitos da igualdade salarial ainda não puderem ser verificados, e distribuição de absorventes no SUS e retomada de obras caminham a passos lentos
O governo federal ainda patina para implementar as principais políticas anunciadas no Dia Internacional da Mulher no ano passado. Entre elas estão o decreto regulamentando a lei que determina igualdade salarial com homens na mesma função, a cota de 8% de vagas para vítimas de violência em contratações públicas e a construção de 40 unidades da Casa da Mulher Brasileira.
Outras medidas anunciadas na ocasião foram levadas adiante a passos lentos. Um dos exemplos é a distribuição gratuita de absorventes no SUS, principal ação na área da saúde.
Assinado por Lula há exatamente um ano, o decreto da dignidade menstrual começou a ser posto em prática somente em janeiro deste ano, com a distribuição do item em escolas públicas, unidades de saúde e na Farmácia Popular. A política também beneficia transgêneros, e a expectativa é alcançar 24 milhões de pessoas.
Em paralelo, ainda não é possível identificar se a regulamentação da igualdade salarial entre homens e mulheres que tenham a mesma função surtiu o efeito desejado. Atualmente, o governo aguarda que empresas com mais de 100 funcionários forneçam as informações para o primeiro Relatório de Transparência Salarial e de Critérios Remuneratórios, com prazo até hoje. A partir desses dados, haverá a verificação da existência de diferenças salariais.
O primeiro ano do terceiro mandato foi marcado também por demissões de mulheres do primeiro escalão. Em movimentos para atender ao Centrão, Ana Moser deu lugar a André Fufuca no Ministério do Esporte, e Daniela Carneiro foi demitida para Celso Sabino assumir o Turismo.
Obras ainda paradas
Outro anúncio que ainda não saiu do papel foi a retomada das obras de 1.189 creches que estavam paralisadas. Segundo o Ministério da Educação, a conclusão dessas construções precisa passar por etapas burocráticas para, de fato, serem repactuadas.
O MEC argumenta que a construção das creches integra o Pacto Nacional de Retomada de Obras Paralisadas e Inacabadas da Educação Básica e Profissionalizante, sancionado por Lula em novembro de 2023. “Somente a partir dessa data, o FNDE ficou autorizado a retomar as ações”, disse a pasta.
O governo também se esforça para implementar a cota de 8% para mulheres vítimas de violência em contratações públicas na administração federal direta, autarquias e fundações, segundo afirmou a ministra das Mulheres, Cida Gonçalves, nesta semana, no programa “Bom Dia, Ministro”, da TV Brasil:
— Estamos trabalhando no sentido de garantir a implementação de duas leis que, para nós, são importantes. Uma, que instituímos no ano passado, dos 5% das vagas do Sine (Sistema Nacional de Emprego) serem para mulheres em situação de violência. E a dos 8% no caso dos serviços terceirizados do governo federal.
Segurança ainda no papel
Na área da segurança, a principal ação anunciada no último Dia das Mulheres foi a construção de 40 novas unidades do programa Casa da Mulher Brasileira, espaço que reúne serviços de assistência às vítimas de violência doméstica. O governo tem até o final da gestão Lula, em 2026, para finalizar as obras, mas apenas uma casa foi construída até o momento. O Ministério da Justiça já liberou R$250 milhões para essa ação.
Hoje, a Casa da Mulher Brasileira está espalhada em oito cidades: Campo Grande (MS), Curitiba (PR), Fortaleza (CE), São Paulo (SP), Boa Vista (RR), Ceilândia (DF), São Luís (MA) e Salvador (BA), a última capital a receber uma unidade do programa, em dezembro de 2023. A Justiça afirmou que assinou um acordo de cooperação com o Ministério das Mulheres, a quem cabe executar o programa. A pasta das Mulheres não respondeu.
Uma outra promessa foi a entrega de 270 viaturas para o fortalecimento das patrulhas Maria da Penha, ação executada em março do ano passado pelo governo federal.
Dia Marielle Franco
Enviado para o Congresso no dia 13 de março e anunciado no último Dia Internacional da Mulher, o projeto de lei que cria o Dia Nacional Merielle Franco ainda aguarda aprovação pelos deputados federais. A última movimentação do texto foi em junho, quando foi apensado ao projeto que institui o Dia Nacional das Defensoras e Defensores de Direitos Humanos.
Marielle Franco e seu motorista Anderson Gomes foram executados em 14 de março de 2018, data escolhida pelo governo para a homenagem. Marielle é irmã da atual ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco.
Ações na cultura e no esporte
Na Cultura, o ministério comandado por Margareth Menezes lançou em maio o edital Ruth de Souza de Audiovisual, que prevê suporte a projetos de cineastas brasileiras para realização do primeiro longa-metragem — o programa está orçado em R$ 36 milhões. A pasta disse que selecionou 18 candidatas e que 50% das produções serão dirigidas por mulheres negras e indígenas. O ministério também selecionou 73 escritoras para o Prêmio Carolina Maria de Jesus, e aumentou o recurso inicial de recurso inicial de R$2 milhões para R$3 milhões. As duas medidas faziam parte das principais ações anunciadas por Lula no ano passado.
Na data, Lula também assinou um decreto que determina a licença-maternidade para integrantes do programa bolsa-atleta. Segundo o Ministério dos Esportes, a medida beneficiou 17 atletas grávidas que continuaram a receber as parcelas da bolsa durante o período de gestação.
Brasil
Taxa de desmatamento no Cerrado cai pela primeira vez em 4 anos
Dados são do sistema Deter, do Inpe, e foram anunciados pela ministra Marina Silva
Os alertas de desmatamento no Cerrado caíram pela primeira vez desde 2020 no primeiro semestre deste ano. As informações são do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), e foram divulgadas nesta quarta-feira pela ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
A área total desmatada de janeiro a junho de 2024 foi de 3.724 quilômetros quadrados. Esse índice vinha numa tendência de alta desde 2020, atingindo o ápice no primeiro semestre de 2023 – 4.395 – já durante a gestão do governo Lula. De 2023 a 2024, a a redução computada foi de 15%.
A ministra Marina Silva afirmou que os dados são um resultado do plano de combate ao desmatamento lançado em novembro do ano passado e da articulação do governo feita junto aos governadores da região. Em março, ela participou junto com outros ministros de uma reunião com os chefes dos Estados para tratar sobre estratégias de prevenir a devastação no Palácio do Planalto.
O corte da flora no Cerrado ocorre sobretudo nos Estados de Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia – área conhecida como Matopiba – e em mais de 40% dos casos tinha autorização dos governos estaduais.
“Esse é o primeiro número de redução consistente no cerrado, enquanto se consolida a tendência de queda no desmatamento da Amazônia”, disse o secretário-executivo da pasta, João Paulo Capobianco.
Considerados os maiores biomas do país, o Cerrado e a Amazônia somam mais de 85% da área desmatada no último ano, segundo estudo do MapBiomas. Em 2023, Cerrado superou pela primeira vez a Amazônia no tamanho de área desmatada – 1,11 milhão de hectares de vegetação nativa perdidos, o que equivalia a 68% de alta em comparação com 2022.
Os alertas de desmatamento na Amazônia tiveram uma queda de 38% no primeiro semestre em comparação com 2023. Foram 1.639 quilômetros quadrados de área derrubada – o menor índice em sete anos.
Agência o Globo
Brasil
Deputados apresentam texto de regulamentação da reforma tributária nesta quinta
Carnes na cesta básica, armas e carros elétricos no imposto seletivo ainda são dúvida
Os deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária apresentam nesta quinta-feira, a partir das 10h, o parecer do primeiro projeto de lei que regulamentará a reforma tributária. O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), afirmou nesta quarta-feira que a votação do texto em plenário deve ocorrer na próxima semana.
Entre os pontos polêmicos com expectativa de acréscimo ao relatório estão: a inclusão das carnes na cesta básica, além da inclusão no imposto seletivo de itens como armas, carros elétricos e jogos de azar.
Lira indicou dificuldades para a inclusão da carne in natura na cesta básica de alimentos, com alíquota zero, como defendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e defendido pelos deputados do GT. O presidente da Casa argumentou que a inclusão pode gerar impacto na alíquota padrão de referência. O Ministério da Fazenda previa que a taxa poderia subir de 26,5% para 27% com a adição.
“Nunca houve proteína na cesta básica. Mas, temos que ver quanto essa inclusão vai impactar na alíquota que todo mundo vai pagar”, afirmou Lira.
Para os parlamentares, porém, o aumento de itens no imposto seletivo poderá compensar a perda de carga tributária e garantir uma alíquota mais baixa. Os deputados chegam a prever um imposto de até 25%, a partir de 2033, quando todos os cinco impostos sobre consumo serão extintos.
Entenda o contexto
O primeiro texto da regulamentação da Reforma Tributária detalha a implementação do IBS (Imposto sobre Bens e Serviços) e CBS (Contribuição sobre Bens e Serviços), que juntos formaram o IVA (Imposto sobre Valor Agregado). O tributo vai substituir cinco impostos que recaem sobre consumo hoje: PIS, Cofins, IPI, ICMS, ISS.
O atual texto de regulamentação da reforma tributária prevê que diferentes itens tenham a mesma alíquota padrão de imposto, como armas, munições, fraldas infantis, perfumes e roupas. Nenhum dos ítens estão na alíquota reduzida ou em regimes especiais. A proposta de regulamentação, porém, ainda será modificada por deputados do grupo de trabalho da Reforma Tributária.
O segundo texto, que deve ser apresentado nesta quinta-feira ao presidente Lira, trará os detalhes do funcionamento do Comitê Gestor, órgão que irá recolher e redistribuir o IBS a estados e municípios.
O IVA vai incidir no momento de cada compra, a chamada cobrança no destino. Hoje, os impostos recaem sobre os produtos na origem, ou seja, desde a fabricação até a venda final. Essa modalidade leva a um acúmulo das taxas ao longo da cadeia produtiva, deixando o produto mais caro.
O valor padrão do IVA ainda será definido e deve ser descoberto apenas um ano antes de cada etapa de transição. A transição entre sistemas começa em 2026, com a cobrança de apenas 1% de IVA. O valor vai aumentando ao longo dos anos seguintes, até chegar em 2033, quando todos os impostos sobre consumo serão extintos, e sobrará apenas o IVA. O valor cheio será definido em resolução do Senado Federal, que também determinará qual parcela cada ao CBS e qual será de IBS.
Agência o Globo
Brasil
Haddad anuncia cortes de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias
Ministro diz que determinação de Lula é cumprir arcabouço fiscal
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, anunciou na noite desta quarta-feira (3), após se reunir com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no Palácio do Planalto, que o governo prepara um corte de R$ 25,9 bilhões em despesas obrigatórias que abrangem diversos ministérios, para o projeto de lei orçamentária de 2025, que será apresentado em agosto ao Congresso Nacional. O corte ainda poderá ser parcialmente antecipado em contingenciamentos e bloqueios no orçamento deste ano.
“Nós já identificamos e o presidente autorizou levar à frente, [o valor de] R$ 25,9 bilhões de despesas obrigatórias, que vão ser cortadas depois que os ministérios afetados sejam comunicados do limite que vai ser dado para a elaboração do Orçamento 2025. Isso foi feito com as equipes dos ministérios, isso não é um número arbitrário. É um número que foi levantado, linha a linha do orçamento, daquilo que não se coaduna com os programas sociais que foram criados, para o ano que vem”, disse o ministro em declaração a jornalistas após a reunião.
O levantamento dos programas e benefícios que serão cortados foi realizado desde março entre as equipes dos ministérios da área fim e as pastas do Planejamento e da Fazenda. Além disso, bloqueios e contingenciamentos do orçamento atual serão anunciados ainda este mês, “que serão suficientes para o cumprimento do arcabouço fiscal”, reforçou o ministro.
Essas informações serão detalhadas na apresentação do próximo Relatório de Despesas e Receitas, no dia 22 de julho. “Isso [bloqueio] está definido, vamos ter a ordem de grandeza nos próximos dias, assim que a Receita Federal terminar seu trabalho”.
Haddad reforçou que o governo está empenhado, “a todo custo”, em cumprir os limites da lei que criou o arcabouço fiscal.
“A primeira coisa que o presidente determinou é que cumpra-se o arcabouço fiscal. Essa lei complementar foi aprovada no ano passado, a iniciativa foi do governo, com a participação de todos os ministros. Portanto, não se discute isso. Inclusive, ela se integra à Lei de Responsabilidade Fiscal. São leis que regulam as finanças públicas do Brasil e elas serão cumpridas”, destacou o ministro da Fazenda.
A declarações de Fernando Haddad ocorrem um dia depois de o dólar disparar frente ao real, na maior alta em cerca de um ano e meio, no contexto de alta das taxas de juros nos Estados Unidos e também das críticas recentes do presidente brasileiro ao presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ao longo desta quarta, com novas manifestações de Haddad e do próprio presidente Lula, houve uma redução do nervosismo no mercado financeiro e o dólar baixou para R$ 5,56, revertendo uma cotação que chegou a encostar em R$ 5,70 no pregão anterior.
Agência Brasil
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